Orbán diz que Alemanha 'já não tem mesmo cheiro de antes' devido à imigração

Premiê húngaro visitou Berlim antes de assumir presidência rotativa da UE, mas foi recebido sem pompa por Scholz

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, disse nesta sexta-feira (21) em visita a Berlim que a Alemanha "não é mais o que era" por causa da imigração. "Se compararmos com o país de dez anos atrás, o sabor já não é o mesmo, o cheiro já não é o mesmo", disse Orbán em entrevista a uma rádio húngara.

Orbán, que está no poder na Hungria desde 2010 graças a estratégias consideradas autoritárias por seus oponentes, é um ferrenho crítico das políticas de imigração da União Europeia. Budapeste vai ocupar a presidência rotativa do Conselho da UE a partir de julho.

O premiê da Hungria, Viktor Orbán (segundo da esquerda para direita), e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz (último à direita), assistem ao jogo de futebol entre os dois países pela Eurocopa em Stuttgart, na Alemanha - Damien Meyer - 19.jun.24/AFP

O premiê húngaro foi recebido na Alemanha pelo primeiro-ministro Olaf Scholz —a visita teve como objetivo apresentar o programa que a Hungria pretende perseguir na presidência do Conselho Europeu. Os dois sentaram na mesma fileira no estádio de Stuttgart na última quarta (19) e assistiram ao jogo de futebol entre as seleções dos dois países pela Eurocopa, quando os alemães derrotaram os húngaros por 2 a 0.

Orbán, porém, não foi recebido com honras militares em Berlim nem deu declarações conjuntas ao lado de Scholz, como é comum em visitas de Estado —um sinal de que as relações entre os dois países estão em um momento particularmente ruim, em especial pela posição pró-Rússia da Hungria e pelo comportamento antidemocrático de Orbán, que já despertou tentativas de sanções por parte da UE.

Na entrevista à imprensa húngara, Orbán descreveu a Alemanha como um país completamente transformado nos cerca de dez anos desde a decisão da premiê Angela Merkel, que governou de 2005 a 2021, de acolher centenas de milhares de refugiados sírios e de outros países a partir de 2015.

"Não é mais aquela Alemanha que nos deu o exemplo por tanto tempo. Antigamente, se você quisesse ver ordem, se você quisesse ver um trabalho bem feito, bastava vir até a Alemanha", disse o premiê. Agora, o país "é um mundo colorido e multicultural no qual imigrantes não são mais apenas convidados, e essa é uma grande diferença".

Em contraste, de acordo com a visão de Orbán, suas políticas duras de imigração tornaram a Hungria "uma ilha de paz" na União Europeia. O primeiro-ministro é conhecido por falas racistas a respeito da questão —em 2022, disse que os húngaros são contra imigração porque não querem "se tornar um povo mestiço".

No governo do premiê, a Hungria também ergueu cercas de arame farpado nas suas fronteiras e se recusa a aceitar refugiados de outros países do bloco, o chamado mecanismo de solidariedade, que tem o objetivo de ajudar países como Itália e Grécia, que lidam com grandes quantidades de migrantes que chegam pelo Mediterrâneo.

Orbán também fez críticas veladas ao governo Scholz na entrevista, dizendo que "governos de esquerda não apenas acolhem imigrantes, mas dão a cidadania de maneira acelerada a centenas de milhares de pessoas". O premiê húngaro descreveu a atual gestão da UE como uma "coalizão a favor da guerra e da imigração".

A Hungria tem causado frustração nos membros do bloco que apoiam a Ucrânia na guerra contra a Rússia ao bloquear ajuda financeira da UE a Kiev —todos os 27 membros têm poder de veto, e Budapeste só cedeu depois de longas negociações.

As relações pessoais entre Orbán e Scholz também não são calorosas. A mídia alemã reportou em dezembro que, durante uma cúpula de líderes da UE que tentava decidir se apoiava o processo de adesão da Ucrânia ao bloco, o premiê alemão sugeriu que seu colega húngaro saísse da sala para tomar um café.

Com a ausência de Orbán, os outros 26 membros aprovaram a resolução, já que a Hungria não utilizou seu poder de veto. A manobra permitiu que a UE se aproximasse da Ucrânia e deu a Orbán uma possibilidade de cooperar sem precisar votar a favor da medida.

Com AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.