Funcionários que trabalhavam na residência presidencial da Argentina durante a gestão de Alberto Fernández corroboraram ao jornal La Nacion as denúncias de que o ex-presidente agredia fisicamente a então primeira-dama, Fabiola Yáñez, na época em que comandava o país.
Fernández, 65, nega todas as acusações. "A verdade dos fatos é outra", frisou em uma mensagem publicada nas redes sociais na terça (6). Em uma entrevista ao jornalista Horacio Verbitsky concedida na sexta-feira (9) e só parcialmente divulgada, o peronista ainda afirmou que o hematoma que aparece no rosto de Yáñez em uma foto vazada é resultado de um tratamento estético.
A Justiça fez buscas na residência do ex-presidente em Buenos Aires na sexta e apreendeu seu celular. Também impôs medidas restritivas como proibir sua saída do país, segundo fontes judiciais citadas na imprensa argentina.
O relato dos ex-funcionários do governo foi publicado pelo La Nacion neste domingo (11). Ambos eram empregados da Quinta de Olivos, como a residência presidencial é conhecida, quando o ex-presidente vivia lá —um deles era administrador no local e o outro, um militar ainda na ativa.
Segundo os ex-funcionários, na época do incidente que testemunharam, o casal já estava separado, e Yáñez vivia em uma casa de hóspedes a poucos metros da habitação principal.
Um dia, Fernández desceu do helicóptero presidencial e se dirigiu à casa onde Yáñez vivia com o filho do casal. Os funcionários contam ter ouvido gritos e se deparado com Fernández agarrando a ex-mulher pelo cabelo e a segurando pelo braço.
O administrador afirma que se interpôs entre o então presidente e a primeira-dama, separando-os, e levou Fernández para longe dali em um carrinho de golfe até que ele se acalmasse.
Outro ex-empregado de Olivos disse ao La Nacion que não chegou a testemunhar nenhum episódio de violência contra Yáñez na época em que trabalhava no local. Ele, que não quis se identificar, afirmou porém que muitos funcionários e visitantes provavelmente viram-na machucada, uma vez que cerca de 200 pessoas entram e saem da residência por dia.
Yáñez mencionou isso em sua primeira entrevista após o caso vir à tona, publicada neste sábado (10). Ao portal Infobae, ela afirmou que nunca recebeu ajuda, embora "muitas pessoas" soubessem da suposta situação de violência envolvendo o casal na época em que eles moravam na quinta, localizada no município de Vicente López, ao norte de Buenos Aires.
Ela também narrou ter sofrido "assédio telefônico e terrorismo psicológico" da parte do ex-presidente. "Durante dois meses ele me ameaçou dia sim, dia não, dizendo que se eu fizesse isso, se fizesse aquilo, ele se suicidaria."
A ex-primeira-dama atualmente vive com o filho de dois anos em Madri, na Espanha. Ainda ao Infobae, ela disse temer por sua segurança. "Tenho que me resguardar, tenho medo", declarou.
Yáñez apresentou uma denúncia contra Fernández por violência doméstica após virem à tona fotografias em que aparece com marcas de golpes e hematomas em um braço e no rosto.
"Hoje eu não pude sair de casa, puseram inibidores [...] que faziam com que o carro desligasse", afirmou ela ao pedir a investigação na Justiça. O juiz argentino que conduz o caso, Julián Ercolini, pediu que a segurança de Yáñez na capital espanhola fosse reforçada.
O caso provocou repercussão em todo o espectro político argentino, especialmente na oposição peronista, movimento ao qual o ex-presidente pertence.
A ex-presidente e ex-vice de Fernández Cristina Kirchner afirmou no X que seu companheiro de governo "não foi um bom presidente". Ademais, disse que as imagens sobre o caso que vieram à tona revelam "os aspectos mais sórdidos e obscuros da condição humana".
Fernández governou a Argentina entre 2019 e 2023.
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