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Fausto Augusto Junior

É preciso medir e entender as consequências econômicas da Lava Jato

Estudo do Dieese aponta que operação custou ao país 3,6% do PIB

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Fausto Augusto Junior

Sociólogo, é diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)

A Operação Lava Jato já foi considerada a mais eficaz operação de combate à corrupção do país. Investigar, comprovar os crimes e punir os responsáveis era a função. No entanto, ao punir parte dos envolvidos, a operação castigou também as empresas em que eles atuavam, que foram paralisadas, destruindo empregos e causando impactos negativos sobre a economia. Alguns estudos tratam da questão, inclusive um elaborado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), lançado em março de 2021, e parte do livro "Operação Lava Jato: Crime, Devastação Econômica e Perseguição Política" (ed. Expressão Popular).

Desenvolvido com base na matriz insumo-produto e em modelos econométricos, o estudo indica que a Lava Jato custou ao Brasil 3,6% do PIB e até 4,4 milhões de empregos, entre 2014 e 2017, atingindo indústria, construção civil, comércio e serviços, entre outros setores —números tímidos se comparados a outras análises.

É tarefa complexa estimar esse impacto. Considerando apenas a Petrobras, dada a impossibilidade de se utilizar um indicador isolado de endividamento por todo o período, pois haveria perda de consistência estatística, o Dieese optou por variáveis mais abrangentes, como o lucro líquido, que também foi afetado pelas crescentes dívidas da empresa. O aumento do endividamento reduziu o lucro e derrubou investimentos, mas não foi o único fator a incidir sobre os resultados da companhia.

No caso da construção civil, foram utilizadas duas ou mais fontes para identificar as obras paradas e os motivos das interrupções. Uma delas, um relatório do Tribunal de Contas da União, de 2019, mostrava que mais de 14 mil obras estavam paralisadas, com informações sobre locais, valores, períodos e razões para as interrupções.

Sentenças e inquéritos da Lava Jato, disponíveis no site do Ministério Público Federal, também foram guias, além de reportagens da grande imprensa, documentos e decisões judiciais. O Dieese buscou verificar se cada interrupção havia sido motivada pela operação; aquelas que não puderam ser relacionadas à Lava Jato foram desconsideradas. Para evitar dupla contagem, nenhuma obra ligada à Petrobras foi incluída. Sem acordos de leniência no período analisado, empresas da construção civil enfrentaram problemas até para finalizar obras em andamento.

Um aspecto levado em conta no estudo é o papel do Estado e a importância de a Petrobras ser uma empresa pública. O pressuposto é um Estado ativo, que não teria aberto mão da petroleira na recessão de 2015-16. É fato que, a partir de 2015, com a mudança na direção da companhia, a estratégia da petrolífera foi modificada para garantir o lucro acionário, em detrimento de investimentos e desenvolvimento produtivo. A atual política de preços da empresa, que tem causado fortes impactos na vida dos brasileiros, é resultante de decisões daquele período.

O documento produzido pelo Dieese defende o aprimoramento dos instrumentos de combate à corrupção para punir crimes e indivíduos e, ao mesmo tempo, preservar empresas e empregos e evitar que a sociedade pague por delitos que não cometeu.

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