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Sem candidato, cidade da Alemanha se depara com cédula em branco e elege prefeito à revelia

Em Hirschberg, funcionário municipal escolhido tem uma semana para decidir se aceitará cargo

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DW

Após quase 41 anos, Rüdiger Wohl (sem partido) cansou-se de administrar a pacata Hirschberg , cidade no estado da Turíngia, na Alemanha, com pouco mais de 2.000 habitantes e a menos de 40 quilômetros de distância da fronteira com a República Tcheca.

Aos 66 anos, Wohl vai se aposentar. Quer passar mais tempo com a família, andar de bicicleta, cuidar do jardim. Mas não encontrou ninguém disposto a substituí-lo.

Vista aérea de Hirschberg, cidade no estado alemão de Turíngia que precisou escolher prefeito à revelia após ninguém se candidatar ao cargo - Alexander Rochau/AdobeStock

É por isso que, no primeiro turno da votação para prefeito, em 26 de maio, ao se depararem com uma cédula em branco, os 1.081 eleitores de Hirschberg que compareceram às urnas puderam escolher ao acaso o próximo administrador da cidade.

Por que ninguém quer ser prefeito?

Hirschberg tem uma mansão barroca no topo de uma colina, um jardim de infância, uma escola regular e uma piscina pública. A cidade vive do engajamento voluntário de seus moradores —são eles que se organizam em brigadas de incêndio e resgate, associações esportivas e de festividades, como o Carnaval, e também na administração da cidade.

Como prefeito honorário, Wohl detém o cargo voluntário mais alto da cidade e comanda uma equipe de quase 20 pessoas. Pelo trabalho, recebe em valores brutos exatos 1.623 euros (R$ 9.282), ou menos de um salário mínimo na Alemanha, a título de compensação. Descontados os impostos e as contribuições sociais, não sobra muito dinheiro.

É por isso que, segundo Wohl, ninguém quer assumir a dianteira dos assuntos de Hirschberg: o trabalho e a responsabilidade são os mesmos de um prefeito em tempo integral, mas a remuneração, não. E ele diz ser praticamente impossível exercer a atividade em paralelo a qualquer profissão. "Prefeito é algo que se é nas 24 horas do dia, nos 365 dias do ano —tanto faz se há um incêndio ou enchente em pleno Natal", afirma em entrevista à emissora pública MDR.

Wohl foi eleito vice-prefeito em 1983, quando Hirschberg ainda pertencia à antiga República Democrática Alemã (RDA). Depois da reunificação, tornou-se prefeito, posição que exerceu em tempo integral até virar prefeito honorário, em 2012 —um cargo com remuneração de valor simbólico. Isso porque, no estado da Turíngia, apenas cidades com mais de 3 mil habitantes podem decidir pela criação de um cargo de prefeito em tempo integral, com melhor remuneração.

Na falta de um candidato voluntário, elege-se alguém à revelia

Na falta de um candidato voluntário, e diante da cédula em branco, os eleitores de Hirschberg ficaram, então, livres para escolher qualquer pessoa que quisessem —um candidato eleito à revelia.

Foi assim que dois nomes de pessoas que não se candidataram acabaram disputando um segundo turno no último domingo (09) —Wohl, que governou todos esses anos sem a concorrência de um candidato sequer, não foi um deles por pouco.

No páreo estavam Ronald Schricker —diretor da associação de judô, engajado em um museu local e funcionário do município encarregado, entre outras coisas, de assuntos culturais— e Benjamin Lill —vereador honorário e prefeito honorário substituto de Hirschberg.

No final, Schricker acabou recendo 82,8% dos votos no segundo turno, contra 17,2% de Lill.

A posse do eleito a contragosto, porém, não é obrigatória. O vencedor agora tem uma semana para pensar se quer mesmo assumir a prefeitura de Hirschberg. Se Schricker aceitar de fato o cargo, ele terá que desistir do trabalho na cultura municipal, pelo qual recebe um salário, já que a acumulação de cargos não é permitida.

Caso ele não se disponha a assumir a Prefeitura, caberá à nova Câmara de Vereadores (honorários) eleger um prefeito honorário interino e convocar novas eleições em até três meses. Caso ninguém se candidate mais uma vez, os eleitores poderão de novo indicar livremente qualquer pessoa ao cargo. E o ciclo arrisca a se repetir ad infinitum —algo que seria ruim para a cidade.

Uma eventual solução seria incorporar Hirschberg a uma outra cidade vizinha —algo distante, por enquanto, já que não há consenso entre as municipalidades para tal fusão. "A independência política é importante para as pessoas", explica Wohl.

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