Acusado de propina no FGTS devolve quadro de Di Cavalcanti

"Mulata" do artista brasileiro teria sido comprada com propina da Odebrecht

Fábio Fabrini
Brasília

Acusado de receber propinas da Odebrecht em troca de ajudar a empresa a conseguir investimentos, o ex-membro do Conselho Curador do FI-FGTS (Fundo de Investimentos do FGTS) André Luiz de Souza prometeu nesta quarta (7) entregar ao poder público uma das mulatas pintadas por Di Cavalcanti.

Em audiência na Justiça Federal em Brasília, ele se comprometeu nesta quarta-feira (7) a entregar o quadro – que lhe custou US$ 216 mil no exterior (R$ 701 mil) – nos próximos dias à Caixa Econômica Federal, gestora dos recursos do fundo.

Uma das possibilidades é destiná-lo ao Centro Cultural do Itamaraty ou a alguma unidade semelhante, indicada pelo banco em São Paulo. "Gostaria que ficasse com uma entidade que pudesse dar um uso dele. Ficar na área de penhor da Caixa é meio desastroso para uma obra de arte", requereu Souza.

Ele deu instruções sobre como cuidar da tela, pintada a óleo. "Periodicamente, faço uma hidratação", orientou, acrescentando que não se deve acondicioná-la em ambientes quentes.

A entrega se deve à suspeita de que o quadro foi adquirido com receita de crimes. Souza foi denunciado e responde a ação penal por, supostamente, receber para si e para terceiros R$ 27,5 milhões e mais US$ 8,3 milhões (R$ 26,9 milhões) da Odebrecht. Em contrapartida, teria facilitado investimentos do FI-FGTS e de carteiras administradas no grupo. Delatores da empresa confirmaram as acusações em depoimentos.

Conforme o MPF (Ministério Público Federal), o Di Cavalcanti foi pago pela própria Odebrecht, a pedido de Souza, no exterior.

Um dos mais célebres representantes do modernismo brasileiro, o pintor se notabilizou por retratar mulheres nas mais diversas situações.

Nesta quarta, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal no DF, mandou sequestrar os bens de Souza e autorizou o MPF a fazer uma cooperação internacional para trazer ao Brasil a fortuna mantida pelo ex-conselheiro na Suíça, de quase R$ 19 milhões. A defesa dele não se opôs.

A mesma medida foi tomada em relação a Vitor Hugo dos Santos Pinto, ex-servidor da Caixa que foi denunciado por, supostamente, agir em parceria com Souza. Ele é acusado de receber um repasse de US$ 400 mil em 2011. O valor, segundo o MPF, seria uma contrapartida por atuação indevida para assegurar operações financeiras envolvendo as obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Na época, Pinto exercia o cargo de gerente nacional de fundos para o setor imobiliário.

O propósito do MPF é trazer para o Brasil cerca de US$ 4,5 milhões depositados em conta associada a Pinto na Suíça. Os investigadores o denunciaram por receber US$ 400 mil, mas descobriram valor maior atribuído a ele depois disso, por meio de uma investigação da Caixa. Agora, avaliam oferecer nova acusação contra o ex-servidor do banco.

Tanto Pinto quanto Souza têm negado que os recursos depositados no exterior sejam fruto de corrupção.

Consultada pela Folha nesta quarta, na saída da audiência, a defesa do ex-servidor da Caixa não se pronunciou sobre a descoberta de mais recursos em seu nome no exterior. Na audiência, o representante dele disse que seu cliente ainda não foi ouvido pelo MPF para prestar esclarecimentos a respeito.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.