Mais de 6.000 migrantes morreram em 2023 tentando chegar à Espanha, diz ONG

Maioria dos mortos no Mediterrâneo vem do Senegal, de acordo com a Caminhando Fronteiras, que monitora o tema

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Thomas Perroteau
Madri | AFP

Ao menos 6.618 migrantes morreram ou desapareceram ao longo de 2023 ao tentarem chegar à Espanha por mar —uma média de 18 pessoas por dia—, mostrou nesta terça-feira (9) um novo relatório anual da ONG espanhola Caminhando Fronteiras.

Socorristas e trabalhadores da Cruz Vermelha ajudam imigrantes a desembarcarem no porto de La Restinga, nas ilhas Canárias
Socorristas e trabalhadores da Cruz Vermelha ajudam imigrantes a desembarcarem no porto de La Restinga, nas ilhas Canárias - 26.out.23/AFP

O número praticamente triplicou em relação a 2022, quando foram registradas 2.390 mortes nessas rotas pelo mar Mediterrâneo, detalhou a coordenadora da ONG, Helena Maleno, durante o lançamento do material na capital Madri. Ela criticou a falta de recursos para as equipes de resgate de embarcações de migrantes no mar.

Para efeitos de comparação, um relatório da ONG publicado no ano passado registrava 11.200 migrantes mortos ou desaparecidos ao tentarem chegar à Espanha entre 2018 e 2022 —média de seis por dia.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), um braço da ONU para o tema, também monitora essas mortes, mas suas cifras são bem diferentes (e reconhecidamente subnotificadas).

Com base em depoimentos e reportagens publicadas pela imprensa, a organização contabilizou mais de 1.200 mortos ou desaparecidos nas rotas migratórias para a Espanha ao longo do último ano.

Principal origem: Senegal

Esse aumento das tragédias migratórias ocorre quando o número de migrantes que chegaram ilegalmente (ou seja, sem solicitar e obter permissão previamente) à Espanha quase dobrou em 2023, chegando a 56,8 mil pessoas, devido a um fluxo sem precedentes na rota pelo Atlântico até as ilhas Canárias, de acordo com dados do governo.

A Caminhando Fronteiras, que baseia seus relatórios em chamadas de socorro de migrantes no mar ou de suas famílias, contabilizou 363 mulheres e 384 crianças entre as vítimas do ano passado.

A imensa maioria dos desaparecimentos de quem tentava alcançar a Espanha (6.000) ocorreu na rota perigosa entre as costas do noroeste da África e as ilhas Canárias, no Atlântico. É uma travessia de várias centenas de quilômetros e vários dias ou semanas que os migrantes fazem em embarcações precárias. Nesta rota, se desviarem um pouco para o oeste, eles não chegarão às Canárias. Já se não forem resgatados, provavelmente estão condenados a morrer em um naufrágio ou de fome, sede ou hipotermia.

Segundo a ONG, a maioria dos migrantes desaparecidos (3.176) partiu das costas do Senegal. A ONG também contabilizou 611 mortos ou desaparecidos no ano passado na rota migratória que liga Marrocos e Argélia à costa sul da Espanha.

27 mil partidas evitadas

A Espanha conta com o Marrocos, com quem normalizou suas relações diplomáticas em 2022, como seu principal parceiro na luta contra a imigração ilegal. Em troca, ofereceu uma mudança polêmica em sua posição sobre o Saara Ocidental, uma antiga colônia espanhola reivindicada por Rabat. Madri também intensificou recentemente sua cooperação com o Senegal e a Mauritânia no mesmo sentido.

O ministro espanhol do Interior, Fernando Grande-Marlaska, saudou na última quinta-feira (4) essa colaboração com os países da África Ocidental, que, segundo ele, "evitou a saída de mais de 27 mil migrantes irregulares" em 2023. "Salvamos suas vidas", disse ele.

Segundo a agência europeia de guarda das fronteiras, a Frontex, os migrantes que chegam às Canárias são principalmente do Marrocos e do Senegal, mas também, em menor medida, da Gâmbia, Guiné e Costa do Marfim. Muitas vezes, a Espanha é apenas uma etapa para esses imigrantes em seu caminho para países mais ao norte do continente europeu, como a França, por exemplo.

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