Descrição de chapéu

Edinho Silva: Democratas, uni-vos!

Poder Judiciário ficou exposto ao vexame público

Edinho Silva, em evento em 2016
Edinho Silva, em evento em 2016 - 20.set.16/Reprodução

Os fatos ocorridos no último dia 8 de julho no Brasil demonstram e dão visibilidade ao desmonte da nossa jovem democracia. Fatos gravíssimos que não podem ser minimizados.

Essa constatação não é construção de narrativa oportunista, como podem afirmar setores sectários que cultivam o ódio e a intolerância. É pública a demonstração do mais grave enfraquecimento das nossas instituições desde que a Nova República se caracterizou.

A crise da democracia representativa é fenômeno mais que explicitado no Brasil e nos países democráticos mais tradicionais do planeta. O eleitor, a cada pleito, se mostra mais cético com o modelo de representação. O abismo existente entre o eleito e o eleitor cada vez mais distancia o segundo das urnas, escancarando o desencanto com a política.

Isso só reforça a necessidade urgente das reformas de Estado, entre elas a política/eleitoral, e mudanças no sistema que aproximem e criem, de forma efetiva, o controle da sociedade civil sobre os poderes instituídos.

No Brasil, essa crise tem gerado uma descrença muito grande em relação ao Poder Legislativo e também ao Executivo. O Judiciário, com muito relativismo, ainda se mantinha como o Poder balizador da democracia. De certa forma, ainda se descolava da descrença da sociedade civil no aparelho de Estado.

O último período histórico —não vou relatar aqui os motivos que todos já conhecem— arrastou de forma assustadora o Poder Judiciário para o centro da crise institucional. Ficou exposto —e o dia 8 foi decisivo para tal— ao vexame público, às leituras demolidoras da sociedade civil sobre a frágil isenção e a partidarização do Poder responsável pela arbitragem, pelo equilíbrio, pela sustentação dos pilares da democracia.

Para os que apostam no "quanto pior, melhor", é hora de termos responsabilidade diante do momento que estamos vivenciando. Não faço aqui discurso hipócrita, todos sabem o que penso e o que defendo.

Sou favorável à liberdade de Lula e à sua candidatura e não vou ocupar esse espaço para explicar o óbvio. Mas, independentemente das minhas posições e convicções, trato aqui da necessidade de termos, todas as lideranças, a preocupação com os rumos do nosso país, com o futuro da democracia, posições que possam aglutinar forças em nome da estabilidade institucional, na defesa do Estado democrático de Direito, que é a sustentação dos direitos individuais. Sem eles não há liberdade, não existe sociedade democrática.

Dialogo também com as lideranças empresariais que valorizam as liberdades. Os fundamentos da nossa economia estão sólidos. A nossa dificuldade em retomar o crescimento está na contaminação do ambiente político na economia. Ninguém investe na instabilidade e na incerteza. A democracia forte é fermento para a reprodução do capital.

Chamo à reflexão todos os artistas, intelectuais e formadores de opinião. Dialogo também com os partidos, independentemente de suas posições eleitorais. As disputas fazem parte do jogo democrático, as eleições passam, mas a arena do jogo, a democracia, que é materializada pelas instituições, tem que existir. É hora de pensarmos grande!

Democratas, uni-vos!

Edinho Silva

Ex-ministro da Comunicação Social (2015-2016, governo Dilma) e prefeito, pelo PT, de Araraquara (SP)

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.