Descrição de chapéu Vaticano

Da multiplicação de pizzas a lágrimas em estátuas, Vaticano reforça alerta contra casos sobrenaturais

Aprovadas pelo papa Francisco, novas normas permitem interpretação mais moderada de acontecimentos do tipo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cidade do Vaticano | AFP

Da multiplicação de pizzas às lágrimas em imagens religiosas, o Vaticano atualizou nesta sexta-feira (17) as regras relacionadas aos acontecimentos sobrenaturais e reconheceu que episódios descritos como imaginários e mentirosos podem prejudicar os fiéis.

As novas normas, publicadas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovadas pelo papa Francisco, permitem uma interpretação mais moderada de acontecimentos do tipo. "Em certas circunstâncias, nem tudo é preto ou branco", disse a jornalistas o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, chefe do Dicastério. "Às vezes uma possível reação divina se mistura [...] a pensamentos e fantasias humanas."

O papa Francisco no Encontro Mundial sobre Fraternidade Humana, no Vaticano
O papa Francisco no Encontro Mundial sobre Fraternidade Humana, no Vaticano - Ciro De Luca - 11.mai.24/Reuters

A história da Igreja Católica está repleta de fenômenos sobrenaturais envolvendo estátuas e outros objetos religiosos. Há dois meses, o Vaticano disse que eram falsos os supostos milagres de uma imagem da Virgem Maria na cidade de Trevignano Romano, a noroeste de Roma, que não só teria chorado sangue como também aumentado o tamanho das pizzas.

As novas regras atualizam as que existiam desde 1978 e orientam os bispos, que até então tinham liberdade para determinar a autenticidade das visões e aparições. Segundo o documento, o Vaticano solucionou apenas seis casos do tipo desde 1950.

"Hoje chegamos à convicção de que estas situações complicadas, que causam confusão entre os fiéis, devem ser sempre evitadas", disse o cardeal Fernández.

As novas normas exigem maior colaboração entre as dioceses e o Vaticano. Além disso, a decisão final deverá ser aprovada pelo Dicastério, numa etapa considerada crucial para evitar "crimes, manipulação de pessoas, danos à unidade da Igreja, benefícios econômicos indevidos, graves erros doutrinários, etc., que poderiam causar escândalos e minar a credibilidade da Igreja".

Caso o acontecimento seja reconhecido com um "Nihil obstat" ("nada obsta", em latim), a decisão "não implica uma declaração de autenticidade de possíveis fenômenos sobrenaturais", afirma o documento.

Os fiéis podem aderir à ideia de que se trata de um fenômeno sobrenatural, mas não vai haver uma declaração oficial de autenticidade, que no geral deve ser evitada sob as novas regras, a menos que seja autorizada pelo papa. Para o cardeal argentino, a maioria dos grandes locais de peregrinação da igreja se desenvolveram ao longo dos anos sem declarações oficiais sobre a autenticidade do milagre original.

Nos casos mais graves, para evitar qualquer confusão ou escândalo, o Dicastério pedirá ao bispo local para declarar publicamente que a crença no fenômeno não é permitida e que explique as razões da decisão. A igreja, sublinha o Dicastério, deve reagir de forma rápida porque esses fenômenos "adquirem proporções nacionais e até globais" devido à difusão nas redes sociais.

Os fatores considerados pela igreja incluem "a possibilidade de erros doutrinários, uma simplificação excessiva da mensagem do Evangelho ou a difusão de uma mentalidade sectária". Outros são fiéis "enganados por um acontecimento atribuído à iniciativa divina, mas que nada mais é do que o produto da imaginação de alguém" ou de pessoas "inclinadas à mentira".

Segundo o cardeal Fernández, é impossível saber a quantidade de eventos sobrenaturais que ocorrem a cada ano, já que a maioria dos casos é administrada pelas dioceses.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.