Nos anos 1980, Collor não foi levado a sério ao decidir ser candidato

Então governador de Alagoas decidiu disputar em 1987 em brinde com Renan

São Paulo

De volta à cena presidencial após anunciar que é pré-candidato ao Planalto em 2018, Fernando Collor decidiu ser candidato ao cargo pela primeira vez quando ninguém levava realmente a sério suas chances de ser eleito.

Collor abraça seu vice Moacir de Andrade na cerimônia de transferência do cargo de governador de Alagoas, em 1989
Collor abraça seu vice Moacir de Andrade na cerimônia de transferência do cargo de governador de Alagoas, em 1989 - Juvenal Pereira - 14.mai.1989/Folhapress

Se neste ano suas intenções foram reveladas no interior de Alagoas e depois em discurso no Senado, onde Collor ocupa cadeira pelo PTC de Alagoas, naquele fim de 1987 —a eleição seria em dois anos—  o sonho presidenciável "collorido" foi decidido em uma viagem à China.

Em um restaurante de Pequim, o então jovem governador de Alagoas pelo PMDB (atual MDB) ganhou um brinde erguido por aliados, entre eles o atual senador Renan  Calheiros (MDB-AL), ao "futuro presidente do Brasil". Foram pouco levados a sério pelos chineses presentes.

A ideia tampouco recebeu muita atenção no meio político brasileiro.

À época, o país vivia mergulhado na Constituinte e nomes mais graduados apareciam cotados para a sucessão do impopular peemedebista José Sarney, como Ulysses Guimarães e Mário Covas.

Tal qual hoje, o establishment penava em encontrar seu nome competitivo, e temia os nomes da esquerda que apareciam à frente de pesquisas, como Leonel Brizola (PDT) e Lula (PT).

Pois Collor investiu na famosa imagem de "caçador de marajás", criticando os privilégios do funcionalismo público, atacando duramente Sarney e defendendo uma agenda liberal na economia.

Em uma entrevista à revista "Istoé", em abril de 1989, ao ser perguntado se era de direita ou esquerda, disse: "Sou progressista, tenho uma profunda preocupação social, até porque sou cristão e me orgulho de sê-lo e de praticar a minha religião. Eu me defino como um reformista cristão".

Na mesma entrevista, disse que iria ao segundo turno contra Lula.

Vendendo a imagem que estava modernizando Alagoas e desenvolto no vídeo, o governador caiu nas graças de parte dos meios de comunicação.

No Carnaval de 1989, circulou na Sapucaí fazendo o "V" da vitória --naquele feriado, ganhou uma declaração de apoio do então vereador carioca Jair Bolsonaro.

Enquanto isso, a principal reportagem de política da Folha em um dos dias daquele feriado afirmava: "Articuladores da direita ainda estão à procura de candidato para sucessão".

Após o Carnaval, Collor lançou o manifesto de criação do nanico PRN, sigla pela qual se lançaria candidato, e antecessor de seu atual PTC.

Em um novo livro, Sarney conta que, em meio às articulações da época, Collor chegou a se oferecer para ser vice de Ulysses, o principal nome das manchetes de então. "Cresça e apareça", teria respondido o velho peemedebista.

Com a imagem do "novo", o alagoano foi ganhando espaço progressivamente.

Em 26 de abril de 1989, a Folha publicava rodada da pesquisa Datafolha afirmava que só uma candidatura de Orestes Quércia pelo PMDB evitava Collor na dianteira.

No cenário com Ulysses, o governador de Alagoas era líder, com 17% das intenções de voto. Brizola tinha 15% e Lula, 14%.

Em dezembro de 1989, o "caçador de marajás" se elegeria presidente da República, após segundo turno contra Lula.

Ulysses não chegou a 5% dos votos.

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