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O que a Folha pensa Rússia

Impasse perigoso

Disputa entre a Rússia e o Ocidente entra em fase nebulosa, e cresce o risco de um conflito na Ucrânia

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Bandeiras da Rússia e dos Estados Unidos expostas em Moscou - Alexander Nemenov/AFP

Após uma semana de excruciantes negociações, em três diferentes reuniões, Rússia e o Ocidente não se entenderam acerca da crise que fermenta na Ucrânia.

É possível argumentar que este era o objetivo inicial de Vladimir Putin: obrigar os Estados Unidos e seus aliados na aliança militar Otan a sentarem à mesa, respeitando o russo de igual para igual.

Mas isso parece pouco, dada a gravidade da situação de segurança no Leste Europeu, com a volta à tona do conflito iniciado em 2014.

Naquele ano, como já fizera em 2008 na Geórgia, Putin reagiu à ascensão de um governo pró-Ocidente em suas fronteiras "manu militari". Anexou a Crimeia e disparou uma guerra civil que tornou o leste do país vizinho um protetorado de rebeldes pró-Rússia.

Agora, com mais de 100 mil soldados perto da fronteira, Putin força negociações. Ele até colocou seus termos no papel, que refletem sua obsessão geopolítica de restaurar os tampões que o separam de adversários potenciais, como nos tempos da União Soviética.

O Ocidente, claro, não aceitou ter de recuar tropas de países ex-comunistas ou prometer nunca mais expandir o escopo da Otan. O impasse, assim, está colocado.

Putin é conhecido por nunca antecipar movimentos, mas a nebulosidade à frente é perigosa. Ele pode ou não antever uma guerra, que teria custo altíssimo, humano e econômico, além de arriscar uma confrontação com o Ocidente.

Por outro lado, dificilmente Washington toparia o risco de um conflito nuclear para defender Kiev. A falta de musculatura militar e política de seus aliados europeus poderá servir a Ucrânia de bandeja a Putin, já que ele pode estar disposto a pagar o preço de novas sanções.

Ou então o russo está só blefando, contando que toda a pressão leve o frágil governo ucraniano a capitular ante seus desígnios em novas negociações e, na prática, fique impossibilitado de aderir ao arcabouço de segurança ocidental.

De quebra, ainda pode haver avanços em assuntos laterais colocados nas reuniões da semana passada, como o controle de mísseis na Europa e mecanismos de acompanhamento de manobras militares mais acurados.

Em qualquer cenário, Putin poderá cantar vitória em casa. Mas a incerteza que o impasse reflete, explicitada nos avisos americanos sobre uma invasão iminente, mostra que a ilusão de paz advinda do ocaso soviético era apenas isso.

editoriais@grupofolha.com.br

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