Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

'Não vamos deixar as ruas', diz líder opositora em ato contra Maduro na Venezuela

Resultado das eleições, com vitória do ditador, é amplamente contestado; manifestações ocorrem também em outros países

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Porto Alegre

Em sua primeira aparição pública desde o dia 3 de agosto, a líder oposicionista venezuelana María Corina Machado disse neste sábado (17) que não vai aceitar o resultado eleitoral divulgado pelo regime de Nicolás Maduro.

"Não vamos deixar as ruas", disse Corina, que chegou sob aplausos ao protesto em Caracas e discursou em cima de um caminhão para milhares de apoiadores. "Faremos com que cada voto seja respeitado."

A oposição liderada por Corina, impedida pela Justiça eleitoral cooptada pelo chavismo de concorrer no pleito, denuncia fraude nos resultados das eleições do dia 28 de julho.

A imagem mostra uma grande multidão reunida em uma manifestação em Caracas, na Venezuela. As pessoas estão vestidas principalmente de branco e seguram bandeiras da Venezuela. No centro da imagem, há um veículo com uma plataforma, onde algumas pessoas estão se apresentando. O ambiente é ensolarado e há árvores ao fundo.
A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, durante ato contra o regime de Nicolás Maduro em Caracas - Gaby Oraa/17.ago.24/Reuters

Maduro foi proclamado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para um terceiro mandato com 52% dos votos, contra 43% do candidato antichavista Edmundo González Urrutia e 5% de oito candidatos minoritários somados.

A oposição contesta o resultado e publicou em um site as cópias de mais de 80% das atas de votação que indicam a vitória de González com 67% dos votos.

Segundo Maduro e o CNE, as atas divulgadas foram falsificadas pela oposição. O órgão eleitoral ainda não publicou a contagem detalhada mesa por mesa e afirma que o sistema de votação automatizado foi alvo de um "ataque ciberterrorista".

No ato deste sábado, Corina disse que o resultado das eleições "surpreendeu um regime que está totalmente desconectado da realidade". "Este regime, quando se viu derrotado e descoberto, optou pela mais cruel de todas as políticas: se entrincheirar em um grupo do alto comando militar e ordenar uma campanha de repressão que tem sido a mais horrível e cruel da história da Venezuela", afirmou.

Corina e González são investigados pelas autoridades venezuelanas por "incitação à rebelião" e outras acusações, pouco depois de Maduro responsabilizá-los por atos de violência e pedir que fossem presos. O ditador venezuelano também diz que os dois estão por trás de uma tentativa de golpe de Estado. Desde então, ambos estão na clandestinidade.

De acordo com a imprensa local, os protestos nas últimas três semanas resultaram em 25 mortes e mais de 2.400 detidos, classificados por Maduro de terroristas que querem desestabilizar o regime.

A convocação da oposição para atos neste sábado se espalhou pelo mundo, com protestos ocorrendo em países da Europa, Ásia e Oceania, e outros marcados para esta tarde na América do Sul.

Em Bogotá, centenas de pessoas se reuniram para pedir a saída de Maduro, carregando bandeiras e cartazes com frases de protesto. Cerca de 3 milhões de venezuelanos residem na Colômbia atualmente. Ao todo, quase 8 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos.

Em São Paulo, manifestantes se reuniram na praça do Ciclista, em frente à estátua de Francisco de Miranda, na avenida Paulista, para pedir o reconhecimento de González como novo presidente. Um dos cartazes no evento dizia "Lula amigo do ditador", criticando a postura do presidente brasileiro perante a situação venezuelana.

Na sexta-feira (16), durante agenda em Porto Alegre, Lula subiu o tom contra Maduro. Segundo Lula, a Venezuela não é uma ditadura, mas Maduro conduz um "governo com viés autoritário".

"[Os atos] mostram que a soberania popular não está sendo respeitada na Venezuela. Tanto a expressiva votação contra o Maduro como as manifestações massivas mostram que a soberania popular está contra Maduro", disse à Folha o venezuelano Guillermo Pérez, 37, doutorando em ciência política que participou do protesto na avenida Paulista.

"Isso é importante porque muitos presidentes querem deixar as coisas como estão na Venezuela, mencionando a soberania de cada país, mas, para que isso seja efetivo, ela deve expressar a soberania popular."

Na foto, manifestantes se reúnem em uma área pública. Uma pessoa segura um cartaz dizendo "Lula amigo do ditador", e outra segura um cartaz em espanhol, que se traduz como "Maduro, o que é que não entende?"
Protesto contra Maduro reuniu venezuelanos, em frente a estátua de Francisco de Miranda, na Avenida Paulista - Bruno Santos/Folhapress

Em Madri, onde moram cerca de 280 mil venezuelanos, milhares lotaram a tradicional praça Puerta del Sol, que tem capacidade para 15.000 pessoas. "Minha família está na Venezuela, e quero que seja um país livre, que tenha oportunidades", disse Darwin Linares, 23, que está na Espanha há oito anos.

Presente no ato, Carolina González, filha do candidato opositor venezuelano, repassou uma mensagem do pai agradecendo a mobilização do público. "Temos os votos, temos as atas e temos o apoio da comunidade internacional, mas sobretudo temos um plano para recuperar o nosso país", leu Carolina ao microfone.

A prefeita conservadora de Madri, Isabel Díaz Ayuso, também participou da manifestação. Em postagem no X, ela acusou apoiadores e lideranças do Partido Socialista, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, de serem cúmplices do regime venezuelano.

Houve registros de protestos em outras cidades europeias, como Paris, Copenhague e Edimburgo.

Apoiadores do regime venezuelano também convocaram manifestações. "Vamos às ruas em toda a Venezuela, vamos continuar celebrando a vitória da revolução bolivariana", disse nesta semana o poderoso dirigente chavista Diosdado Cabello.

Desde o anúncio do resultado eleitoral, militantes chavistas se manifestaram quase diariamente nas proximidades do palácio presidencial de Miraflores em apoio a Maduro.

Os Estados Unidos, a União Europeia (UE) e países da América Latina não reconhecem a vitória de Maduro no pleito. Na América do Sul, Brasil e Colômbia lideram os esforços para encontrar uma solução política para a crise. Uma proposta de novas eleições sugerida por Lula e pelo colombiano Gustavo Petro foi descartada tanto pelo chavismo quanto pela oposição.

Com AFP

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