Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel declara guerra após ataque surpresa do Hamas; ao menos 482 morrem

Primeiro-ministro Binyamin Netanyahu diz que grupo palestino pagará um 'preço sem precedentes'

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Fumaça em prédios de Gaza após ataque de Israel na região, em resposta à ofensiva do Hamas Mohammed Salem - 7.out.23/Reuters

Gaza e São Paulo | AFP e Reuters

No pior ataque sofrido por Israel nos últimos 50 anos, cerca de mil combatentes do grupo extremista palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançaram aproximadamente 5.000 foguetes e entraram por terra, mar e ar — alguns com parapentes— em solo vizinho neste sábado (7).

Em ação sem paralelo na história do conflito israelo-palestino, mataram a tiros dezenas de civis e fizeram cerca de 50 reféns perto da fronteira. Até a conclusão desta edição, eram 250 mortos israelenses, e autoridades declararam que o número pode aumentar.

Foguetes são disparados da Cidade de Gaza em direção a Israel - Mahmud Hams/AFP

O premiê Binyamin Netanyahu declarou guerra e disse que a facção pagará "um preço sem precedentes". Logo depois, Tel Aviv respondeu com bombardeios aéreos contra o território palestino, deixando aos menos 232 mortos.

O Hamas disse que a ofensiva foi motivada pelos "ataques crescentes" de Israel contra os palestinos na Cisjordânia, em Jerusalém e contra os palestinos nas prisões israelenses. O comandante militar do grupo, Mohammad Deif, convocou os palestinos de todo o mundo para lutar. "Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação na Terra", afirmou

Considerado terrorista pelos Estados Unidos e boa parte dos países europeus, o grupo prega a destruição de Israel em seu estatuto. Foi criado em 1987, após o início da primeira intifada, levante palestino contra forças israelenses.

O ataque ocorreu 50 anos e um dia após o início da Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando uma incursão de tropas do Egito e da Síria surpreendeu Israel em meio a um dos feriados judaicos mais importantes —à época, como agora, a eficácia do aparato militar e de inteligência foi alvo de questionamentos.

O último grande conflito entre Israel e Hamas havia sido em 2021, por dez dias, quando 240 pessoas morreram.

A imprensa israelense relatou mais de 20 tiroteios entre militantes palestinos e forças de segurança em cidades do sul de Israel. Do lado de Gaza, moradores testemunharam confrontos armados ao longo da cerca de separação com Israel, perto da cidade de Khamun Younis, e disseram ter visto um movimento significativo de homens armados. Muitos correram para comprar mantimentos ou saíram de suas casas para abrigos.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que "Israel vai ganhar esta guerra" e que as tropas do país estão lutando contra o inimigo em todos os locais. Ele autorizou a convocação de reservistas. Segundo o Exército, soldados israelenses já estão atuando dentro de Gaza.

Segundo a imprensa local, homens armados abriram fogo contra pedestres em Sderot. Os meios de comunicação do Hamas exibiram vídeos do que seriam corpos de soldados israelenses trazidos para Gaza por combatentes. Num deles, um militar aparentemente morto é retirado de dentro de um tanque.

"Fomos informados de que há terroristas dentro dos kibutz, podemos ouvir tiros", disse uma jovem chamada Dvir, do Kibutz Beeri, à Rádio do Exército Israelense, de seu abrigo antiaéreo.

Os meios de comunicação do Hamas exibiram vídeos do que seriam corpos de soldados israelenses trazidos para Gaza por combatentes, homens armados palestinos dentro de casas em Israel e percorrendo uma cidade do país em jipes. Também informaram que vários israelenses foram tomados como prisioneiros. Ao menos 1590 cidadãos de Israel ficaram feridos.

Yousef Abu al-Rish, principal autoridade de saúde palestina em Gaza, disse que não havia um número preciso de vítimas, mas que dezenas de palestinos foram mortos e centenas ficaram feridos nos ataques. A maioria das vítimas resultou de tiroteios dentro de Israel, afirmou ele, enquanto o restante ocorreu em ataques aéreos israelenses em Gaza.

Daniela Kresch, jornalista correspondente do Instituto Brasil-Israel radicada em Tel Aviv, relata que a ofensiva deste sábado é diferente de todas as anteriores. "É o primeiro ataque que acontece simultaneamente por ar e por terra. O Hamas lançou milhares de foguetes não apenas ao sul, mas também ao norte e ao centro do país, incluindo Jerusalém."

Ainda de acordo com Kresch, o Hamas invadiu comunidades israelenses que ficam na fronteira com Gaza, em Kibutzim, "onde entraram pelas ruas, batendo nas portas e sequestrando cidadãos, incendiando casas e ocupando a região com brutal violência".

Palestinos destroem cerca que separa a Faixa de Gaza do sul de Israel - Mohammed Fayq Abu Mostafa -7.out.23/Reuters

A escalada de violência surge num contexto de hostilidade crescente entre Israel e militantes palestinos na Cisjordânia, que, juntamente com a Faixa de Gaza, faz parte dos territórios onde os palestinos procuram estabelecer um Estado.

Netanyahu lidera o governo mais à direita na história de Israel e, em julho, lançou a maior ofensiva contra alvos à Cirsjordânia em 20 anos, e ao menos oito palestinos foram mortos. Os ataques do Hamas também ocorrem num momento de intenso desgaste político de Netanyahu, decorrente das medidas para reformar o Poder Judiciário.

O Consulado Geral de Israel em São Paulo diz em comunicado que o ataque foi iniciado pelo Hamas sem qualquer pretexto ou ação prévia por parte de Israel, e que a ofensiva ocorre "após um longo período em que Israel tenta manter a calma na Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que faz grandes esforços para melhorar a situação civil na região".

"O Estado de Israel fará tudo para proteger os seus cidadãos e não tem medo de uma ampla campanha em Gaza", afirma o comunicado.

Líderes internacionais reagiram. O presidente americano, Joe Biden, informou ao premiê israelense que os Estados Unidos estão prontos para oferecer todo o seu apoio. "Israel tem o direito de defender a si mesmo e ao seu povo. Os Estados Unidos alertam contra qualquer outra parte hostil a Israel que procure obter vantagem nesta situação", acrescentou.

O líder francês, Emmanuel Macron, disse que condena os ataques contra Israel. "Expresso a minha total solidariedade às vítimas, às suas famílias e às pessoas próximas delas", escreveu Macron na rede social X, o antigo Twitter.

Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, afirmou no X que o ataque do Hamas contra Israel "é o terrorismo na sua forma mais desprezível" e que o país tem o direito de se defender. Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, disse que "esta violência horrível deve parar imediatamente".

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Tuerk, afirmou que o ataque está tendo um impacto "horrível" sobre os civis israelenses. "Os civis nunca devem ser alvo de ataques. Apelo ao fim imediato da violência e apelo a todas as partes e aos principais países da região para que reduzam a escalada para evitar mais derramamento de sangue", acrescentou.

A Rússia expressou preocupação. "Apelamos aos lados palestino e israelita para que implementem um cessar-fogo imediato, renunciem à violência, exerçam a contenção necessária e estabeleçam, com a assistência da comunidade internacional, um processo de negociação destinado a estabelecer uma paz abrangente, duradoura e há muito esperada no Oriente Médio", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova.

O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião para este domingo (8) para tratar do conflito, de acordo com diplomatas. Antonio Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, afirmou em comunicado estar profundamente preocupado com a população civil afetada pelos ataques e disse que ela deve ser protegida.

Cronologia da Faixa de Gaza

  • 1948: Milhares de refugiados palestinos se estabelecem na Faixa de Gaza em meio à guerra que se seguiu à declaração de independência de Israel. Território passa a ser controlado pelo Egito;
  • 1967: Israel ocupa a Faixa de Gaza e outros territórios árabes na Guerra dos Seis Dias;
  • 1973: Países árabes lançam ataque contra Israel na Guerra do Yom Kippur. Faixa de Gaza segue sob ocupação israelense;
  • 1993: Acordos de Oslo estabelecem compromisso em criar um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, mas o plano nunca chega a ser cumprido;
  • 2005: Israel anuncia a retirada de colonos judeus e de soldados da Faixa de Gaza;
  • 2007: Grupo extremista islâmico Hamas expulsa rivais do Fatah e passa a governar a Faixa de Gaza. Israel impõe bloqueio por terra, ar e água contra o território;
  • 2008, 2012 e 2014: Guerras recorrentes na Faixa de Gaza envolvendo bombardeios israelenses e disparos de foguetes pelo Hamas deixam milhares de mortos;
  • 2018: Residentes da Faixa de Gaza fazem série de protestos perto da fronteira com Israel, na chamada Marcha do Retorno. Atiradores israelenses matam centenas de manifestantes;
  • 2021: Nova guerra entre Israel e o Hamas deixa centenas de mortos na Faixa de Gaza;
  • 2023: Hamas rompe bloqueio e lança ataque surpresa por terra, água e ar contra Israel, que reage com bombardeios e declaração de guerra;
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