Lula se reúne com chanceler chinês a portas fechadas em Fortaleza

Antes, chefe da diplomacia do país asiático esteve no Itamaraty, que reiterou posição contra independência de Taiwan

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu nesta sexta-feira (19) com o chefe da diplomacia da China, Wang Yi, em Fortaleza, para discutir a conjuntura internacional, parcerias entre os países e ações conjuntas na África, de acordo com o Palácio do Planalto.

Segundo uma nota divulgada pelo governo, Wang Yi afirmou que o Brasil é uma prioridade para a diplomacia chinesa e, no encontro, Lula reafirmou a posição brasileira de reconhecimento da existência de "uma só China". A reunião se deu a portas fechadas.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fala ao lado do chanceler da China, Wang Yi, após encontro dos dois no Palácio do Itamaraty, em Brasília
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fala ao lado do chanceler da China, Wang Yi, após encontro dos dois no Palácio do Itamaraty, em Brasília - Sergio Lima - 19.jan.2024/AFP

O encontro, que durou cerca de 50 minutos, ocorreu na Base Aérea de Fortaleza a partir das 17h. Antes, Lula tinha participado, ao lado de seu ministro da Educação, Camilo Santana (PT), de uma cerimônia no mesmo local celebrando o início da construção do primeiro campus avançado do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).

O chanceler chinês partiria em seguida para a Jamaica, na última parada de uma turnê que iniciou pelo continente africano uma semana atrás. A visita ao Brasil antecede a vinda do dirigente chinês, Xi Jinping, marcada para o final do ano.

Antes de voar para o Nordeste, Wang já tinha se reunido com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em Brasília. Na ocasião, o Brasil reiterou sua posição favorável à política de "uma só China" e contrária à independência de Taiwan, ilha que Pequim considera uma província rebelde e parte inseparável de seu território.

A ilha elegeu no último fim de semana um presidente ainda mais antirregime. Wang, aliás, foi o autor de uma das falas mais duras em relação às ambições separatistas de Taipé durante a votação. Do Egito, onde encontrou-se com o ditador Abdel Fattah al-Sisi, disse que Taiwan nunca foi um país: "Não foi no passado e certamente não será no futuro".

O pleito contribuiu para aumentar as tensões no estreito que separa o território do continente. Nesta semana, por exemplo, o Ministério de Defesa taiwanês afirmou ter detectado pelo menos 24 jatos da Força Aérea chinesa realizando exercícios em conjunto com navios de guerra ao redor da ilha. Atividades militares do tipo têm sido recorrentes, mas esta ganhou novo peso por ser a primeira em larga escala depois da eleição.

Além da questão de Taiwan, a declaração conjunta dos chanceleres afirmou que sua conversa abordou ainda os dois conflitos de proporções globais hoje em curso —a Guerra da Ucrânia e os enfrentamentos entre Israel e Hamas—, e inclui a assinatura de um acordo de extensão da validade de vistos para viagens entre as duas nações de cinco para dez anos, visando a incentivar os negócios e o turismo.

A visita de Wang ao Brasil acontece quase um ano após Lula, então acompanhado de uma grande comitiva, ir à China e reunir-se com Xi. Na ocasião, seu objetivo era remendar os laços com Pequim após as rusgas entre os dois países durante os anos Jair Bolsonaro (PL).

Interlocutores no Planalto afirmam que a gestão petista pretende elevar os elos entre Brasil e China a "outro patamar", e dizem acreditar que há a mesma disposição do lado de Pequim —a inclusão de Brasília no primeiro circuito internacional de Wang este ano seria sinal disso.

Na reunião com Vieira, o chinês afirmou que Xi deve viajar ao Brasil em novembro para reunião da cúpula do G20, no Rio de Janeiro. O Brasil ocupa a presidência rotativa do grupo neste ano e deve aproveitar a ocasião para colocar em pauta sua agenda de reformas da governança global, em particular de instituições econômicas como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Nesse contexto de reformas está o papel do Brics, grupo inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e recém-expandido, na geopolítica mundial, algo que interessa a Pequim. Na viagem que fez ao país asiático no ano passado, Lula voltou a defender que a moeda chinesa seja utilizada com mais frequência em trocas internacionais.

A aproximação entre o governo brasileiro e Pequim tem incomodado os Estados Unidos, cuja interação com a China segue deteriorada em meio a desconfianças de lado a lado, disputas tecnológicas e o apoio americano a Taiwan —apesar de Washington não ter laços diplomáticos com Taipé, uma vez que isso impediria relações oficiais com Pequim, os americanos representam o maior aliado ocidental da ilha, além de seu principal fornecedor de armas.

Congressistas de peso dos EUA viajarão ao território na prática independente nas próximas semanas em demonstração de apoio ao presidente eleito, Lai Ching-te. Entre os presentes estará, por exemplo, Mike Gallagher, influente republicano que preside o comitê bipartidário para a China na Câmara dos Deputados.

O regime chinês criticou a notícia, argumentando que as visitas diluem o reconhecimento do princípio de "uma só China" por parte dos EUA. A embaixada do país asiático em Washington disse que Pequim "se opõe firmemente a qualquer forma de interação oficial entre os EUA e Taiwan e a qualquer interferência deles nos assuntos de Taiwan, sob qualquer pretexto".

Com Beatriz Jucá, de Fortaleza

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