Dediquei meus primeiros anos de formado ao trabalho com pacientes crônicos, portadores de doenças respiratórias. Fui pneumologista da clínica de cessação do tabagismo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) por quase uma década. Dessa experiência, em contato com dezenas de pacientes todos os dias, algumas constatações tiveram um enorme impacto na minha visão sobre a saúde.
A primeira delas foi que o fato de buscar tratamento, manter-se nele e mudar de hábitos depende de uma escolha do paciente. A equipe de saúde terá resultados, "cases" e bons artigos médicos apenas se for capaz de engajá-lo em seus cuidados próprios, assegurando a qualidade da interação nesse processo.
Também observei que mudar os resultados em saúde de uma população requer ações em pontos nevrálgicos do sistema, incluindo educação, comunicação, legislação, protocolos, tecnologias e pesquisa.
Finalmente, concluí que tudo o que não agrega aos resultados médicos, que não tem eficácia comprovada e que não esteja baseado em evidências científicas é um rotundo desperdício de recursos, como tempo, dinheiro e esperança.
Essas constatações baseiam os objetivos das chamadas três dimensões em saúde: melhorar a saúde da população, aprimorar a experiência com os cuidados assistenciais e reduzir custos. Programas de saúde, novas regulamentações, inclusões de coberturas, adoções de novas tecnologias, concessões de liminares e definições de investimentos: tudo deveria passar por essas três lentes. Elas cabem para quem quer bons resultados, quer seja em gestão privada, pública ou filantrópica.
Hoje, entendo que manter o foco nessas três constatações —o papel do paciente no centro do cuidado; a responsabilidade do gestor de atuar em múltiplas frentes para mudar os desfechos em saúde; e a maturidade de saber descartar o que não é valor— produz lógica simples e robusta, em benefício de todos.
Recaindo em cacoete prescritivo, como médico que sou, recomendo que simplifiquemos todos os debates a esses pontos. A simplificação justifica a nossa missão como profissionais de saúde, alinha objetivos e descarta rótulos. E, para o bem comum, recria a visão do todo para os fundamentos necessários.
De volta aos fundamentos
Tudo o que não agrega aos resultados médicos é rotundo desperdício
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