Descrição de chapéu The New York Times

Entenda quais são os grupos de extrema direita por trás dos protestos no Reino Unido

Desinformação online após ataque mortal com faca em evento infantil na Inglaterra alimenta violência

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Esther Bintliff Eve Sampson
Londres | The New York Times

Protestos violentos eclodiram em várias cidades do Reino Unido nos últimos dias, e mais violência irrompeu no sábado (4), quando agitadores de extrema direita se reuniram em manifestações por todo o país.

Os protestos têm sido impulsionados por desinformação online e por grupos extremistas de direita com a intenção de criar desordem após um ataque mortal com faca em um evento infantil no noroeste da Inglaterra, disseram especialistas.

O dono do restaurante Luqman Khan limpa escombros da rua em frente ao seu estabelecimento em Middlesbrough, no nordeste da Inglaterra - Yelim Lee/AFP

Diversas facções e indivíduos de extrema direita, incluindo neonazistas, torcedores violentos de futebol e ativistas anti-muçulmanos promoveram e participaram dos distúrbios, que também foram alimentados por influenciadores online.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu enviar mais policiais para reprimir os protestos. "Isso não é um protesto que saiu do controle", disse ele na última quinta-feira (1º). "É um grupo de indivíduos absolutamente determinados à violência."

Veja abaixo o que sabemos sobre os distúrbios e algumas das pessoas envolvidas.

Onde ocorreram os tumultos?

O primeiro tumulto ocorreu na noite da terça-feira (30) em Southport, uma cidade no noroeste da Inglaterra, após um ataque fatal a facadas no dia anterior em uma aula de dança e ioga para crianças. Três meninas morreram devido aos ferimentos, e outras oito crianças e dois adultos ficaram feridos.

O suspeito, Axel Rudakubana, nasceu no Reino Unido, mas nas horas após o ataque, desinformação sobre sua identidade —incluindo a falsa alegação de que ele era um imigrante vivendo ilegalmente no país— se espalhou rapidamente online. Ativistas de extrema direita usaram aplicativos de mensagens, incluindo Telegram e X, para incentivar as pessoas a irem para as ruas.

Mais de 200 pessoas desceram sobre Southport na terça à noite, muitas viajando de trem de outras partes do país, disse a polícia. Nos tumultos, atacaram uma mesquita, feriram mais de 50 policiais e incendiaram veículos.

Na noite de quarta (2), outra manifestação de extrema direita provocou confrontos com a polícia no centro de Londres, resultando em mais de 100 prisões. Pequenos focos de desordem irromperam em Hartlepool, no nordeste da Inglaterra; na cidade de Manchester; e em Aldershot, uma cidade a sudeste de Londres.

Na noite de sexta (2), a polícia de Northumbria disse que seus policiais foram "submetidos a violência séria" enquanto manifestantes atearam fogo e atacaram agentes em Sunderland, uma cidade no nordeste do país.

No sábado (3), ativistas entraram em confronto com a polícia nas cidades do norte de Liverpool, Hull e Nottingham, entre outros lugares.

O presidente do Conselho Nacional de Chefes de Polícia, Gavin Stephens, disse à BBC Radio na sexta que mais policiais estariam nas ruas do Reino Unido e que a polícia usaria lições aprendidas nos tumultos de Londres em 2011.

Quais grupos estão por trás dos distúrbios?

Vários grupos de extrema direita estiveram nos tumultos ou os promoveram nas redes sociais. David Miles, um membro proeminente da Patriotic Alternative, um grupo fascista, compartilhou fotografias de si mesmo em Southport, de acordo com a Hope Not Hate, um grupo de defesa com sede no Reino Unido que pesquisa organizações extremistas.

Outros agitadores de extrema direita espalharam informações sobre o protesto nas redes sociais, incluindo o British Movement, um grupo neonazista. Imagens dos protestos examinadas pela Hope Not Hate mostraram algumas pessoas com tatuagens nazistas.

Após a desordem em Southport, a polícia disse que apoiadores da English Defence League estiveram envolvidos. Os tumultos também atraíram pessoas ligadas à violência no futebol, que há muito se sobrepõe a movimentos nacionalistas no Reino Unido.

O que é a English Defence League?

Criada em 2009, a English Defence League era um movimento de rua de extrema direita conhecido por protestos violentos e uma postura anti-Islã e anti-imigração.

O grupo surgiu em Luton, Inglaterra, onde as tensões comunitárias haviam aumentado depois que um punhado de extremistas islâmicos gritou insultos para soldados britânicos que retornavam do Iraque. Luton já estava associada ao extremismo islâmico, pois era lar de um pequeno número de seguidores do Al Muhajiroun, um grupo extremista implicado nos atentados de Londres em 2005.

Entre os fundadores da English Defence League estava Stephen Yaxley-Lennon, que usa o nome Tommy Robinson. Nascido em Luton, ele foi membro do ultradireitista Partido Nacional Britânico no passado, tinha conexões com a violência no futebol e foi condenado por liderar torcedores em uma briga em Luton em 2010.

Nos primeiros anos do grupo, divisões regionais realizaram manifestações locais, incluindo protestos contra mesquitas, e realizaram ações como colocar cabeças de porco ao redor de locais muçulmanos.

De acordo com Matthew Feldman, especialista em extremismo de direita, o grupo representava uma nova fase na política de extrema direita britânica, porque, ao contrário do National Front ou do British National Party, não disputava eleições.

"Esta é uma política de ação direta, disseminada e coordenada por meio de novas mídias —que vai do Facebook ao celular, do filme digital ao YouTube", escreveu Feldman em um estudo acadêmico de 2011 sobre a English Defence League.

Atualmente, especialistas dizem que a English Defence League evoluiu para uma ideia difusa espalhada principalmente online. Sua postura islamofóbica e xenófoba se tornou um "ideal no qual as pessoas se radicalizam por conta própria", disse Sunder Katwala, diretor da British Future, uma organização sem fins lucrativos que pesquisa atitudes públicas sobre imigração e identidade.

Por que é tão difícil conter a desordem?

Muitos grupos de extrema direita no Reino Unido deliberadamente se afastaram de hierarquias formais e estruturas de liderança, dizem os especialistas.

Joe Mulhall, diretor de pesquisa da Hope Not Hate, chamou o movimento de "pós-organizacional" em uma análise de 2018. As redes sociais e outras tecnologias, ele escreveu, oferecem "novas maneiras para se engajar em ativismo fora dos limites das estruturas tradicionais organizacionais".

Manifestações de rua violentas, parte central da ascensão da English Defence League, muitas vezes servem como ferramenta de recrutamento para grupos extremistas, de acordo com Paul Jackson, professor da Universidade de Northampton especializado na história do radicalismo e extremismo.

A polícia pode ter dificuldade em responder a multidões que podem ser convocadas em questão de horas por meio de aplicativos de mensagens privadas. Segundo Feldman, "a polícia muitas vezes ainda pensa em termos do século 20 —que algo assim pode levar alguns dias para ser organizado; que eles podem pedir uma permissão para uma marcha".

A manifestação em Southport, ele disse, "foi quase um protesto relâmpago".

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