Descrição de chapéu Migração União Europeia

Polícia da França despeja maior ocupação do país às vésperas dos Jogos Olímpicos

ONGs afirmam que a maioria das 450 pessoas que se abrigavam em fábrica estava em situação regular e aguardava alojamento

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Paris | AFP

Autoridades da França expulsaram, nesta quarta-feira (17) centenas de migrantes que se abrigavam em uma fábrica abandonada no sul de Paris e pediram para que fossem de ônibus para outras partes do país. A operação, que mobilizou 250 agentes, acontece a cem dias dos Jogos Olímpicos na cidade.

Grupos da sociedade civil acusaram as autoridades de querer expulsar pessoas em situação de rua da região de Paris para que a cidade pareça mais bonita durante o evento esportivo, que acontecerá entre 26 de julho e 11 de agosto.

Guarda francês observa migrantes durante operação na maior ocupação da França, em Vitry-sur-Seine, que já abrigou até 450 pessoas - Emmanuel Dunand/AFP

No prédio, localizado em Vitry-sur-Seine, comuna a cerca de quatro quilômetros ao sul de Paris, viviam até 450 migrantes no que era a maior ocupação do país, segundo a imprensa local. A maioria deles tinha documentos, mas aguardava o encaminhamento a um alojamento social, conforme indicaram várias ONGs que visitavam o prédio para ajudá-los.

Parte deles saíram da fábrica no início desta semana, quando as autoridades anunciaram a ação. As cerca de 300 pessoas que permaneciam no imóvel colocaram seus pertences em sacolas e malas e, pouco depois das 8h desta quarta (3h no Brasil), deixaram o prédio escoltados pela polícia, sem incidentes.

A maioria era formada por homens jovens, mas também havia mães com crianças pequenas na multidão.

Do lado de fora, vários ônibus os aguardavam para levá-los a outras cidades, como Orleans, no centro do país, ou Bordeaux, no sudoeste. Muitos deles, porém, afirmaram que não queriam sair da região de Paris.

"Quero ficar aqui", disse Abakar, um sudanês de 29 anos que não quis dar seu sobrenome. À agência de notícias AFP, ele afirmou que estava em Paris para frequentar um curso sobre logística enquanto aguardava uma vaga de emprego que lhe haviam prometido em um supermercado.

Na saída, uma funcionária tentou convencer outro jovem a tentar a sorte em Bordeaux. "Sabe, a França não é só Paris. Bordeaux é bonito, faz mais calor do que aqui", disse ela ao migrante, que também pretendia ficar perto da capital.

As autoridades disseram ter preparado um programa para encontrar alojamento para aqueles que desejassem permanecer na região parisiense, mas a solução ainda é incerta, segundo a imprensa local.

A organização "Le Revers de la Médaille" (o outro lado da moeda, em francês), que alerta para o impacto social do evento, sustenta que as desocupações aumentaram com os preparativos dos jogos.

"O número de pessoas em situação de rua está aumentando. No terreno, observamos efeitos muito preocupantes da preparação dos Jogos Olímpicos na região metropolitana de Paris: expulsões forçadas de populações em situação de habitação informal e precária e afastamento de pessoas em situação de rua", afirma o grupo em seu site.

Para Paul Alauzy, membro da organização Médicos do Mundo, a desocupação está ligada aos Jogos Olímpicos. "Há um ano assistimos a despejos e ocupações esvaziadas que ainda permanecem vazias", afirmou ele à AFP.

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