EUA vetaram resolução sobre Gaza porque trégua não resolve guerra, diz Blinken

Após reunião no G20, chefe da diplomacia americana condiciona pausa em guerra à soltura de reféns sob poder do Hamas

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Rio de Janeiro

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que o motivo pelo qual os Estados Unidos vetaram a terceira resolução apresentada ao Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza é que ela não colocaria um fim efetivo na guerra Israel-Hamas.

A declaração foi dada nesta quinta-feira (22) pelo chefe da diplomacia americana após o fim da reunião de chanceleres do G20, no Rio de Janeiro.

"Essa resolução não resultaria por si só num cessar-fogo. A questão é: qual a forma mais efetiva de avançar [numa solução]? Uma forma de que os reféns [israelenses sequestrados pelo Hamas] sejam liberados, que uma pausa humanitária seja estendida e que, mais importante, que leve ao fim do conflito", disse Blinken. "O melhor caminho para isso é exatamente que estamos fazendo agora, que é trabalhar intensamente por um acordo na liberação dos reféns."

Secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony J. Blinken, dá entrevista a jornalistas no Hotel JW Marriott, na zona sul do Rio de Janeiro
Secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony J. Blinken, dá entrevista a jornalistas no Hotel JW Marriott, na zona sul do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Como membro permanente do Conselho de Segurança, ao lado de China, Rússia, Reino Unido e França, os EUA têm poder de veto. A delegação americana foi a única a se posicionar contra a proposta, feita pela Argélia e que teve adesão de 13 países do conselho; os britânicos preferiram se abster.

"Esta resolução em particular tinha duas questões. A primeira era que não falava sobre os reféns. A segunda foi o timing, já que, no momento atual, em que a prioridade é os reféns, qualquer coisa que atrapalhe isso é contraproducente", disse Blinken.

Nos bastidores, os EUA propuseram uma versão alternativa a uma resolução do Conselho de Segurança na qual se opõem a uma invasão em larga escala do Exército de Israel em Rafah, cidade que concentra os deslocados internos pelo conflito, segundo a agência de notícias Reuters. Um alto funcionário do governo Biden afirmou à agência, porém, que não há pressa em votar a resolução e que a ideia é continuar com negociações.

No Rio, o secretário de Estado disse ainda que o desejo de Washington é conseguir chegar a um acordo de paz duradouro entre Israel e a Palestina. Durante o encontro do G20, ele apontou que um caminho para isso é a construção de um Estado palestino —a chamada solução de dois Estados.

No entanto, o americano condicionou qualquer possibilidade de pausa nos ataques de Israel à Gaza à soltura dos reféns. Desde outubro, quando houve o ataque terrorista do Hamas a civis israelenses, cerca de 30 mil palestinos foram mortos em ofensivas do país de Binyamin Netanyahu.

Discordância ‘profunda’ com fala de Lula

Ainda durante a entrevista a jornalistas nesta tarde, Blinken comentou sobre a declaração do presidente Lula (PT), na qual o brasileiro comparou a situação em gaza ao Holocausto.

"Sobre a comparação de situação em Gaza com o Holocausto, nós discordamos profundamente", disse. "Mas isso é algo que amigos fazem, nós podemos ter discordâncias, até mesmo profundas, sobre uma questão ou aspecto específico e mesmo assim continuar o trabalho vital que estamos fazendo juntos."

No encontro que teve com Lula, na quarta-feira (21), Blinken também apontou uma segunda divergência com o presidente brasileiro. O americano afirmou que não vê um genocídio acontecendo no território palestino.

Críticas a chanceler da Rússia

Blinken também fez críticas a Moscou e afirmou que novas sanções devem ser impostas em resposta à Guerra da Ucrânia. Durante o encontro do G20, Blinken não trocou nem uma palavra sequer com seu homólogo russo, Serguei Lavrov. "Bom, eu o ouvi falar nas reuniões e imagino que ele tinha me escutado, assim como todos os outros [chanceleres]", disse o americano, com uma pitada de ironia.

O secretário de Estado também rebateu uma declaração dada por Lavrov. O russo criticou o que chamou de "politização" do G20 por abordar o conflito no Leste Europeu e acrescentou que a inclusão do tema no debate do grupo "por instigação do Ocidente é destrutiva".

"Sobre essa suposta politização, acho que os outros colegas [do fórum] falaram muito bem sobre isso. Se não formos capazes de lidar com questões de paz e segurança, vai ser muito difícil, ou até mesmo impossível, alcançar o que queremos por meio do G20."

O americano também parabenizou o Brasil, que exerce a presidência do G20 neste ano, por colocar a Guerra da Ucrânia como um dos temas em debate na reunião dos chanceleres. "Eu aplaudo o Brasil por fazer isso. Não acho que isso seja a politização do G20. Ao contrário, nós temos a responsabilidade de tentar nos unir, de encontrar um caminho para avançarmos sobre os problemas geopolíticos que podem ser divisíveis. Se não fizermos isso, o resto da agenda vai ser muito difícil de alcançar."

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