Barroso diz que Gilmar tem 'pitadas de psicopatia' e sessão do STF é suspensa

Discussão ocorreu em votação de ação movida pela OAB contra doações ocultas em campanhas eleitorais

 Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes
Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes - Pedro Ladeira/Folhapress
Reynaldo Turollo Jr. Letícia Casado
Brasília

​Seis meses depois de protagonizar uma briga com ofensas no plenário do Supremo Tribunal Federal, os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes tiveram uma nova discussão dura em meio a um julgamento.

Durante a sessão desta quarta (21), Barroso disse que o colega é uma mistura do mal com o atraso, que desmoraliza a corte e sugeriu que Gilmar age por interesses estranhos à Justiça.

Gilmar rebateu, dizendo que Barroso deveria fechar "seu escritório de advocacia". Barroso já foi sócio de um escritório de advocacia, do qual saiu quando assumiu a cadeira no STF. Em carta à presidente da corte, Cármen Lúcia, disse que jamais atuou em processo patrocinado pelo escritório ou seus sócios.

Em outubro de 2017, Barroso acusou Gilmar de ter "parceria com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco". Na ocasião, ouviu de Gilmar que ele, Barroso, foi o responsável por soltar o petista José Dirceu. E também ouviu: "Não sou advogado de bandidos internacionais", em referência ao italiano condenado Cesare Battisti, para quem Barroso advogou antes de virar ministro.

Desta vez, no entanto, Cármen Lúcia interrompeu a discussão e chamou o intervalo. Ela seguiu a "dica" que o vice-presidente do STF, Dias Toffoli, deu para cortar a discussão. Com um movimento de cabeça e com as mãos, Toffoli fez um gesto para Cármen Lúcia interromper o bate-boca.

A discussão ocorreu durante a votação de uma ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil contra doações ocultas em campanhas eleitorais. Gilmar voltou a criticar a proibição de empresas doarem para políticos --assunto que, com frequência, costuma abordar em plenário.

Ele já havia criticado a elaboração da pauta de julgamentos feita por Cármen Lúcia e a retirada da pauta desta quinta (22) das ações que tratam de auxílio-moradia para juízes, sob relatoria de Luiz Fux.

 

Em determinado momento, Gilmar criticou Barroso por ter aprovado na Primeira Turma (composta por cinco ministros), e não no plenário (formado pelos 11), sua tese de que aborto até o terceiro mês de gravidez não é crime. A ação era de relatoria de Barroso e foi votada na turma em novembro de 2016.

"Ah, agora eu vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto, de preferência na turma com dois, com três ministros", disse Gilmar. Foi então que Barroso cortou a fala de Gilmar e disse que ele não tem ideias ou propostas, mas apenas ataca os colegas.

"Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo Vossa Excelência aqui fazer um comício cheio de ofensas, grosserias. Já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim", interrompeu Barroso.

"O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", disse Barroso a Gilmar. "A vida para Vossa Excelência é ofender as pessoas. Qual a sua ideia? Qual sua proposta? Vossa Excelência é uma vergonha, é uma desonra para o tribunal. Vossa Excelência, sozinho, desmoraliza o tribunal. Está sempre atrás de algum interesse que não o da Justiça", continuou.

Ao que Gilmar começou a responder, Cármen Lúcia chamou o intervalo. O ministro não parou de falar. "Eu continuo com a palavra, presidente. Eu vou recomendar ao ministro Barroso que feche seu escritório de advocacia", disse Gilmar.

A sessão foi suspensa em seguida. Os magistrados foram para a sala de lanches, ao lado do plenário. Não ficaram na mesma roda de conversa, mas a situação se acalmou e não discutiram mais quando a sessão foi retomada.

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