Javier Milei proíbe uso de linguagem inclusiva pelo governo da Argentina

Casa Rosada argumenta que perspectiva de gênero 'tem sido usada como negócio da política'

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Buenos Aires

O governo de Javier Milei proibiu a linguagem inclusiva por todos os órgãos da administração federal da Argentina, sob o argumento de que as perspectivas de gênero "têm sido utilizadas como negócio da política". A gestão não explicou, porém, a quais negócios se refere.

"[Os órgãos nacionais] não vão poder utilizar a letra 'e', o arroba, a letra 'x' e vão evitar a desnecessária inclusão do feminino em todos os documentos da administração pública", afirmou nesta terça-feira (27) Manuel Adorni, porta-voz da Casa Rosada, durante sua entrevista diária a jornalistas.

Javier Milei, presidente da Argentina, durante visita a centro de memória do Holocausto, em Jerusalém - Ammar Award - 7.fev.24/Reuters

Questionado sobre os motivos da decisão, ele respondeu que a linguagem que contempla a todos é o espanhol. "É um debate do qual não vamos participar porque consideramos que as perspectivas de gênero têm sido utilizadas também como negócio da política; então para nós isso não tem discussão", disse.

O Ministério da Defesa do país já tinha tomado a mesma medida em uma resolução divulgada na segunda (26), proibindo o uso de termos como "caba", "soldada", "sargenta" e "generala" nas Forças Armadas, antes considerados opcionais. Também estão vetadas estruturas como "soldadxs" ou "soldades".

"Deverá ser utilizado o idioma castelhano [espanhol], conforme a normativa e regulamentação que rege cada área respectiva, sob os termos e regras estabelecidas pela Real Academia Espanhola e os regulamentos e manuais vigentes nas Forças Armadas", diz o texto assinado na sexta (23) pelo ministro Luis Petri.

"Qualquer desvio ou desnaturalização do castelhano que não esteja padronizado ou respaldado por um marco legal correspondente pode induzir a interpretar equivocadamente o que se deseja dispor ou ordenar, afetando sua execução", justifica a resolução.

A linguagem inclusiva não era objeto de uma norma explícita, mas, em um documento de 2020 do governo anterior, de Alberto Fernández, o então ministro da Defesa Agustín Rossi assegurava que sua pasta continuaria "acompanhando as mudanças culturais nas relações de gênero que foram forjadas através de anos de compromisso das mulheres".

Nessa publicação, intitulada "Mulheres Argentinas", Rossi escreveu que esperava que "a perspectiva de gênero [fosse] transversal a toda a instituição", embora o texto apelasse para que isso não fosse o resultado de uma "imposição", uma vez que as mulheres, "em termos gerais, não concordam com a feminização das denominações".

Milei, que se autointitula um "libertário anarcocapitalista", nunca escondeu sua oposição à linguagem inclusiva e ao que ele chama de "ideologia de gênero". De acordo com o presidente, isso faz parte da "doutrinação" do "marxismo cultural", um suposto movimento para reverter a ordem social no Ocidente.

Nesta terça, o porta-voz da Casa Rosada também foi questionado sobre diversos retuítes feitos pelo presidente argentino sobre as manifestações a favor de Jair Bolsonaro em São Paulo, no domingo (25). As postagens associavam o governo de Luiz Inácio Lula da Silva a ditadura, autoritarismo e perseguição a opositores.

"Os retuítes não validam uma opinião", respondeu ele. "Claro que ideologicamente o presidente Javier Milei tem diferenças com o presidente do Brasil, mas isso não interfere nas nossas relações diplomáticas nem comerciais [...] Não vejo nada para explicar nesse sentido. Acho que está bem claro para onde a Argentina está indo, não só em termos ideológicos mas de relações com o mundo", completou.

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