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Justiça da Bolívia ordena que vice substitua governador opositor preso há um ano

Luis Fernando Camacho segue despachando da prisão, onde está detido por suposto golpe contra Evo Morales em 2019

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La Paz | AFP

A Justiça da Bolívia determinou que o líder opositor Luis Fernando Camacho, preso há um ano por um processo relacionado à queda de Evo Morales em 2019, seja substituído pelo seu vice no comando do departamento de Santa Cruz, de acordo com uma decisão divulgada nesta terça-feira (2).

O governo, ainda sob Camacho apesar de sua prisão, anunciou que não acatará a decisão.

O Tribunal Constitucional do país decidiu que "o vice-governador [Mario Aguilera deve] assumir imediatamente a suplência temporária no cargo de Governador do Governo Autônomo Departamental de Santa Cruz" enquanto "dure o impredimento do governador titular", em uma sentença com data de 29 de dezembro, mas divulgada nesta terça.

Luis Fernando Camacho, empresário e governador do departamento de Santa Cruz, na Bolívia, durante protestos qwue culminaram na renúncia de Evo Morales, em 2019
Luis Fernando Camacho, empresário e governador do departamento de Santa Cruz, na Bolívia, durante protestos qwue culminaram na renúncia de Evo Morales, em 2019 - Carlos Garcia Rawlins - 10.nov.2019/Reuters

"O governador não está impedido de exercer o cargo", afirmou o assessor jurídico do governo, Efraín Suárez, argumentando que, de acordo com a lei local, a prisão preventiva não é motivo para substituição do governador.

A decisão é "um golpe à democracia e um golpe ao voto do povo cruceño", acrescentou Suárez, referindo-se aos habitantes de Santa Cruz, um dos departamentos com maior PIB do país.

Camacho não se pronunciou sobre a determinação da Justiça.

Empresário de 45 anos e eleito governador de Santa Cruz, bastião da oposição de direita, o político foi preso no dia 28 de dezembro de 2022 após ser acusado de terrorismo e envolvimento na promoção de suposto golpe de Estado contra o então presidente Evo Morales, que governou a Bolívia de 2006 a 2019, quando renunciou em meio a pressões da oposição, dos militares e de intensos protestos pelo país.

Na ocasião, ele fora condenado a quatro meses de prisão preventiva sob a alegação de que poderia fugir do país ou obstruir investigações.

Da prisão de segurança máxima de Chonchocoro, nos Andes bolivianos, Camacho continuou exercendo suas funções como governador com a ajuda de seus funcionários, que levam documentos para ele assinar do cárcere.

O governo de Santa Cruz e a Assembleia Legislativa regional seguiram reconhecendo o político como a autoridade máxima do departamento.

O partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) pediu ao Tribunal Constitucional em fevereiro de 2023 que o vice-governador Aguilera assumisse o cargo. Camacho e Aguilera foram eleitos juntos nas eleições de 2020, mas se distanciaram politicamente com o tempo.

O governador ainda aguarda o início de seu julgamento. O Ministério Público pede até 20 anos por crimes de financiamento ao terrorismo e outros supostamente cometidos com o objetivo de provocar a renúncia de Morales em 2019.

O opositor sempre argumentou que foi uma revolta popular nas ruas que forçou Morales a renunciar, acusando-o de fraude eleitoral naquele ano para se manter no poder até 2025.

Na ocasião de sua prisão, Evo afirmou quarta que esperava que a detenção de Camacho trouxesse justiça depois de três anos de sua renúncia e fuga do país. "Ele responderá pelo golpe de Estado que levou a roubos, perseguições, prisões e massacres do governo de fato", publicou à época o esquerdista nas redes sociais.

Já o ex-presidente Carlos Mesa, aliado de Camacho que concorreu nas eleições de 2019, disse à Reuters naquele momento que o caso resultou de "uma monumental fraude eleitoral realizada por Evo" e que a acusação de terrorismo "não fazia sentido".

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