Imagem de satélite mostra muro em construção na fronteira entre Gaza e Egito

Autoridades egípcias temem fluxo de refugiados à medida que palestinos ficam sem opção de fuga sob ataques de Israel

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Nada Rashwan Christiaan Triebert
Cairo | The New York Times

Um muro está sendo construído no deserto do Egito, perto da fronteira com a devastada Faixa de Gaza, mas ninguém está falando muito sobre isso.

Imagens de satélite, fotografias e vídeos analisados pelo The New York Times mostram uma grande área sendo aterrada e o muro sendo construído na passagem entre o Egito e Rafah, a cidade do sul de Gaza onde há mais de 1 milhão de palestinos deslocados e as forças israelenses estão prontas para invadir.

As imagens de satélite mostram a área recém-aterrada ao sul da passagem de fronteira de Rafah. Uma análise dos registros indica que as obras começaram por volta de 5 de fevereiro de 2024.

Imagem de satélite mostra muro em construção na fronteira entre Egito e Gaza - Maxar Technologies - 15.fev.24/via Reuters

No entanto, o Egito, que observa com preocupação os moradores de Gaza deslocados pela guerra entre Israel e o Hamas se concentrarem em Rafah, recusou-se a discutir a nova construção. Um porta-voz do regime apenas se referiu a declarações das últimas semanas, destacando a fortificação da fronteira.

Não estava claro se a estrutura poderia ser destinada a abrigar residentes de Gaza que cruzaram a fronteira, mas se fosse usada dessa forma, seria uma grande reversão da posição do Egito.

Um empreiteiro e um engenheiro entrevistados pelo The New York Times e que forneceram fotos disseram que foram contratados pelo Exército egípcio para construir um muro de concreto de cinco metros de altura para fechar um terreno de cinco quilômetros quadrados no local. Eles disseram que começaram o trabalho em 5 de fevereiro e iniciaram a construção do muro em 13 de fevereiro.

O empreiteiro e o engenheiro falaram sob condição de anonimato, dizendo que temiam represálias. As autoridades egípcias restringem fortemente as informações provenientes da área de fronteira.

Desde outubro, quando um ataque liderado pelo Hamas contra Israel resultou em uma imensa retaliação militar israelense em Gaza, o Egito tem repetidamente rejeitado qualquer sugestão de receber alguns dos moradores de Gaza que fugiram dos ataques aéreos e terrestres para áreas próximas à fronteira em Rafah.

Autoridades egípcias temem que um fluxo de refugiados represente um risco de segurança. E muitos palestinos suspeitam que Israel possa não permitir que as pessoas que saírem de Gaza retornem quando a guerra acabar.

Crianças vistas em um acampamento improvisado na cidade de Rafah, na Faixa de Gaza - Rizek Abdeljawad - 18.fev.24/Xinhua

Nas últimas semanas, moradores de Gaza deslocados se aglomeraram em Rafah, lutando para sobreviver em tendas e abrigos improvisados com acesso escasso a alimentos e a outros suprimentos, dizem pessoas que prestam serviços humanitários. Uma autoridade de Gaza em Rafah, Ahmed al-Soufi, estima que há mais de 100 mil palestinos que foram deslocados e estão em acampamentos próximos à fronteira.

Em uma reunião convocada pelo Egito na última quinta-feira (15), o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, disse que "a possibilidade de transbordamento [pelas barreiras], uma espécie de pesadelo egípcio, está bem diante de nossos olhos".

Assim como Israel, o Egito fechou suas fronteiras com Gaza e, nos últimos meses, tem adicionado fortificações à sua área de fronteira.

Um dia após o ataque liderado pelo Hamas em Israel em 7 de outubro, o governador do Norte do Sinai, local onde o trabalho capturado nas imagens de satélite está ocorrendo, disse em um comunicado que o governador havia realizado uma reunião de emergência com autoridades locais para "estudar as capacidades de escolas, unidades habitacionais e terrenos vazios que podem ser usados como locais de abrigo, se necessário".

Mas em 15 de fevereiro, o governador do Norte do Sinai, Mohamed Abdel Fadil Shousha, não respondeu às ligações telefônicas em busca de comentários, e o vice-governador, Hisham el-Khouly, disse que não estava ciente de nenhuma nova construção.

Ahmed Ezzat, chefe das operações da Sociedade do Crescente Vermelho Egípcio, que coordena o trabalho de assistência humanitária na Gaza na fronteira, disse que não tinha ouvido falar do projeto.

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