Descrição de chapéu

Pregação de Maduro

À Folha, ditador constrói fantasias para dissimular as ruínas do chavismo

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante entrevista à Folha em Caracas - Marlene Bergamo/Folhapress

Se nações fracassam, está aí a Venezuela chavista a reforçar a hipótese.

De 2014 para cá, a economia do país encolheu 60%. Se a derrocada continuar, o que é provável, chegará a 2022 reduzida a um terço do que era uma década antes. A inflação anual atinge 10 milhões por cento: os preços dobram ao ritmo das epidemias, a cada 22 dias.

Espalham-se doenças que se julgavam controladas, como a difteria. Nos hospitais, as faltas de energia matam pacientes. Outros, como portadores do HIV, morrem porque não há medicamentos.

Pessoas pobres passam dez horas por dia na fila para obter alimento, e a subnutrição campeia. Meninas trocam sexo por comida, e a gravidez juvenil dispara. Quatro milhões de venezuelanos, quase 15% da população, já fugiram do país, segundo estimativas.

Adversários do regime são detidos às centenas, impedidos de competir nas urnas ou forçados ao exílio. De acordo com Michelle Bachelet, alta comissária para direitos humanos da ONU, nas prisões opositores são submetidos a tortura. Nas ruas, operam esquadrões da morte a mando do governo.

Ao receber a Folha para entrevista, o ditador Nicolás Maduro dispôs-se a enfrentar perguntas incômodas, atitude em si elogiável. Mas as respostas vieram banhadas no cinismo e no falseamento da realidade habituais nos autocratas.

Para Maduro, herdeiro de um regime que completou 20 anos concentrando poder, todas as acusações de violações a direitos civis e às regras democráticas não passam de complô estrangeiro, sob o comando dos EUA, para destruir o legado heroico da “revolução”.

Na visão do sucessor de Hugo Chávez, também é dos gringos, que boicotam os interesses venezuelanos, a culpa pelas privações atravessadas pela população.

A parte lúcida da esquerda sul-americana, que passou a criticar a bizarrice autoritária do chavismo, foi tachada de estúpida e traidora —no Brasil, Maduro há de estar contente com o servilismo do PT.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), que à diferença do dirigente chavista foi eleito num processo legítimo, não seria tão nefasto quanto a oposição venezuelana, provocou o ditador. Deve ser prazeroso para um sádico fazer brincadeiras com quem pode perseguir e neutralizar, como é o caso dos seus adversários internos.

Há pessoas sem trabalho na Venezuela? Nada disso. Vigora o pleno emprego na fantasia de Caracas.

Despotismos se parecem quando têm de enfrentar as consequências da ruína que causaram. Inventam uma matemática revolucionária em que a soma das desgraças resulta em maravilhas que só os convertidos enxergam. Maduro prega para sua banda de fanáticos.

​editoriais@grupofolha.com.br

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