Descrição de chapéu Afeganistão

Podcast sobre Afeganistão discute como país se afundou em fundamentalismo

Produção da britânica Chattam House faz raio-x da nação novamente sob controle do Talibã e de sua relação com os EUA

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São Paulo

O Afeganistão é um dos buracos em que caiu a mais atrasada das formas de islamismo. As escolas foram fechadas em agosto de 2021 para crianças e adolescentes do sexo feminino. Se for para seguir ao pé da letra a religiosidade do Talibã, grupo que controla o país asiático de 32 milhões de habitantes, os afegãos continuarão num beco sem saída.

A questão é tratada em podcast pela Chatham House, instituição britânica com sede em Londres e que é especializada em política internacional. Por qualquer ângulo que ele seja abordado, o Afeganistão é um impasse em termos de civilização.

A imagem mostra um grupo de soldados vestidos com uniformes camuflados e usando lenços vermelhos na cabeça, caminhando por uma rua estreita de uma cidade. No primeiro plano, à direita, há uma mulher vestindo uma burca azul. Ao fundo, é possível ver edifícios com placas e montanhas cobertas de neve.
Guardas do Talibã passam por uma mulher de burca enquanto patrulham as ruas na cidade de Baharak, no Afeganistão - Wakil Koshar - 26.fev.24/AFP

Recapitulando: o país hospedou a Al Qaeda que, entre outros ataques, praticou no 11 de Setembro de 2001 os atentados terroristas em Nova York contra o World Trade Center. Invadido pelos Estados Unidos, manteve-se por 17 anos como República Islâmica que o grupo Talibã nunca deixou de ameaçar.

Foi do Afeganistão que o presidente Joe Biden retirou seus militares e, na prática, favoreceu a volta do fundamentalismo islâmico e o recuo nos direitos humanos e na educação das mulheres, que o Talibã considera seres inferiores.

Shaharzad Akbar foi uma das participantes do podcast. Ela dirigiu até há menos de três anos a Comissão Afegã Independente de Direitos Humanos e trouxe uma informação importante. Ao contrário do que acontecia com a proibição da instrução de mulheres nos anos 1990, o ensino voltou a ser ministrado, mas por meio de redes sociais. Ou seja, as mulheres estão contornando a proibição religiosa e conseguem transmitir ensinamentos para meninas e adolescentes. Só não fazem o mesmo com o ensino universitário.

A pesquisadora, que abandonou seu país em 2021 e diz não ter aceitado um colapso tão rápido de um regime que oferecia alguma forma sumária de democracia, acompanha a atualidade afegã em nome da entidade que promoveu o podcast.

Outra participante foi Nilofar Sakhi, pesquisadora do Conselho Atlântico do Sudeste Asiático, em Washington. Uma de suas informações: as mulheres, que formavam o magistério primário e secundário, foram deslocadas para outras atividades e não chegaram a ser demitidas do mercado de trabalho. No entanto, elas tiveram seus salários reduzidos pelo Talibã e hoje recebem o equivalente a US$ 17 por mês.

São claramente participantes de redes clandestinas de ensino. É uma circunstância que beneficia pessoas com mais recursos, donos de computadores pessoais e que por isso têm acesso à internet e às redes sociais, por meio das quais se comunicam e trocam experiências com mulheres de outros países islâmicos em que existe maior tolerância.

Uma terceira participante do podcast é Heather Hurlburt, associada ao programa americano de pesquisas da Chatham House. Ela discorre sobre os sentimentos hoje predominantes nos EUA, em meio a imigrantes afegãos que lamentam o recuo militar do presidente Biden e têm por enquanto poucas esperanças de volta ao país de um contingente militar importante, capaz de restabelecer alguma forma civilizada de laicidade e de liberdades públicas.

A situação do Afeganistão é de qualquer modo confusa. Existem lógicas religiosas e políticas que se trombam e que impedem a prática de uma única maneira de se lidar com o dia a dia. Um dos exemplos é a segurança. Inexiste um meio aceito por todos para reduzir a segurança a uma forma de convívio entre as comunidades. O Talibã administra essa diversidade e finge lidar com uma sociedade relativamente homogênea, que não chega a existir como tal.

Outro detalhe, diz Hurlburt, está na ausência de confrontos entre facções que eram marcadas pela vida social e religiosa dos anos 1990. Mesmo assim prevalece por meio do Talibã o sectarismo religioso que aceita a prática da repressão e da tortura em nome de uma lógica islâmica superior a todos.

De certo modo, toda essa questão se atrelou à política interna dos EUA. No governo de Barack Obama, a secretária de Estado Hillary Clinton procurou valorizar ao máximo a promoção feminina naquele território asiático e só entregou os pontos quando foi vencida eleitoralmente por Trump, que deu pouca atenção para impor à sociedade afegã alguma forma de liberdade. Um quadro que se degradou e que emergiu com Biden.

"Has the World Forgotten the Women of Afghanistan?"

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