Aviões militares dos EUA começam a lançar kits com água e comida sobre Gaza

Operação acontece após Israel atirar em civis que aguardavam suprimentos e no mesmo dia de ataque a campo de refugiados

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Cairo | Reuters

Os Estados Unidos realizaram neste sábado (2), pela primeira vez, a entrega de ajuda humanitária por via área na Faixa de Gaza. Segundo integrantes do governo americano, a operação no sudoeste do território recebeu o aval do governo de Israel e envolveu três aeronaves, que distribuíram 38 mil refeições.

A ação havia sido anunciada pelo presidente americano, Joe Biden, na sexta-feira (1º) —um dia antes, o Exército de Israel atirou contra civis que aguardavam para receber alimentos no norte da faixa. Ao menos 118 palestinos morreram na ofensiva segundo o grupo terrorista Hamas, que controla o território, em um episódio que intensificou os comentários de que Tel Aviv atua de forma desproporcional no conflito.

Os israelenses contestam a cifra de óbitos palestinos e negam que eles tenham atacado deliberadamente os civis.

Novas acusações de desproporcionalidade também emergiram neste sábado, quando 11 palestinos, incluindo um médico, morreram, e outras 50 pessoas ficaram feridas após o bombardeio de uma tenda que reunia deslocados internos em Rafah, no extremo sul de Gaza.

O Hamas atribui a ofensiva ao Exército israelense. Segundo o grupo, os atingidos estavam próximos a um hospital de Tel Al-Sultan, ao redor do qual há um campo de refugiados. Uma testemunha que não quis se identificar afirmou à agência de notícias Reuters por telefone que estilhaços chegaram a adentrar o hospital.

Ainda de acordo com a facção terrorista palestina, ao menos 92 pessoas morreram no território nas últimas 24 horas. No total, assim, mais de 30,3 mil pessoas teriam perdido suas vidas na região desde o início do conflito, enquanto outras 71,5 mil teriam ficado feridas. Acredita-se que a cifra englobe tanto civis quanto membros do Hamas, que se refere a todos como mártires.

Israel ainda não comentou o ataque deste sábado, que ocorre em um momento de grande tensão no sul de Gaza. As tropas de Tel Aviv tem afirmado há semanas que devem invadir Rafah para eliminar o que afirmam ser os últimos focos do Hamas na faixa.

Ocorre que a região na fronteira com o Egito abriga mais de 1 milhão de deslocados desta guerra —o que correspondia a cerca de metade da população de Gaza no início dos enfrentamentos.

Palestinos buscam kits com água e comida lançados por aviões americanos em Gaza neste sábado (2) - AFP

De acordo com a UNRWA, agência da ONU para os refugiados palestinos, pelo menos 576 mil habitantes no território enfrentam "níveis catastróficos de insegurança alimentar". Há relatos de pessoas comendo ração animal e bichos como cavalos para sobreviver.

A ONU e diversos países, entre eles o Brasil, alertam para as consequências humanitárias de uma ação militar dessa escala. Figuras do alto escalão do governo de Israel já disseram que a invasão ocorreria em meio ao Ramadã —período sagrado para os muçulmanos que se inicia no próximo dia 10—, caso o Hamas não liberte os reféns israelenses que ainda estão sob seu controle. Acredita-se que um deles seja o brasileiro-israelense Michel Nisenbaum, 59.

Também no sábado, milhares de manifestantes que pedem a libertação de reféns mantidos no território palestino chegaram a Jerusalém depois de uma caminhada de quatro dias.

A marcha saiu na quarta-feira (28) do kibbutz Re'im, perto da onde mais de 250 pessoas que estavam em um festival de música eletrônica foram mortas no 7 de Outubro. A manifestação foi organizada pelo Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas. O grupo segurava bandeiras israelenses, balões amarelos e cartazes com rostos dos reféns estampados.

Manifestantes que pediam libertação de reféns sequestrados pelo Hamas em sua incursão a Israel de 7 de outubro entram em Jerusalém após caminhada de quatro dias a partir do sul do país - Ilan Rosenberg/Reuters

Ao longo desta semana, conversas sobre um possível novo cessar-fogo ocorriam no Qatar entre delegações do Hamas e do governo do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. Mas os episódios de quinta congelaram as negociações.

A Reuters relatou, com base em informações de duas fontes do governo do Egito —um dos principais mediadores do conflito—, que as tratativas devem ser retomadas no Cairo já neste domingo (3).

É um relato diferente do que consta em alguns jornais da mídia israelense, segundo os quais Israel só enviará delegação se receber uma lista completa com os nomes dos reféns que seguem vivos.

Ainda de acordo com os interlocutores egípcios que falaram à Reuters, as duas partes já teriam concordado com a duração da nova trégua, bem como com a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos. Faltaria para a conclusão do acordo, porém, a retirada das tropas de Israel do norte de Gaza e a permissão para que os civis possam retornar a essa porção do território ocupado.

Biden, que no início da semana havia transmitido uma visão otimista de que a trégua sairia até esta segunda (4), disse na sexta-feira (1º) que "ainda não chegamos lá". Além do envio de ajuda por via área, seu governo também avalia o envio de suprimentos pelo mar, a partir do Chipre.

O chanceler palestino, Riyad al-Maliki, por sua vez, falou sobre a esperança de que uma trégua seja acordada a tempo do Ramadã.

Enquanto isso, em uma outra frente do conflito regional no Oriente Médio, um ataque de drone israelense matou mais três combatentes do grupo Hezbollah que, financiado pelo regime do Irã, atua no Líbano. Os homens foram mortos dentro de um carro na cidade de Naqoura.

Ataques israelenses desde outubro passado mataram mais de 200 combatentes do Hezbollah e cerca de 50 civis no Líbano, enquanto ataques do Líbano contra Israel mataram uma dúzia de soldados israelenses e cinco civis. Dezenas de milhares de israelenses e libaneses tiveram de abandonar suas casas em vilarejos na fronteira.

O comando do Hezbollah sinalizou nesta semana que interromperia seus ataques se a ofensiva de Israel em Gaza chegasse ao fim, mas também disse que está pronto para "continuar lutando" se a guerra continuar.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, indicou há cerca de uma semana que Israel planejava aumentar os ataques ao Hezbollah no caso de um cessar-fogo em Gaza, mas estava aberto a um acordo diplomático para retirar os combatentes do Hezbollah da fronteira.

O premiê interino do Líbano, Najib Mikati, disse à agência Reuters que uma interrupção dos combates em Gaza desencadearia negociações indiretas para encerrar os ataques mútuos na fronteira.

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