Presidente do México ataca jornalista após reportagem sobre laços com narcotráfico

López Obrador divulga número de telefone de repórter do New York Times e passa a ser investigado em seu próprio país, considerado um dos mais perigosos para a imprensa

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São Paulo

Avesso à liberdade de imprensa, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, voltou a atacar jornalistas e, desta vez, tornou-se alvo de uma investigação em seu próprio país.

AMLO, acrônimo pelo qual o populista de esquerda é conhecido, divulgou nesta semana o número de contato de uma repórter do New York Times após o jornal americano solicitar que o gabinete do presidente respondesse a perguntas relativas a uma apuração em curso.

O presidente Andrés Manuel López Obrador durante conferência que faz todas as manhãs na Cidade do México
O presidente Andrés Manuel López Obrador durante conferência que faz todas as manhãs na Cidade do México - 29.jan.24/Divulgação Presidência do México via AFP

Reportagem divulgada nesta quinta-feira (22) pelo jornal revela que investigadores dos Estados Unidos monitoraram por anos as ligações entre aliados próximos de López Obrador e cartéis do narcotráfico. Esses assessores teriam recebido milhões de dólares dos grupos criminosos pouco após AMLO ser eleito, em 2018.

As provas de vínculos de pessoas ligadas ao esquerdista com os cartéis, no entanto, não teriam se desdobrado em uma investigação formal após o que a reportagem descreve como uma baixa disposição dos EUA em confrontar um importante aliado na região.

As relações EUA-México são importantes devido à extensa fronteira compartilhada, onde historicamente transcorre uma crise migratória que escalou ao longo do ano passado.

Ao ser procurado pelo New York Times para comentar o assunto, AMLO disse que as acusações eram "completamente falsas".

Ele também foi prontamente a uma de suas "mañaneras" —entrevistas coletivas que concede todas as manhãs e nas quais corriqueiramente ataca a imprensa independente— criticar a repórter Natalie Kitroeff, chefe da sucursal do New York Times para México, América Central e Caribe. Após dizer que ela o estaria ameaçando com sua investigação, divulgou seu número de telefone.

A Inai, agência mexicana responsável por acesso à informação e proteção de dados pessoais, que não é ligada ao governo, disse em comunicado que abriu uma investigação para determinar se o vazamento do número de Kitroeff viola os princípios e os deveres estabelecidos na lei de dados do país.

É preciso aguardar o processo para que a agência divulgue se fará ou não uma denúncia formal contra o chefe do Executivo. As consequências para AMLO são incertas, mas as penalidades mais comuns para aqueles que violam princípios da lei de dados, mesmo agentes federais, são multas, cujos valores costumam estar na casa de milhões de pesos mexicanos.

Em comunicado, o New York Times descreveu as ações de AMLO como "uma tática preocupante e inaceitável por parte de um líder mundial". "Especialmente em um momento no qual as ameaças a jornalistas têm crescido", declarou a direção do jornal.

O México é considerado um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo. Desde 2000, ao menos 149 assassinatos de profissionais da imprensa foram registrados no país, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Em um ranking de 180 países sobre liberdade de imprensa, a entidade coloca o México em 128º lugar (o Brasil está em 92º). Quanto mais perto de 180, menos liberdade há.

Presidente do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) no México, Jan-Albert Hootsen afirmou que, ao revelar dados da jornalista, AMLO "conscientemente colocou em risco a equipe do New York Times no país que é o mais perigoso para a imprensa no hemisfério ocidental".

O México vai às urnas em junho, e AMLO necessariamente deixará o poder, pois a Constituição veda a reeleição. Espera-se que o país tenha pela primeira vez uma líder mulher, já que a disputa se concentra entre a chefe de governo licenciada da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, candidata governista, e a senadora Xóchitl Gálvez, escolhida por uma aliança de partidos de oposição para concorrer ao cargo.

Com AFP

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