Milhares de pessoas foram às ruas em toda a França neste sábado (7) para protestar contra a decisão do presidente, Emmanuel Macron, de nomear como primeiro-ministro o conservador Michel Barnier.
O bloco parlamentar de esquerda acusa o chefe do Executivo de roubar as eleições legislativas —a NFP (Nova Frente Popular), que une socialistas, comunistas e ambientalistas, foi a mais votada no pleito legislativo de julho, tendo obtido 182 assentos.
Mas o grupo precisaria de mais 96 cadeiras para ter maioria simples na Assembleia Nacional. Mais importante, enfrentava grande resistência das demais forças políticas para assumir o poder, sobretudo por abrigar o partido ultraesquerdista LFI (França Insubmissa), liderado pelo radical Jean-Luc Mélenchon.
Macron nomeou Barnier, 73, ex-negociador do Brexit da União Europeia, como premiê na quinta (5). Com isso, buscava encerrar sua busca de dois meses por um primeiro-ministro.
Em sua primeira entrevista no cargo, realizada na noite de sexta (6), Barnier disse que seu governo, sem maioria clara, incluiria conservadores, membros do campo de Macron e, ele esperava, alguns parlamentares da esquerda.
Ele tem à sua frente a difícil tarefa de impulsionar reformas e aprovar o orçamento de 2025, projeto cuja discussão no plenário está prevista para o início de outubro. A França está sob pressão da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia (UE), e dos mercados de títulos para reduzir seu déficit.
Ainda corre o risco de ser alvo de uma moção de desconfiança por parte do NFP caso o RN (Reunião Nacional), de ultradireita, decida se unir aos esquerdistas.
Isso não deve acontecer, segundo a legenda conservadora. Mas o líder do RN, Jordan Bardella, alertou que Barnier "é um primeiro-ministro sob vigilância" ao falar ao canal de TV BFM neste sábado. "Nada pode ser feito sem nós", disse ele.
O premiê seguia com as consultas para tentar formar um governo na data.
O instituto de pesquisa Elabe publicou uma pesquisa na sexta indicando que 74% dos franceses consideravam que Macron havia ignorado os resultados das eleições, sendo que 55% diziam que ele as havia roubado.
Em resposta à nomeação de Barnier —cujo partido de centro-direita Les Republicains é o quinto bloco no Parlamento, tendo menos de 50 parlamentares—, líderes de partidos de esquerda, sindicatos e entidades estudantis convocaram protestos em massa no sábado antes de novas ações, incluindo possíveis greves em 1º de outubro.
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