Descrição de chapéu França

Candidatos desistem do 2º turno na França para apoiar rival contra ultradireita

Mais de 170 terceiros colocados da esquerda e do centro abrem mão da disputa para tentar fortalecer adversário contra a Reunião Nacional, segundo o jornal Le Monde

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Paris | Reuters

Os adversários da ultradireita na França tentam construir uma frente unida no segundo turno das eleições legislativas para bloquear a Reunião Nacional (RN), depois que o partido teve um desempenho histórico e saiu vitorioso do primeiro turno, ocorrido neste domingo (30).

A RN e seus aliados venceram a primeira volta com 33% dos votos, seguidos pelo bloco de esquerda Nova Frente Popular, com 28%, e bem à frente da aliança centrista do presidente Emmanuel Macron, que marcou apenas 22%, segundo resultados oficiais.

A líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, chega à sede do partido, em Paris
A líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, chega à sede do partido, em Paris - Benoit Tessier - 1º.jul.24/Reuters

Se a RN, de discurso anti-imigrante e eurocético, pode formar um governo, tudo dependerá agora de quão bem-sucedidos outros partidos serão em impedir a sigla de Marine Le Pen. Para isso, precisam se juntar em torno dos candidatos rivais mais bem colocados em centenas de distritos eleitorais em toda a França no segundo turno.

A RN precisaria de pelo menos 289 assentos no Parlamento para obter maioria. Pesquisas estimam que o primeiro turno a tenha colocado no caminho para conquistar algo entre 250 e 300 cadeiras.

Segundo contagem do jornal Le Monde, mais de 170 candidatos já desistiram de suas campanhas e anunciaram apoio ao rival de centro ou de esquerda contra a RN. A confirmação de participação no segundo turno de quem pontuou 12,5% ou mais no primeiro turno precisa ser feita até a noite desta terça (2).

A retirada tática pode remodelar as intenções de voto em todo o país e fazer frente à RN, já que cerca de 300 distritos eleitorais, ou seja, mais da metade dos 577, terminaram o primeiro turno com um cenário de três candidatos com votos suficientes para ir ao segundo turno.

Os líderes da frente de esquerda e da aliança centrista de Macron indicaram já na noite de domingo que retirariam seus próprios candidatos em distritos onde outro candidato rival estava mais bem colocado para vencer a RN no segundo turno.

Não está claro ainda se o pacto implica desistências inclusive quando o candidato mais forte for da França Insubmissa, partido liderado por Jean-Luc Mélenchon, figura divisiva da esquerda francesa que tem propostas vistas como radicais.

Macron, no entanto, afirmou a seus ministros nesta segunda que impedir que a RN obtenha uma maioria é a prioridade, de acordo com uma pessoa com conhecimento do teor do encontro, segundo a agência Reuters. Isso, então, implicaria alianças com candidatos da França Insubmissa.

Por muito tempo um pária na França, a RN está agora mais próxima do poder do que nunca. Le Pen buscou limpar a imagem de um partido com retórica extremista, uma tática que funcionou em meio à insatisfação de eleitores com Macron, visto muitas vezes como desconectado das preocupações cotidianas da população.

Os ganhos eleitorais da RN foram bem recebidos por nacionalistas e grupos radicais de direita em toda a Europa, incluindo a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o partido Vox, da Espanha. Pedro Sánchez, premiê socialista da Espanha, disse que os partidos de esquerda ainda poderiam bloquear uma vitória da RN.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, sinalizou preocupação com o crescimento de "um partido que vê a Europa como o problema, não a solução" e fez paralelos com o crescente apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em seu país.

"Estou satisfeito, porque precisamos de mudanças", disse o apoiador da RN Jean-Claude Gaillet, 64, no reduto de Le Pen no norte, em Henin-Beaumont. "As coisas não mudaram, e elas devem mudar."

Outros, por sua vez, temem que o crescimento da RN e sua plataforma nacionalista provoquem tensões na sociedade francesa. "Não acho que as pessoas percebam o que está acontecendo, elas estão apenas pensando no custo de vida e em coisas de curto prazo", disse a eleitora Yamina Addou do lado de fora de um supermercado na cidade vizinha de Oignies, ao sul de Lille. "Acho isso muito triste."

O principal cenário alternativo para um governo liderado pela RN seria uma Assembleia Nacional sem maioria, o que pode deixar a França na prática ingovernável pelo restante do mandato de Macron, que vai até 2027 —ele já disse que não renunciará, qualquer que seja o resultado do pleito legislativo.

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