Descrição de chapéu
Eleições na Venezuela

Maduro obtém vitória com resultado inverossímil

Brasil e Colômbia podem ser determinantes no desenrolar da Venezuela caso reconheçam ou não um novo mandato chavista

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Andrés Cañizalez

Jornalista e doutor em ciência política pela Universidade Simón Bolívar (Caracas)

Depois de um dia que em geral transcorreu de maneira pacífica e com uma participação em massa de eleitores, as eleições presidenciais na Venezuela ficaram marcadas pela suspeita.

Passaram mais de seis horas entre o fechamento das mesas eleitorais e a divulgação dos resultados. Neste tempo, o Conselho Nacional Eleitoral não deu nenhum resultado, nem mesmo uma cifra oficial sobre quantos venezuelanos participaram das eleições. Nenhum relatório de como transcorria o processo.

Nicolás Maduro celebra após ser declarado vencedor das eleições presidenciais na Venezuela
Nicolás Maduro celebra após ser declarado vencedor das eleições presidenciais na Venezuela - Juan Barreto/AFP

Até três meses atrás, Edmundo González Urrutia era um perfeito desconhecido. Avalizado pelo carisma e pela frenética campanha de María Corina Machado, a poucos dias das votações passou a ser o claro favorito, segundo as pesquisas mais confiáveis. Nas horas de espera e diante da falta de resultados, o The Washington Post, por exemplo, recorreu à pesquisa de boca de urna da empresa americana Edison Research, que deu 65% ao ex-embaixador e 31% a Nicolás Maduro. Segundo o comando opositor, esta era a tendência real.

A crescente popularidade de uma figura que passava ao largo do grande público até março passado talvez tenha sido uma variável subestimada pelo chavismo. Mas, neste domingo, González parecia aglutinar o desejo de mudança, que se manifestou de forma maciça nas urnas, com militantes opositores que de forma pacífica compareceram aos centros de votação até mesmo desde a noite anterior, algo nunca visto na Venezuela.

Embora o chavismo não tenha jogado limpo ao longo desta campanha, talvez projetasse um resultado mais favorável, e isso explicaria a decisão política de paralisar a transmissão de resultados dos diferentes pontos do país até a sala de totalização do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em Caracas, cujo acesso também foi negado aos delegados da oposição. Após essa paralisação, a situação se inverteu, e Maduro, de acordo com o órgão eleitoral afim ao governo, obteve 51,2% dos votos frente 44,2% do candidato opositor.

Se nos guiarmos pelos vídeos e fotografias que foram compartilhados de centenas de lugares, por parte dos relatos, estava ocorrendo uma clara derrota do chavismo.

A pergunta que está pairando na Venezuela desde que González começou a avançar muito notavelmente nas pesquisas, e hoje faz mais sentido, é o que fará o chavismo com esse resultado. E, agora especialmente, se ia jogar com fraude, por que deixou as coisas chegarem a este ponto?

Se nos guiarmos apenas pelo discurso oficial, Maduro venceu as eleições sem nenhuma dúvida. Sustentar isso faz parte de uma fraude que começou desde o momento em que foi impedida a inscrição de María Corina Machado, sob uma figura de inabilitação administrativa, o que está em desacordo com a lei. À cadeia de irregularidades soma-se o fato de ter impedido a votação da diáspora venezuelana. Após uma série de requisitos não contemplados legalmente, apenas 1% dos 7,7 milhões de migrantes foram habilitados para votar.

No entanto, o chavismo deu mensagens contraditórias, pois permitiu a candidatura de González, quando se temia que fosse negada, ou mesmo não ilegalizou o registro eleitoral da coalizão opositora Plataforma Unitária Democrática. Esses sinais poderiam ser de uma estratégia diferente, mas estão rodeados de perguntas sem respostas.

Dentro da Venezuela, entretanto, diversas expectativas são tecidas sobre o papel que os dois vizinhos possam desempenhar, países que também são governados por presidentes de esquerda que no passado simpatizaram abertamente com Hugo Chávez e que até este 2024 evitaram questionar publicamente Maduro. Serão determinantes Bogotá e Brasília no desenrolar venezuelano a propósito destas eleições ao reconhecer ou não Maduro para um novo mandato?

E assim ficam a Venezuela e a América Latina em relação a estas eleições. Muitas interrogações, sem que haja um resultado verossímil, com o temor de fraude, ainda que haja frestas de esperança de que algo diferente tenha ocorrido.

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