Como Bolsonaro, Trump não deveria poder concorrer, diz republicano ao endossar Biden

Kinzinger foi um dos dez deputados do partido que votaram a favor do impeachment do empresário após a invasão do Capitólio, em 2021

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Atlanta

Adam Kinzinger foi um dos dez deputados republicanos a votar a favor do impeachment de Donald Trump após os ataques de 6 de Janeiro, em 2021. Um dos oponentes mais vocais do ex-presidente, ele anunciou hoje o apoio a Joe Biden na eleição deste ano –é o principal nome do partido a endossar o adversário até agora.

"Donald Trump não deveria poder concorrer de novo", disse Kinzinger à Folha nesta quarta-feira (26), ao comparar a situação do republicano com a do ex-presidente brasileiro JAir Bolsonaro (PL), impedido de disputar uma eleição novamente.

O republicano Adam Kinzinger (à esquerda) e o policial do Capitólio Harry Dunn durante entrevista a jornalistas na Assembleia Estadual da Geórgia, nesta quarta-feira (26) - Andre Caballero-Reynolds/AFP

"Bolsonaro parecia seguir o exemplo de Donald Trump e agir como Donald Trump. E isso, para mim, é um lembrete de que o que acontece nos Estados Unidos, em muitos casos, se repete no mundo", afirmou, após participar de uma entrevista a jornalistas organizada pela campanha democrata na Assembleia Estadual da Geórgia, em Atlanta, cidade onde acontece o primeiro debate presidencial, nesta quinta-feira (27).

"Você vê a ascensão de um movimento de extrema-direita aqui, não conservadorismo, mas um movimento de extrema-direita. Você também vê isso na Europa e na América Latina", alerta o republicano, que se define como conservador.

Kinzinger foi deputado pelo Illinois de 2011 a 2022. Crítico duro de Trump após a invasão do Capitólio por apoiadores do ex-presidente, ele e Liz Cheney foram os únicos republicanos que integraram o comitê da Câmara que investigou o 6 de janeiro. Ele também é um dos poucos nomes do partido que manteve oposição a Trump –que comemorou quando o deputado anunciou que não concorreria a um novo mandato.

Ao lado de Kinzinger, estavam o ex-vice-governador da Geórgia Geoff Duncan, também republicano, e o policial do Capitólio Harry Dunn, que estava no prédio no 6 de janeiro. Os três fizeram uma defesa veemente de Biden, em face dos riscos à democracia que associam a um novo mandato de Trump.

Do ponto de vista dos democratas, o gesto faz parte da estratégia de atrair votos de republicanos descontentes com o candidato do partido –nomeadamente, os eleitores de Nikki Haley nas primárias.

"Acho que 90% do país já tem sua opinião formada. Não espero influenciar nenhum desses 90%", reconheceu Kinzinger. "Mas ainda há um grupo de republicanos que estão desconfortáveis em apoiar Donald Trump."

O problema para esse eleitorado é que eles ainda veem como algo impensável votar em um democrata, afirmou. A importância de seu endosso a Biden, e de outros republicanos, é funcionar como uma espécie de chancela a essa troca de lado. "Você não precisa abandonar seus princípios republicanos para votar em um democrata. Tudo o que você está defendendo é a democracia", disse.

Tanto Kinzinger quanto Duncan lamentaram os rumos do próprio partido sob Trump e veem em sua derrota a única maneira de os republicanos se reorganizarem em uma versão "2.0".

"Se você não está comprometido com Donald Trump, não importa no que você acredita em termos de políticas, você será chamado de traidor, comunista, o que for. Isso não é sustentável para o partido. Acho que talvez em até dez anos, não haverá um único republicano que admitirá que votou em Trump", disse.

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