Desde o plebiscito em que decidiram deixar a União Europeia, mais de três anos atrás, os britânicos tiveram três primeiros-ministros e viram sua economia perder vigor.
O eleitorado continua praticamente dividido ao meio, como em 2016. Tanto o futuro imediato quanto os próximos anos continuam incertos, mesmo se finalmente aprovado o acordo do brexit.
Os parlamentares votam neste sábado (19) se aceitam o acordo firmado entre o premiê Boris Johnson e a UE. Em caso de vitória do governo, o Reino Unido romperia de modo algo ordenado com seus parceiros e aliados, em processo que ainda inclui anos de novas negociações comerciais e financeiras, entre outros debates complexos.
Nas múltiplas hipóteses de derrota, nem ao menos se sabe se os britânicos deixariam o bloco europeu sem entendimento, no prazo fixado de 31 de outubro próximo.
Pode ser que o Parlamento rejeite o acordo e ratifique a decisão de postergar outra vez a data de saída da UE, opção contestada por Johnson e que pode provocar outra crise. Existe a alternativa de aprovação do acordo submetida a um referendo popular. Mais difícil, por ora, parece a hipótese de simples aceitação dos termos negociados.
O novo acerto pouco difere do proposto pela ex-primeira-ministra Teresa May e várias vezes rejeitado pelos parlamentares, que na prática acabaria fazendo com que o Reino Unido permanecesse de certo modo, por um bom tempo, integrado ao bloco por meio da fronteira irlandesa.
O novo arranjo fecha um tanto dessa passagem, o que ainda assim não serve para apaziguar irlandeses do norte e conservadores radicalmente adeptos do brexit. Johnson depende de dissidentes conservadores e irlandeses para vencer por vantagem exígua.
A votação ainda imprevisível pode, portanto, levar a uma crise institucional, ou mesmo constitucional; pode suscitar nova votação popular; no limite, pode acabar tanto em desmoralização terminal quanto em uma vitória do premiê, importante e inesperada.
Poucos acreditavam, afinal, que a UE aceitasse renegociar mesmo alterações mínimas do acordo de saída fechado com May.
Em caso de rompimento caótico, o Reino Unido será para o bloco um país estrangeiro já em novembro. Tanto europeus quanto a maioria dos britânicos querem evitar o tumulto econômico.
Ainda que a sensatez prevaleça, serão sentidos por anos os efeitos da promessa demagógica dos conservadores, em 2013, de promover um plebiscito sobre o rompimento. Os britânicos ainda terão de repensar sua identidade econômica, comercial e política em um cenário pós-brexit conflagrado.
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