Os fatos ocorridos no último dia 8 de julho no Brasil demonstram e dão visibilidade ao desmonte da nossa jovem democracia. Fatos gravíssimos que não podem ser minimizados.
Essa constatação não é construção de narrativa oportunista, como podem afirmar setores sectários que cultivam o ódio e a intolerância. É pública a demonstração do mais grave enfraquecimento das nossas instituições desde que a Nova República se caracterizou.
A crise da democracia representativa é fenômeno mais que explicitado no Brasil e nos países democráticos mais tradicionais do planeta. O eleitor, a cada pleito, se mostra mais cético com o modelo de representação. O abismo existente entre o eleito e o eleitor cada vez mais distancia o segundo das urnas, escancarando o desencanto com a política.
Isso só reforça a necessidade urgente das reformas de Estado, entre elas a política/eleitoral, e mudanças no sistema que aproximem e criem, de forma efetiva, o controle da sociedade civil sobre os poderes instituídos.
No Brasil, essa crise tem gerado uma descrença muito grande em relação ao Poder Legislativo e também ao Executivo. O Judiciário, com muito relativismo, ainda se mantinha como o Poder balizador da democracia. De certa forma, ainda se descolava da descrença da sociedade civil no aparelho de Estado.
O último período histórico —não vou relatar aqui os motivos que todos já conhecem— arrastou de forma assustadora o Poder Judiciário para o centro da crise institucional. Ficou exposto —e o dia 8 foi decisivo para tal— ao vexame público, às leituras demolidoras da sociedade civil sobre a frágil isenção e a partidarização do Poder responsável pela arbitragem, pelo equilíbrio, pela sustentação dos pilares da democracia.
Para os que apostam no "quanto pior, melhor", é hora de termos responsabilidade diante do momento que estamos vivenciando. Não faço aqui discurso hipócrita, todos sabem o que penso e o que defendo.
Sou favorável à liberdade de Lula e à sua candidatura e não vou ocupar esse espaço para explicar o óbvio. Mas, independentemente das minhas posições e convicções, trato aqui da necessidade de termos, todas as lideranças, a preocupação com os rumos do nosso país, com o futuro da democracia, posições que possam aglutinar forças em nome da estabilidade institucional, na defesa do Estado democrático de Direito, que é a sustentação dos direitos individuais. Sem eles não há liberdade, não existe sociedade democrática.
Dialogo também com as lideranças empresariais que valorizam as liberdades. Os fundamentos da nossa economia estão sólidos. A nossa dificuldade em retomar o crescimento está na contaminação do ambiente político na economia. Ninguém investe na instabilidade e na incerteza. A democracia forte é fermento para a reprodução do capital.
Chamo à reflexão todos os artistas, intelectuais e formadores de opinião. Dialogo também com os partidos, independentemente de suas posições eleitorais. As disputas fazem parte do jogo democrático, as eleições passam, mas a arena do jogo, a democracia, que é materializada pelas instituições, tem que existir. É hora de pensarmos grande!
Democratas, uni-vos!
Edinho Silva: Democratas, uni-vos!
Poder Judiciário ficou exposto ao vexame público
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