Descrição de chapéu oriente médio

Eleição no Irã terá 2º turno entre moderado e linha-dura

Com menor comparecimento às urnas da história, votação do 1º turno acontece 50 dias após morte de presidente Raisi em queda de helicóptero

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São Paulo

O moderado Masoud Pezeshkian, 69, e o conservador Saeed Jalili, 58, disputarão o segundo turno da eleição presidencial do Irã no próximo dia 5, de acordo com os resultados provisórios divulgados neste sábado (29) pelo Ministério do Interior, com mais de 24 milhões de votos apurados.

Nenhum dos candidatos obteve mais de 50% dos votos no primeiro turno, realizado nesta sexta-feira (28). Pezeshkian, médico que serviu como ministro da Saúde no governo de Mohammad Khatami (1997-2005), o mais reformista do ciclo pós-1989, tinha 10 milhões de votos (42%) na primeira parcial, à frente do diplomata linha-dura Jalili, com mais de 9,4 milhões de votos (38%).

O conservador Saeed Jalili, à esquerda, e o reformista Massoud Pezeshkian, à direita, que disputarão o segundo turno das eleições no Irã - Atta Kenare - 29.jun.2024 e 23.jun.2024/AFP

Os demais concorrentes autorizados pelo regime —os também conservadores Mohammad Baqer Ghalibaf, presidente do Parlamento, e o clérigo xiita Mostafa Pourmohammadi— ficaram bem atrás, com 3,3 milhões de votos (13%) e 206 mil votos (0,8%), respectivamente.

A participação eleitoral foi a mais baixa desde que os radicais religiosos do aiatolá Ruhollah Khomeini tomaram o poder e fundaram a República Islâmica, em 1979 —dos 61 milhões de eleitores chamados para votar, apenas 40% compareceram às urnas, segundo a pasta do Interior.

A mídia estatal reportou a ocorrência de pelo menos um incidente durante a votação. Ocorreu na província de Sistan-Baluchestan, onde homens armados não identificados atacaram um veículo que transportava urnas eleitorais e mataram dois membros das forças de segurança.

A disputa se tornou imprevisível diante das circunstâncias, a começar pelo ineditismo de seu motivo: a morte do então presidente, o ultraconservador Ebrahim Raisi, em uma queda de helicóptero perto da fronteira com o Azerbaijão, no último 19 de maio. A inesperada vacância levou à antecipação da eleição em um ano.

Desde a Revolução de 1979, será apenas a segunda vez que os iranianos terão de ir às urnas em segundo turno. A primeira vez ocorreu em 2005, quando Mahmoud Ahmadinejad venceu o ex-presidente Akbar Rafsanjanī (1989-1997).

A morte de Raisi desencadeou uma confusa disputa por poder e atrapalhou os planos do aiatolá Ali Khamenei, desde 1989 substituto de Khomeini no posto de líder supremo. O presidente vitimado no mês passado vinha sendo preparado para ocupar a cadeira do atual chefe do regime, que tem 85 anos e uma saúde frágil.

O cargo de presidente não é, no sistema político peculiar do Irã, uma garantia de projeção futura. Dos cinco eleitos no voto popular até aqui desde 1989, quando as regras de governança atuais passaram a valer, apenas Raisi era visto como um futuro líder supremo, com voz sobre todos os assuntos da nação.

Isso não tira, contudo, a importância do chefe do Executivo. Ele tem papel central na condução do cotidiano do governo, da política externa e da manutenção dos pilares repressivos do regime fundamentalista.

A pouca participação no voto desta sexta é uma derrota para o regime, que contava com mais eleitores nas urnas para atenuar o desgaste de imagem com o descontentamento público diante da crise econômica e das já habituais restrições à liberdade política e social. O sufrágio é facultativo.

Em 2021, Raisi já havia sido eleito com o menor comparecimento até então, pouco menos de 49%, um sinal da desaprovação popular a um processo visto como um jogo de cartas marcadas.

Os 12 membros do Conselho de Guardiões, órgão que tem palavra final sobre todas as candidaturas no país, deram aval para apenas 5 postulantes conservadores e apenas 1 moderado, entre 80 que se inscreveram —foram barrados inclusive ex-presidentes, como o linha-dura Ahmadinejad.

Agora, no segundo turno, Pezeshkian, o único não conservador na disputa, seria um nome conveniente aos aiatolás para um arranjo de forças. Ele defende pontos que desagradam a Khamenei, como a volta das negociações nucleares com os Estados Unidos, mas não de forma agressiva. Jalili, por sua vez, era justamente o negociador das questões atômicas sob Ahmadinejad e conhecido pelo discurso duro contra o Ocidente.

Após a divulgação parcial dos resultados, porém, Jalil obteve o apoio de Ghalibaf, que não conseguiu passar para o segundo turno. "Peço a todas as forças revolucionárias e a meus seguidores (...) para eleger o candidato da frente revolucionária", afirmou. Assim como ele, outros dois candidatos abandonaram a corrida na véspera da votação num esforço de última hora pela unidade do campo conservado

O desfecho eleitoral em Teerã também tem peso regional, já que coincide com a escalada de tensão provocada pela guerra entre Israel e os aliados iranianos Hamas, na Faixa de Gaza, e Hezbollah, no Líbano. O auge do envolvimento do Irã foi em abril, quando o país lançou cerca de 200 drones e mísseis em direção ao território israelense, como retaliação ao ataque, atribuído a Tel Aviv, à embaixada iraniana em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária do Irã.

Com Reuters e AFP

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