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Propina olímpica

Suspeita sobre suborno pela Rio-2016 expõe o Brasil a um vexame internacional

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O ex-governador do Rio Sérgio Cabral durante depoimento, em fevereiro - Reprodução TV Globo

Caso assombroso de homem público envolvido numa miríade de esquemas de corrupção, o ex-governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, não desfruta de credibilidade suficiente para que suas palavras possam ser prontamente acatadas como verdadeiras.

Recomenda-se cautela, portanto, diante das declarações que prestou, na quinta-feira (4), ao juiz Marcelo Bretas no processo em que é acusado de ter destinado US$ 2 milhões em propina ao senegalês Lamine Diack, ex-presidente de uma associação internacional de atletismo.

O pagamento visaria facilitar a escolha da capital fluminense como sede da Olimpíada de 2016.

Cabral afirmou que os ex-atletas Alexander Popov, da Rússia, e Sergei Bubka, da Ucrânia, também foram aliciados —e que a iniciativa do suborno partiu de Carlos Arthur Nuzman, então presidente do Comitê Olímpico do Brasil.

Em companhia de Leonardo Gryner, seu braço direito na organização do evento, ele teria sugerido ao governador a conveniência de comprar a simpatia de Lamine para assegurar os votos necessários.

Há dois anos, Nuzman e Gryner chegaram a ser presos pela Polícia Federal na Operação Unfair Play, que apura as supostas propinas. 

Cabral disse ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito Eduardo Paes em diferentes momentos tomaram conhecimento do ocorrido, embora não tenham participado da operação.

Ambos, assim como Nuzman e os ex-atletas internacionais, rechaçaram o depoimento de Cabral.

Não são descartáveis, todavia, os sinais de que a escolha da cidade brasileira tenha sido impulsionada por ações ilícitas. Em 2017 o Ministério Público Federal considerou a prisão de Nuzman e Gryner imprescindível para permitir o bloqueio de patrimônio e impedir que ambos pudessem interferir em eventuais provas.

Logo após a deflagração da operação, Nuzman, por exemplo, retificou sua declaração de Imposto de Renda para registrar 16 barras de 1 kg de ouro guardadas na Suíça.

O dinheiro pago ao senegalês teria sido debitado, segundo a Procuradoria, de recursos destinados pelo empresário Menezes Soares ao então mandatário fluminense.

Ainda que a defesa de Nuzman alegue que corrupção privada não é tipificada como crime no Brasil, o entendimento da acusação é que os recursos foram provenientes de desvios na esfera pública.

O caso, embora se inscreva num contexto mais amplo de escândalos esportivos, deixa o Brasil exposto a um vexame mundial. Que seja apurado com o devido rigor.

editoriais@grupofolha.com.br

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