Nascidos algumas semanas após o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, os gêmeos Wesam e Naeem Abu Anza foram enterrados neste domingo (3).
Eles são os mais jovens dos 14 membros de uma mesma família que autoridades de saúde de Gaza —ligadas à facção— afirmam terem sido mortos em um ataque aéreo do Exército israelense a Rafah durante a noite.
A mãe dos recém-nascidos, Rania Abu Anza, segurava um dos gêmeos, com seu pequeno corpo envolto em um sudário branco, junto ao rosto e acariciava sua cabeça durante o funeral. Ao seu lado, um homem segurava o segundo bebê, seus pijamas cor azul estavam visíveis sob o pequeno sudário.
"Meu coração se foi", dizia Abu Anza, cujo marido também foi morto, enquanto amigos e parentes a consolavam. Ela resistiu quando pediram para liberar o corpo de um dos bebês antes do enterro.
"Deixe-a comigo", dizia, em voz baixa.
Os gêmeos —um menino e uma menina— eram duas das cinco crianças mortas no ataque a uma casa em Rafah, de acordo com o Ministério da Saúde em Gaza.
Abu Anza disse que tivera seus bebês, seus primeiros filhos, após 11 anos de casamento com o marido agora morto. "Estávamos dormindo, não estávamos atirando e não estávamos lutando. Qual é a culpa deles?", perguntava Abu Anza. "Como vou continuar a viver agora?"
Parentes disseram que os gêmeos nasceram cerca de quatro meses atrás, ou um mês após os ataques de 7 de outubro do Hamas a Israel. O massacre, que resultou na morte de 1.200 pessoas e no sequestro de outras 253, de acordo com Tel Aviv, deu início à guerra em curso em Gaza desde então.
O grupo terrorista afirmou que a cifra de óbitos registrados entre aquela data e este domingo é de 30.410. Acredita-se que o número reúna civis e também membros da facção, que se refere a todos como mártires desta guerra.
O conflito também devastou o território de Gaza, deslocando a maioria de sua população rumo ao sul, para a região de Rafah.
De acordo com a UNRWA, agência da ONU para os refugiados palestinos, a situação da faixa é de crise humanitária generalizada, com pelo menos 576 mil habitantes no território enfrentando "níveis catastróficos de insegurança alimentar".
Há relatos de pessoas comendo ração animal e bichos como cavalos para sobreviver. Neste domingo, as autoridades de saúde locais afirmaram que ao menos 15 crianças morreram por desnutrição e desidratação no hospital Kamal Adwan, no norte.
Um dia antes, no sábado, os Estados Unidos distribuíram pela primeira vez kits com comida e água por via aérea, por meio de três aeronaves, imitando uma prática que já vinha sendo feita por países como França e Jordânia no contexto do conflito.
Os corpos dos membros da família Abu Anza mortos no ataque foram envolvidos em sacos pretos e enfileirados. Um homem chorava sobre um deles, uma criança. "Deus tenha misericórdia dela", disse outro homem, consolando-o.
Abu Anza disse ter esperanças de um cessar-fogo antes do Ramadã, o mês muçulmano de jejum que começa por volta de 10 de março. "Estávamos nos preparando para o Ramadã. Como supostamente devo viver minha vida agora?"
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