New Hampshire caminha para ser nova oportunidade perdida para Nikki Haley

Sobrevivente na corrida contra Trump vê chances minguarem; estado também sedia primária democrata sem Joe Biden

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Washington

Uma das poucas preocupações para a campanha de Donald Trump, fora seus quatro processos criminais na Justiça, era New Hampshire. De perfil moderado e com 40% dos eleitores se declarando independentes, o estado, que realiza suas primárias nesta terça-feira (23), era visto como a grande chance de Nikki Haley oferecer algum perigo ao empresário.

Pesquisas de intenção de voto divulgadas na última semana, no entanto, reduziram essas expectativas. O levantamento mais recente mostra o empresário 19 pontos à frente da ex-governadora da Carolina do Sul, com 57% das intenções de voto.

Nikki Haley em evento de campanha em Franklin, New Hampshire, nesta segunda (22) - Joseph Prezioso/AFP

A pesquisa, realizada pela Universidade Suffolk em parceria com o jornal Boston Globe, já foi ajustada para o cenário sem Ron DeSantis, que anunciou sua saída da disputa no domingo (21). No entanto, como o estado havia sido praticamente ignorado pela campanha do governador da Flórida, sua desistência praticamente não tem impacto nessa primária.

Um bom desempenho de Haley, portanto, depende do engajamento dos eleitores que se declaram independentes –mas, assim como em Iowa, a expectativa é que nada supere o nível de participação da base Maga (sigla para "faça a América grandiosa novamente", slogan do ex-presidente).

O afunilamento da disputa para uma corrida entre Trump e uma alternativa era o cenário desejado por cada um dos seus competidores, que contavam com a concentração dos eleitores resistentes ao empresário em torno de si.

Mas praticamente todas essas alternativas, depois de desistirem, ficaram aglutinadas em torno de Trump. Na noite desta segunda (22), em uma demonstração de força, ele participou de um comício em Laconia, em New Hampshire, acompanhado pelo empresário Vivek Ramaswamy, pelo senador Tim Scott e pelo governador da Dakota do Norte, Doug Burgum.

DeSantis não participa, mas também declarou apoio a Trump. Haley conta apenas com o endosso de Asa Hutchinson, que saiu da corrida com menos de 1% dos votos.

"Os Estados Unidos não fazem coroações", disse Haley em um comício na manhã desta segunda, reconhecendo a batalha difícil à frente. "Nós acreditamos em escolhas. Acreditamos na democracia e acreditamos na liberdade. Eu disse que amo o estado 'viver livre ou morrer'", argumentou, citando o lema de New Hampshire. "Mas sabe de uma coisa? Quero torná-lo um país 'viva livre ou morra'."

A republicana partiu para uma rodada final de ataques pessoais nos últimos dias, mirando a idade e a aptidão mental de Trump –em uma réplica da estratégia usada contra o presidente Joe Biden.

"Não estou dizendo nada depreciativo, mas quando se lida com as pressões da Presidência, não podemos ter alguém que questionamos se está mentalmente apto para fazer isso", afirmou em um comício no sábado. Dias antes, ela já havia falado que "a maioria dos americanos acha que ter duas pessoas de 80 anos de idade concorrendo pela Presidência não é o que eles querem".

Trump, de fato, tem cometido confusões. A mais recente foi confundir Haley com a ex-presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, durante um discurso no fim de semana. A ex-governadora da Carolina do Sul aproveitou o erro para relembrar as diversas vezes em que o empresário afirmou que concorreu contra Barack Obama, algo que nunca aconteceu.

Trump, por sua vez, respondeu rapidamente, dizendo que nunca se sentiu tão bem, inclusive "cognitivamente".

A perda de fôlego de Haley, que vinha crescendo nas pesquisas, ocorre após o desempenho decepcionante em Iowa. Após angariar apoio de doadores de peso no final do ano, como os irmãos Koch, e amparada em um bom desempenho nos debates, a trajetória projetada por seus apoiadores era de que ela surpreenderia no caucus, ultrapassando DeSantis.

Com isso, a ex-embaixadora dos EUA na ONU chegaria com força a New Hampshire, onde tinha chances reais de vencer –uma pesquisa chegou a mostrá-la apenas dez pontos atrás de Trump– e, com a vitória, ganhar impulso para realmente ameaçá-lo na Carolina do Sul.

No entanto, não só Haley ficou em terceiro lugar em Iowa, como Trump venceu com mais de 50% dos votos, consolidando sua liderança absoluta na corrida.

Estado faz ‘primária rebelde’ democrata

Além dos republicanos, democratas também fazem uma primária em New Hampshire nesta terça, mas à revelia da direção nacional do partido.

Por pressão de Biden, o calendário democrata foi alterado para que as primárias comecem pela Carolina do Sul, em um aceno ao eleitorado negro. Com isso, Iowa e New Hampshire perderam precedência.

O estado, porém, não aceitou a troca e realiza uma primária não oficial e que, por isso, não tem delegados em jogo. O nome de Biden nem sequer está na cédula.

Aproveitando essa rusga, Dean Phillips, que desafiou o atual presidente para ser o candidato do partido, investiu milhões do seu próprio bolso na primária. Se conseguir chegar a um apoio na casa dos 30%, é uma vitória simbólica para que sua candidatura comece a ser levada a sério.

Em resposta, aliados de Biden organizaram no estado uma campanha para que eleitores escrevam à mão o nome do presidente. A projeção é que a expectativa dê certo e, mesmo sem estar oficialmente inscrito na primária, o atual presidente vença o pleito.

Há, porém, um terceiro concorrente: o cessar-fogo. Críticos do apoio dado por Biden a Israel na guerra contra o Hamas pedem que eleitores escrevam essa palavra, como forma de protesto.

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