Descrição de chapéu China

Por que clima bélico entre China e Taiwan deve ser o novo normal na Ásia

Edição da newsletter China, terra do meio explica tensão constante na ilha

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Igor Patrick
Washington

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Exercícios militares chineses de média ou grande escala no entorno de Taiwan se tornarão o novo normal? Há especialistas apontando que sim.

O estreitamento cada vez mais amplo das relações da ilha com os Estados Unidos têm escalado a tensa relação no Estreito de Taiwan.

Nesta semana, Pequim coordenou uma série de exercícios militares no entorno da região que considera uma província separatista para expressar desacordo com o encontro entre o presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarty, e a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.

  • O treinamento envolveu a simulação de bloqueio aéreo e marítimo da ilha, com um porta-aviões e caças carregando munição de verdade;
  • Militares trabalharam ao longo de três dias sob "condições reais de combate", segundo Pequim.

Autoridades chineses divulgaram que a ação foi para enviar "uma advertência séria contra o conluio e a provocação das correntes separatistas de independência de Taiwan com forças externas", uma clara referência aos americanos.

O movimento repete o que os chineses já tinham feito no ano passado, quando a visita de Nancy Pelosi foi interpretada como ato de provocação deliberada por Washington.

A diferença agora é que, finalizados os exercícios, Pequim manteve embarcações na área, apoiadas por vários aviões de guerra. Segundo o Ministério da Defesa taiwanês, militares identificaram ao menos 8 navios posicionados próximos da ilha e 35 caças em seu espaço aéreo.
Frotas de guerra chinesas têm sido cada vez mais comuns no cruzamento da linha imaginária que separa o continente da ilha.

  • Em janeiro, o Exército da Libertação Popular chinês já tinha enviado 57 aviões para a região, sendo que 23 atravessaram a fronteira ao longo de exercícios que duraram vários dias;
  • Em novembro de 2022, 63 aviões e 4 embarcações militares chineses foram detectados.

Sobre a permanecia militar na região. o chanceler taiwanês, Joseph Wu, afirmou à CNN que "eles [chineses continentais] parecem estar se preparando para iniciar uma guerra contra Taiwan".

"O governo taiwanês vê a ameaça [representada pelo exército chinês] como algo que não pode ser aceito (...). Os líderes chineses terão que pensar duas vezes antes de decidirem usar a força contra Taiwan", declarou.

Por que importa: não é interesse de Pequim iniciar uma guerra pela retomada violenta de Taiwan neste momento. As forças militares chinesas podem até ter treinado milhares de vezes e certamente têm um plano detalhado do que fazer em uma operação do tipo, mas não enfrentam um inimigo no mundo real desde 1979.

A questão de Taiwan desperta as paixões em todo o espectro do campo ideológico na sociedade civil chinesa, e ignorar o apoio americano a ímpetos separatistas taiwaneses seria uma sentença de morte para qualquer político da China.

A tendência é que este seja o novo normal na ilha; quase sempre cercada por aviões e embarcações de guerra que pressionam ou relaxam a ameaça militar a depender do momento geopolítico. O risco é algum estranhamento acidental desencadear um conflito maior.

o que também importa

Lula assinou acordos com Xi e afirmou que ninguém proibirá Brasil de aprimorar elo com China. Em Pequim, o presidente do Brasil firmou memorandos de entendimento entre o ministério chinês das Finanças e a Fazenda, para infraestrutura e parcerias público-privadas, e um protocolo para fabricar e operar satélites CBERS-6. Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore a sua relação com a China", disse o brasileiro. O enviado da Folha Nelson de Sá relata os detalhes do encontro aqui.

Uma mulher chinesa de 56 anos tornou-se a primeira pessoa no mundo a morrer vítima da gripe aviária causada pelo vírus H3N8. A paciente foi internada na província de Guangdong, sul do país, no dia 3 de março e morreu 13 dias depois. Esse é o terceiro caso da doença confirmado pela OMS no país —a organização diz, no entanto, que pessoas próximas aos infectados não ficaram doentes, o que descarta a hipótese de transmissão entre humanos até o momento

As exportações chinesas atingiram o patamar de US$ 315 bilhões em março, uma alta de 14,8% no comparativo com o mesmo mês em 2022. Uma cifra maior já era esperada pelo mercado, dado o padrão de comparação baixo em virtude das políticas de controle da COVID que vigoraram no ano passado, mas a recuperação veio acima do esperado pelo mercado. A notícia deve trazer algum alívio para a economia chinesa após um declínio de 6,8% dos dados consolidados de janeiro e fevereiro divulgados pela Alfândega da China.

"A Europa não pode ser dragada para crises que não são nossas", disse presidente francês Emmanuel Macron ao sugerir que não acompanharia os EUA em uma possível guerra por Taiwan. Ele concluiu recentemente uma visita de Estado a Pequim e evitou ecoar os alertas feitos pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyer. Também em viagem à China, alertou que o bloco não aceitaria uma mudança violenta de status quo em Taiwan. Macron por sua vez disse que os europeus não podem ser vistos apenas como "seguidores dos EUA."

fique de olho

O diretor do Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças, Shen Hongbing, negou em entrevista coletiva que a China tenha escondido dados sobre a Covid quando a doença foi detectada no fim de 2019/início de 2020.

A resposta veio após o diretor da OMS, Tedros Adhanom, reiterar mais uma vez os pedidos pela divulgação completa dos dados iniciais da doença em Wuhan.

  • Adhanom afirmou que, sem os dados completos, será impossível dizer com certeza qual foi a origem do SARS-CoV-2. "Todas as hipóteses estão na mesa (…) e é por isso que temos pedido à China que seja cooperativa nesse caso", afirmou.
  • Shen Hongbing reagiu. Ele disse esperar que cientistas sejam os principais responsáveis pelo estudo e pediu ainda que "certos indivíduos na OMS retornem a uma posição científica e imparcial e não se tornem uma ferramenta de países solados que tentam politizar a origem da Covid-19."

Por que importa: apesar dos clamores da OMS, é pouquíssimo provável que a China entregue à organização quaisquer novos dados relativos aos primeiros casos em Wuhan.

O país chegou a aprovar uma missão de especialistas em 2020, mas, em relatório, eles reclamaram sobre a morosidade para aprovação de trâmites da viagem e a consequente destruição de evidências após vários meses desde o aparecimento do vírus. A OMS defende que, sem os dados, será impossível entender qual foi o vetor original da Covid, deixando o mundo suscetível a episódios do tipo no futuro.

para ir a fundo

A Observa China publicou na íntegra o policy paper construído pelo grupo que analisou pontos estratégicos para as relações Brasil-China. Escrito para marcar a visita presidencial a Pequim, o documento foi entregue a Lula e também pode ser conferido aqui (gratuito, em português)

A Universidade de Macau vai realizar entre os dias 28 e 30 de abril um seminário híbrido para discutir o ensino da língua portuguesa em contexto com identidades nacionais, cultura e sociedade. O evento conta com o apoio do Itamaraty, Unesco e Instituto Português do Oriente. Inscrições aqui. (gratuito, em português)

O podcast da plataforma Shūmiàn traz um episódio inédito com Alexandre Coelho, ex-diretor do departamento legal no Bank of China, discutindo em profundidade como vão funcionar as compensações financeiras baseadas em moedas locais no acordo assinado entre China e Brasil. Ouça aqui. (gratuito, em português)

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