Em meio a uma sessão do Senado nesta quarta-feira (24), o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, foi flagrado fazendo gestos considerados obscenos e racistas às costas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Juntando o polegar ao indicador, ele manteve os demais dedos esticados e fez movimentos repetitivos com a mão ao lado do paletó.
Para grupos de extrema direita, os três dedos esticados simbolizam a letra "w", uma referência à palavra em inglês "white" (branco). Já o círculo formado representa a letra "p", para a palavra "power" (poder). Ou seja, o símbolo é apontado como simbolizando "poder branco".
Pesquisadores que estudam símbolos da extrema direita alegam que o gesto é utilizado como uma mensagem codificada para que possam se identificar, o chamado "dog whistle" (apito para cães), em referência ao instrumento que não é ouvido por humanos, mas pode ser captado pelos cachorros.
É uma estratégia de comunicação que envolve códigos e envia uma mensagem que as pessoas em geral podem interpretar com significados diferentes (no caso do "white power", por exemplo, o símbolo pode representar "ok", ou "vai tomar no c."). Um grupo específico, porém, compreende a mensagem "secreta".
Esses símbolos são muitos usados pelo movimento alt-right, abreviação de “direita alternativa”, uma reformulação da supremacia branca por extremistas —o termo surgiu em 2010 e começou a ganhar força em 2016, especialmente nos EUA, segundo a ADL (Liga Antidifamação), órgão americano que monitora crimes de ódio. É uma ideologia racista ou antissemita que afirma acreditar que a direita tradicional não defende adequadamente os interesses dos brancos. Entenda alguns desses símbolos.
Vaporwave
A estética nascida de um ramo da música eletrônica no começo dos anos 2010 foi apropriada pela nova direita —e há quem a chame de fashwave, juntando a palavra “fascist” (fascista). As imagens, com influência dos anos 1980 e com cores que lembram o néon, mesclam um futurismo retrô e paisagens que parecem saídas da ficção científica. Slogans nacionalistas quase sempre acompanham as imagens.
White Power
O gesto feito pelo assessor Filipe Martins, que costumava simbolizar "OK”, foi apropriado, especialmente nos EUA, como um símbolo de “White Power” (poder branco). Os três dedos esticados simbolizam a letra "w” ("white") e o círculo formado representa a letra "p", para "power". Segundo a ADL (Liga Antidifamação), essa conotação supremacista nasceu no 4Chan, famoso fórum que reúne militantes de direita, em 2017.
Copo de Leite
Ainda em 2017, segundo a ADL, fóruns também disseminaram o conceito de que defensores da supremacia branca bebiam leite para mostrar “a superioridade da raça branca”. A alt-right justificou o simbolismo baseado em artigos falsos de que pessoas brancas digerem melhor a lactose do que pessoas de outras raças. No Brasil, o assunto veio à tona no ano passado, quando Jair Bolsonaro bebeu um copo de leite durante uma de suas lives semanais. O gesto foi copiado por apoiadores.
Pepe, o sapo
Pepe é um personagem de desenho animado que se tornou um meme popular e que não tem, originalmente, conotações racistas ou antissemitas. No entanto, usuários de fóruns como 4Chan e Reddit, membros do movimento alt-right, outra vez começaram a se apropriar da imagem, adicionando frases com discurso de ódio ao lado do sapo. A ADL alerta, portanto, que postar um meme com a figura de Pepe não significa que alguém defenda ideias racistas —é preciso avaliar o contexto para ver se foi usado como um "dog whistle". Em 2016, a organização se juntou ao criador do personagem, Matt Furie, para criar a campanha #SavePepe (salve o Pepe) para tentar dissociar o desenho dos discursos de ódio.
Kekistão
Outro símbolo que também nasceu da cultura dos memes da extrema direita é a bandeira do país fictício Kekistão, que seria liderado por uma divindade chamada Kek. Segundo a organização Southern Poverty Law Center (SPLC), que estuda e combate a intolerância em vários estados sulistas dos EUA, o símbolo é uma forma de fazer piadas de “progressistas e conservadores hipócritas".
Kek seria um deus do caos e das trevas, com a cabeça de um sapo. A imagem é derivada da bandeira nazista, mas com as cores verde e branco, e, em vez da suástica, traz as letras que formam Kek. A bandeira foi levada por apoiadores de Donald Trump ao invadirem o Congresso americano em 6 de janeiro.
Bandeira de Gadsden
Ilustrada com uma cobra cascavel e considerada uma das primeiras bandeiras dos americanos, é hoje um símbolo cada vez mais ligado ao ultraconservadorismo dos EUA. Criada pelo político e general Christopher Gadsden em 1775, durante a Guerra de Independência, a bandeira foi usada à época pela Marinha Continental, estabelecida por George Washington em meio ao conflito.
A cobra, que representava as então Treze Colônias, aparece enroscada, como se estivesse pronta para atacar, o que é confirmado pelo lema “don’t tread on me” (não pise em mim), na parte inferior da bandeira.
Mais recentemente, a bandeira passou a ser adotada por conservadores do movimento Tea Party, tendo sido usada por defensores de pautas como maior acesso a porte de armas, libertarianismo e nacionalismo. Ela também foi usada por invasores do Capitólio. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, já foi criticado por ter sido fotografado com a bandeira de Gadsden ao fundo. Na foto, ele e mais duas pessoas empunham armas.
Anti-antifa
Com várias vertentes e definições, o movimento dos antifa (antifascistas) tem como cerne o combate a regimes autoritários, geralmente ligados à ultradireita. O símbolo rodou o mundo impulsionado pelos protestos do movimento Black Lives Matter nos EUA após o assassinato de George Floyd.
O então presidente Donald Trump chegou a classificar o movimento como “grupo terrorista” —no Brasil, os antifa também são um movimento contrário ao bolsonarismo. Na esteira, os grupos extremistas começaram usar a imagem original com uma linha vermelha cortando-a.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.