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O que a Folha pensa PIB

Atividade em alta é boa notícia, mas há riscos

Com escalada do gasto público, emprego e da renda alimentam inflação; é preciso sinal de austeridade para conter juros

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Movimentação do comércio na rua 25 de Março, na região central de São Paulo (SP) - Danilo Verpa/Folhapress

Como tem ocorrido desde 2021, a economia brasileira desafia prognósticos de desaceleração. A julgar pelos dados mais recentes, a expansão do PIB pode novamente superar 2,5% neste ano, mesmo diante de incertezas, internas e externas, e dos juros altos vigentes.

O IBC-Br, índice do Banco Central que mede a atividade econômica, apontou aumento de 1,4% de maio para junho —além das expectativas, que rondavam 0,5%.

No trimestre, ante o período correspondente de 2023, o avanço chegou a 2,8%, liderado pelo setor de serviços. Nem mesmo as enchentes no Rio Grande do Sul tiveram impacto material na dinâmica, ao contrário do que se temia.

Impulso decisivo vem da renda do trabalho, que subiu 5,8% acima da inflação no trimestre encerrado em junho, na comparação anual. O emprego formal e informal também mostra vigor, e a taxa de desocupação de 6,9% no período é a menor desde 2014.

Outro vetor é o gasto público em expansão acelerada. Nos últimos 12 meses a despesa federal cresceu 15% acima da inflação, notadamente nas rubricas de Previdência e benefícios sociais, que ampliam a renda disponível.

Em adição a tais influências conjunturais, há elementos estruturais de difícil mensuração. O grande acúmulo de projetos de infraestrutura observado desde a modernização regulatória a partir de 2016 —inclusive com o novo marco do saneamento— indica que há vultosos investimentos contratados para os próximos anos.

É também plausível que a reforma da legislação trabalhista, com redução do contencioso judicial e maior flexibilidade de contratos, já tenha impactado a geração de emprego. Não é simples, porém, comprovar essa conjectura.

O crescimento econômico vem se mostrando sólido e persistente, portanto, mas há fatores de risco que precisam ser levados em conta pelo governo. Um deles é a inflação renitente, que já leva o Banco Central a considerar elevação da taxa Selic mesmo quando a maior parte do mundo parece indicar o movimento oposto.

Salta à vista a descoordenação das políticas monetária e fiscal. Diante da exuberância da demanda interna, o melhor agora seria reduzir despesas e abrir espaço para cortes de juros —combinação ideal jamais aceita pelo PT e pela ala política do Executivo.

Nas próximas semanas, o governo Luiz Inácio Lula da Silva terá a chance de desfazer dúvidas quanto a seu compromisso com as metas fiscais, quando apresentar a proposta de Orçamento para 2025. Um documento crível ajudaria a evitar uma alta dos juros e com isso perenizar o bom momento de ampliação do emprego e da renda.

editoriais@grupofolha.com.br

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