Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Migrantes desistem de voltar à Venezuela após contestada vitória de Nicolás Maduro

Parte da diáspora só tem planos de voltar ao seu país de origem caso o ditador reconheça a derrota e deixe o país

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David Salazar
Madrid (Colômbia) | AFP

Quando Nicolás Maduro foi proclamado vencedor das eleições venezuelanas, José Ochoa começou a preparar suas malas para ir da Colômbia aos Estados Unidos pela selva de Darién. Assim como outros migrantes, a esperança de voltar à Venezuela desapareceu após o pleito.

Ochoa, 38, confiava na vitória da oposição no dia 28 de julho para voltar ao seu estado natal de Carabobo, no centro-norte, quatro anos após deixar o país fugindo da crise econômica venezuelana.

Mas em meio à denúncias de fraude, Maduro foi reeleito para um mandato até 2031.

Homem leva caneca azul à boca; ele usa um boné com a bandeira da Venezuela
José Ochoa, da Venezuela, toma café ao lado de sua mala enquanto se prepara para viajar para os EUA pela selva de Darién - Alejandro Martinez - 6.ago.24/AFP

No dia das eleições, Ochoa conta que ficou "muito chateado". "Não vou dizer que comecei a chorar, mas fiquei com muita raiva porque todos esperávamos que isso mudasse."

"Vou para os Estados Unidos", disse ele em Madrid, cidade próxima a Bogotá, onde morava sozinho em um quarto pequeno. "Não queria fazer isso, mas é uma decisão difícil".

Dias após o pleito, ele já tinha vendido a cama e a bicicleta com que se deslocava para o trabalho em um campo de flores. Tinha preparado uma mochila com roupas para enfrentar a viagem de cerca de 15 dias.

A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, alertou sobre uma "onda de migração sem precedentes" se Maduro continuar na Presidência.

Após a entrevista, a AFP perdeu contato com Ochoa.

Apesar da pressão de organizações multilaterais e de vários países para revelar as atas da votação, a autoridade eleitoral ainda não publicou os resultados, citando um suposto hackeamento do sistema de voto.

Uma vitória do adversário Edmundo González teria motivado Ochoa a voltar para casa e se reunir com seu pai, após a morte da mãe e da irmã durante a sua ausência.

Agora ele enfrentará os perigos de cruzar Darién, selva que divide a Colômbia do Panamá, onde atuam paramilitares e grupos criminosos.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 7 milhões de pessoas fugiram da Venezuela. Destes, 3 milhões chegaram à Colômbia, seu principal destino.

INCERTEZA E IMPOTÊNCIA

Para Ronal Rodríguez, do Observatório da Venezuela da Universidade de Rosário, já há uma nova onda migratória que agravará a situação humanitária em Darién.

Em 2023, mais de meio milhão de migrantes cruzaram essa selva, segundo dados oficiais panamenhos, a maioria deles venezuelanos.

No Brasil, Yajaira Deyanira Resplandor se disse "triste, impotente pelo meu país, pelas pessoas que morreram e pelos que estão presos", afirmou a mulher de 56 anos, que trabalha em uma fábrica têxtil no Rio de Janeiro.

Sete anos depois de chegar com as duas filhas, ela ainda não se adaptou à vida fora da Venezuela e deseja voltar, "desde que o presidente saia".

Segundo o presidente da ONG Venezuela Global, William Clavijo, que apoia a integração dos venezuelanos no Brasil, o resultado da eleição mergulhou os migrantes "em uma situação de grande tristeza".

"Cria-se uma incerteza sobre a possibilidade de retornar, de poder reencontrar o seu país, de voltar a ter uma vida estável, salários dignos", disse Clavijo.

Segundo dados oficiais até junho de 2024, quase 600 mil venezuelanos migraram para o Brasil desde 2017.

Enquanto os governos de Colômbia e Brasil tentam mediar a relação entre Maduro e a oposição para resolver a crise desencadeada após as eleições, os migrantes no sul do continente continuam aguardando.

"Estou aqui com o desejo de que tudo mude lá e eu volte logo", disse, em Montevidéu, Alba Olivero, 70.

Na capital uruguaia, ela não consegue sacar sua aposentadoria, de aproximadamente US$ 25 mensais (R$ 136 na cotação atual), pois o regime venezuelano acabou, em 2015, com o convênio que existia para este fim.

"Assim que o governo Maduro cair, voltarei para ajudar na reconstrução" do país, acrescentou, dizendo que quer "viver e morrer" na Venezuela.

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