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O que a Folha pensa

O vice de Lula

Aceno a Alckmin tem efeito simbólico, mas alcance ainda está por ser conhecido

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Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva se cumprimentam durante jantar em São Paulo - Ricardo Stuckert/Divulgação

Luiz Inácio Lula da Silva já havia perdido três disputas presidenciais quando, em 2002, decidiu indicar aos eleitores que pretendia deixar radicalismos de lado e governar com ideias e forças políticas mais amplas. Um dos sinais mais importantes foi a escolha do vice na chapa, que recaiu sobre o empresário José Alencar, então no PL.

Lula ensaia um movimento ainda mais vistoso agora, com a articulação para concorrer ao Planalto ao lado do ex-governador de São Paulo e ex-presidenciável Geraldo Alckmin, que apenas outro dia desfiliou-se do PSDB —o partido que, ao longo de duas décadas, fez o papel de arquirrival dos petistas.

Não se imagina que a aliança possa atrair votos direta e decisivamente. Segundo o Datafolha, 70% dos brasileiros aptos a votar afirmam que ela não alteraria a possibilidade votar no candidato do PT, enquanto 16% se dizem mais propensos a essa opção, e 11%, menos.

Alckmin, cabe lembrar, teve desempenho vexatório com sua candidatura nacional em 2018.

O que existe, desde já, é um impacto no campo simbólico, o que está longe de ser desimportante numa eleição —e a de 2022 deveria ser mais profícua do que um embate entre o antibolsonarismo e o antipetismo. Resta muito a saber, porém, sobre o alcance e as ambições do entendimento, que pode incluir mais nomes e partidos.

O Lula que governou o país de 2003 a 2010 mostrou capacidade de diálogo e negociação, além de disposição para enfrentar dogmas ideológicos de seu partido, em particular na área econômica. A qualidade das alianças e a solidez das convicções é que deixavam a desejar.

Refratários a repartir o poder, os petistas apossavam-se dos principais postos e preferiam manter laços meramente fisiológicos com os aliados —e isso quando as relações não descambavam para grandes escândalos de corrupção.

A gestão responsável da economia e a agenda reformista foram sendo gradativamente abrandadas, à medida que o país se aproveitava de um momento global favorável. A imprudência mais tarde se acentuaria e resultaria em desastre recessivo sob Dilma Rousseff.

O discurso raivoso contra críticos e adversários, nunca abandonado, voltou a se intensificar com a derrocada. Apeado do Planalto pelo impeachment, o PT perdeu espaço em administrações estaduais e municipais pelo voto.

Hoje Lula tem a seu favor a enorme rejeição a Jair Bolsonaro (PL), o desgaste da Operação Lava Jato e a memória dos bons resultados obtidos em seus dois mandatos. Pode vir a ser o suficiente para vencer o pleito do próximo ano, mas governar demandará uma composição política e programática acima do oportunismo eleitoral.

editoriais@grupofolha.com.br

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