Descrição de chapéu Todas guerra israel-hamas

Feriram mulheres apenas por ferir, diz enfermeira israelense sobre Hamas

Michal Elon, atingida por três tiros nos atentados de 7 de Outubro, está no Brasil em lançamento de campanha para dar voz às mulheres

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São Paulo

Em 7 de outubro de 2023, a enfermeira Michal Elon passou uma das madrugadas mais aterrorizantes de sua vida. Ela, seus dez filhos e o marido, Rabbi Omri Elon, estavam em uma base militar em Israel, numa região próxima a Gaza, quando o local foi invadido por terroristas do Hamas.

"Minha família tinha o costume de se voluntariar em bases militares para oferecer aos soldados um ambiente familiar para o shabat. Desta vez eles nos pediram para estar em uma base bem perto de Gaza", diz Elon à Folha. "Eles nos disseram que estava tudo muito calmo e nada deveria acontecer."

Naquela noite, porém, sirenes de alerta vermelho tocaram noite adentro. O que parecia ser um ataque que logo teria fim ganhou materialidade quando ela foi baleada com três tiros.

Mulher branca com roupa verde em hospital com braço enfaxiado
Michal Elon, enfermeira sobrevivente de ataque terrorista do Hamas, em hospital dias após o ocorrido, em 19 de outubro de 2023 - Ariel Jerozolimski

"Ele [o terrorista] simplesmente pegou sua arma e atirou. Em um instante, pensei: por que ele atiraria em mim se eu não estava usando farda? Eu sou uma mulher mais velha, eu não sabia o que estava acontecendo", relata. "Ele atirou três vezes, uma no estômago, uma no peito e uma na mão. Eu senti minha mão como se estivesse desprendendo do meu corpo, e eu sabia que estava sangrando muito, muito, então tirei o lenço que cobria minha cabeça e fiz um torniquete."

Em visita ao Brasil, a enfermeira promove a campanha #EndTheSilence, criada pela organização Hadassah Internacional, para expor a violência da guerra com foco em agressões femininas. Para ela, mulheres que não têm participação na guerra estão sendo feridas como uma demonstração de poder e força.

Além dos próprios ferimentos, Elon presenciou cenas que a fazem se emocionar ao contar. Quase cinco meses após o atentado, segue em recuperação e está passando por reabilitação física. Além de compartilhar sua história, tem o objetivo de dar voz a essa questão que tem assolado Israel.

"Eu acredito que um grande limite foi ultrapassado, porque estão ferindo mulheres apenas por ferir, e não apenas durante a guerra. Há guerras entre pessoas, entendo isso, mas machucar por machucar, isso é como uma linha que cruzamos, a humanidade se foi. Eu vejo isso como um grande grito que temos que fazer."

Um relatório divulgado pela ONU aponta evidências de violência sexual tanto no ataque a Israel promovido pelo Hamas em 7 de outubro quanto a mulheres na condição de reféns da facção na Faixa de Gaza.

O documento, publicado na segunda-feira (5), registra estupro e estupro coletivo em vários locais, com vítimas de maioria mulheres que foram encontradas amarradas e baleadas. "A equipe da missão descobriu que há motivos razoáveis para acreditar que violência sexual relacionada ao conflito ocorreu em vários locais durante os ataques de 7 de outubro", diz o levantamento.

Mulher branca com vestido preto
Michal Elon, sobrevivente israelense de ataque do Hamas, visita São Paulo - Rodolfo Chierighini/Divulgação Hadassah Internacional

Elon não comentou as denúncias de agressões contra mulheres cometidas por soldados israelenses. Para ela, o Exército de Israel dá "o seu melhor" para não prejudicar mulheres e crianças.

"Eu sei porque meu filho de 25 anos é um soldado, e ele me contou como eles alertavam todos para ficarem seguros. Então, eu sei como nosso Exército faz o possível e eu só quero acreditar que cada Exército agirá assim, não ao contrário, como o Hamas faz. Isso é o que eu acredito", completa.

O Ministério de Saúde local, controlado pelo Hamas, estima que 30 mil pessoas morreram na Faixa de Gaza desde o início do conflito. A cifra contempla civis, dentre eles mulheres e crianças, e combatentes. Especialistas pontuam, porém, que o número pode ser ainda maior, dada a dificuldade de contar os mortos em meio ao conflito.

Uma análise publicada no periódico científico The Lancet afirmou que os relatórios do órgão têm qualidade razoável e que as mortes estavam entre grupos populacionais que seriam, provavelmente, de maioria civil.

A enfermeira afirma que tem ciência dos mortos palestinos pelas forças de defesa de Israel. "E eu sei como eu me senti, como uma vítima do que aconteceu. Há vítimas do outro lado, e eu sinto muito por isso. Mas ainda assim eu sei que, novamente, nós temos que fazer a coisa certa e estar do lado certo."

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