Referência da direita na América Latina, Bukele inicia 2º mandato em El Salvador

Com 85% dos votos em eleições com suspeita de irregularidade, ele vai governar com quase totalidade do Congresso

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San Salvador | AFP

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, iniciou neste sábado (1º) seu segundo mandato que tem a manutenção da segurança pública como desafio em um cenário praticamente sem oposição —em que, regionalmente, ganhou fama como ícone da direita da América Latina.

Vestido com um terno de colarinho e punhos dourados, Bukele, 42, recebeu a faixa presidencial do chefe parlamentar Ernesto Castro, no Palácio Nacional, no centro histórico de San Salvador.

Vestido com um terno e faixa presidencial, Nayib Bukele discursa ao lado de sua esposa, Gabriela de Bukele, vestida de azul, na sacada do Palácio Nacional
Nayib Bukele discursa ao lado de sua esposa, Gabriela de Bukele, na sacada do Palácio Nacional, após receber a faixa presidencial - Jose Cabezas/Reuters

"A sociedade salvadorenha ainda está doente, mas já não tem câncer", disse Bukele à multidão. O presidente reeleito se referia às gangues que fizeram do país um dos mais perigosos para se viver no continente, mas que foram controladas depois de uma política de prisões em massa.

"Agora que resolvemos o mais urgente, que era a segurança, vamos nos concentrar nos problemas importantes, começando pela economia", disse o presidente, que enfrenta novos desafios para revitalizar uma economia estagnada e combater a pobreza. Bukele acrescentou que sua "prescrição está funcionando."

A cerimônia de posse deste sábado ocorreu em meio a preocupações com a segurança, depois de uma ameaça de bomba.

Assistiram à posse o presidente Santiago Peña, do Paraguai, Rodrigo Chaves, da Costa Rica, e o rei Felipe, da Espanha. Mas a atenção se concentrou no argentino Javier Milei, com quem Bukele compartilha sua simpatia pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump.

O ex-publicitário de ascendência palestina inicia outro mandato de cinco anos após enfraquecer a oposição com 85% dos votos nas eleições de fevereiro, em que ganhou quase a totalidade do Congresso (54 de 60 assentos).

O pleito, porém, tem suspeitas de irregularidades, a começar pela própria recondução ao cargo, vetada pela Constituição salvadorenha. Ao longo de seu mandato, o governo foi suspeito de negociar com as gangues do país e de obstruir investigações.

Assíduo nas redes sociais, Bukele conta com o apoio dos demais poderes estatais, incluindo magistrados que lhe permitiram concorrer à reeleição, apesar de ser proibida pela Constituição.

"Criticam que ele é autoritário, que não respeita os direitos humanos, que não presta contas do dinheiro que usa, que é ditador. Ele nos devolveu a segurança e isso já é muito. Por mim, que governe até onde puder", disse à agência de notícias AFP na praça Miguel Herrera, 68, treinador esportivo aposentado.

Bukele terá ainda mais poder porque os deputados aprovaram recentemente uma reforma que permite mudanças constitucionais, inclusive, segundo analistas, abre caminhos para a reeleição de forma indefinida.

Tamara Taraciuk, analista do centro Diálogo Interamericano, afirmou à AFP que Bukele eliminou "freios e contrapesos essenciais para uma democracia" e "é difícil pensar" que "vá reverter suas medidas autoritárias".

Em uma América Latina assolada pela violência criminal, Bukele é um presidente popular graças às suas políticas de "mão firme" contra as gangues que outros mandatários tentam emular.

Bukele afirma ter livrado o país da violência causada por gangues, depois de construir uma mega-prisão. Desde março de 2022, El Salvador vive sob um estado de exceção que deixou 80 mil detidos sem ordem judicial.

Organizações como Human Rights Watch e Anistia Internacional denunciam mortes, torturas e detenções arbitrárias.

Para especialistas, porém, a lua de mel pode acabar devido às preocupações econômicas.

O país enfrenta uma dívida pública de 30 bilhões de dólares, 29% de seus 6,5 milhões de habitantes são pobres e muitos continuam emigrando para os Estados Unidos em busca de trabalho.

Os 3 milhões de salvadorenhos que vivem no exterior enviam remessas de 8 bilhões de dólares anuais, o que representa 24% do PIB do país.

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