Álvaro Uribe será primeiro ex-presidente da Colômbia a ir ao banco dos réus

Político foi formalmente acusado pela Procuradoria de suborno de testemunhas e fraude processual em caso de paramilitares

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Buenos Aires

Às credenciais de político mais influente da Colômbia nas últimas três décadas e cacique de uma força política que leva seu nome, Álvaro Uribe, 71, se tornará também o primeiro ex-presidente a ir a um julgamento criminal na história do país sul-americano.

A Justiça de Bogotá decidiu nesta sexta-feira (24) negar um recurso da defesa do líder do uribismo e acatar a denúncia da Procuradoria-Geral contra ele pelos supostos crimes de suborno e fraude processual.

O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe durante entrevista coletiva em Bogotá
O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe durante entrevista coletiva em Bogotá - Luisa Gonzalez - 18.abr.24/Reuters

As acusações estão relacionadas a um caso de compra de testemunhas para que negassem que o ex-líder colombiano tinha envolvimento com grupos paramilitares. O processo se desenrola desde 2012, ano no qual Uribe acusou Iván Cepeda, um senador da oposição, de caluniar a sua família por relacioná-la com os agrupamentos violentos.

Em 2018, em uma inesperada reviravolta, o Supremo colombiano encerrou o caso contra Cepeda e anunciou a abertura de uma nova investigação, agora contra o então senador Uribe, por fraude e por manipulação das testemunhas, que teria pago por meio de advogados.

O ex-presidente, que esteve à frente da Casa de Nariño de 2002 a 2010, nega irregularidades e acusa a Procuradoria-Geral de persegui-lo. Se condenado, poderia ter pena de seis a 12 anos de prisão.

Uribe chegou a receber uma ordem de prisão domiciliar em 2020, quando a máxima instância da Justiça de seu país avaliou que sua liberdade poderia atrapalhar o curso da investigação. À época senador, ele renunciou ao cargo em uma estratégia que fez seu caso ser reiniciado após voltar a um tribunal comum.

Os procuradores afirmam ter gravações telefônicas e testemunhos que mostram como Uribe buscou testemunhos falsos para desvinculá-lo de paramilitares, grupos extremistas que lideraram uma guerra contra as guerrilhas de esquerda entre os anos 1990 e 2000.

Assumindo a Presidência no início do século 21, seu governo foi marcado pelas negociações com as guerrilhas. Às quais, aliás, pertenceu o atual presidente da Colômbia, o esquerdista Gustavo Petro, por óbvio um desafeto de longa data de Álvaro Uribe.

O agora acusado por suborno surfou em sua popularidade em partes pela dura política que adotou contra grupos como as Farc. Mesmo já fora da Presidência, ele liderou em 2016 a campanha pelo "não", que saiu vitoriosa no plebiscito sobre um acordo de paz com as Farc.

A imagem do político foi sendo paulatinamente desgastada nos últimos anos, e o uribismo, a força política que o ronda, perdendo força.

Além do caso que teve novo desdobramento nesta sexta, Uribe está envolvido em uma investigação de que possivelmente teria conhecimento antecipado de um assassinato de um defensor direitos humanos e de um massacre contra camponeses durante seu governo.

Além disso, ele foi recém-denunciado em um tribunal da Argentina por supostamente ter responsabilidade em mais de 6.000 assassinatos e desaparecimentos de civis entre os anos de 2002 e 2008, o que seria enquadrado como crimes contra a humanidade, durante a guerra que seu governo travou contra as guerrilhas.

O caso é apelidado como o dos "falsos positivos". Familiares e também organizações de direitos humanos dizem que, com o aval de Uribe, as Forças Armadas colombianas justificaram a execução de milhares de civis naquele período dizendo que eles, que não faziam parte das guerrilhas, eram guerrilheiros mortos em combate.

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