Descrição de chapéu Eleições 2018 impeachment

MDB explora era Dilma para defender Temer

Em tratado eleitoral, sigla cita risco de retrocesso, defende reformas e lembra que a petista foi popular até seu legado implodir

Daniela Lima
São Paulo

Com sua gestão rejeitada pela maioria da população, o MDB decidiu desenterrar os esqueletos do governo Dilma Rousseff (PT) no documento em que faz um balanço da presidência de Michel Temer e apresenta suas diretrizes para o debate eleitoral, num aceno à pré-candidatura de Henrique Meirelles.

Intitulada Encontro com o Futuro, a nova carta-compromisso da sigla defende o impopular legado do emedebista e aponta a continuidade de sua agenda como caminho para evitar um retrocesso.

"A opção para os eleitores pode ser radicalmente simplificada: continuar políticas que deram certo e que estão impulsionando a recuperação da economia, ou voltar às que causaram recessão, desemprego, inflação e aumento da pobreza", diz o texto a que a Folha teve acesso.

"Este tem que ser o cerne do debate eleitoral. Quem fugir dele estará claramente procurando enganar a população."

Elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, o Encontro gasta metade das 48 páginas intercalando diagnósticos sobre o cenário pré-impeachment com resultados dos 20 meses de governo Temer.

Presidente Michel Temer durante cerimônia em Brasília.
Presidente Michel Temer durante cerimônia em Brasília. - Ueslei Marcelino /Reuters

Há ainda linhas gerais de propostas para diversas áreas. "Em 2016, no auge da crise econômica, 24,8 milhões de brasileiros estavam vivendo em situação de pobreza extrema, (...) quase 9 milhões de novos pobres, aumento de 53% em comparação com 2014."

Em outro trecho, o partido explora dados negativos no mercado de trabalho. "Em 2015, 1.543.000 brasileiros perderam o emprego e, em 2016, 1.326.000 postos de trabalho foram eliminados."

O MDB admite que não conseguiu reverter o quadro por completo, mas relativiza: "Em 2017, mesmo com o início da retomada da atividade econômica, o saldo ainda permaneceu negativo. Só que, desta vez, por muito pouco: perdemos 21.000 empregos".

O partido de Temer diz que começou a trabalhar em 2016, após o afastamento de Dilma, sobre destroços. A sigla compara o cenário pré-eleitoral de hoje ao que antecedeu o impeachment, quando apresentou o Ponte para o Futuro, um tratado direcionado ao mercado e ao Congresso que selou a ofensiva para apear a petista.

"Nosso dever agora é o mesmo que nos levou a agir a partir do final de 2015 (...). É o de esclarecer, advertir e convencer. É o de lembrar a situação que encontramos (...) e o caminho longo e difícil que ainda temos pela frente".

O novo texto tangencia temas como o combate à corrupção e a altíssima impopularidade de Temer.

Recorrendo novamente à gestão de Dilma, diz que "não podemos nunca nos esquecer que o governo que provocou a crise foi durante quase todo o tempo aprovado pela maioria, e que o que corrigiu aqueles erros, com resultados inequívocos, é reprovado".

Toda a cúpula do partido é alvo de acusações na Justiça, mas o documento não traz mea culpa. Só defende a continuidade das investigações.

O Encontro será apresentado pelo MDB na terça (22). Aliados de Temer dizem que as indicações de que investidores estão inquietos com a imprevisibilidade da eleição deram impulso para o presidente ser pressionado a abandonar o figurino de candidato e abrir caminho a Meirelles.

O texto apresenta a reforma da Previdência e o que chama de reforma do serviço público como medidas imprescindíveis à ampliação de investimentos no combate à pobreza, na saúde e na educação.

Sem cortar privilégios, enfatiza, não será possível gastar mais com o social.

O fracasso das negociações com o Congresso pela aprovação de mudanças nas regras de aposentadoria é colocado, de maneira velada, na conta de Rodrigo Janot e da delação da JBS. "A oportunidade [de aprovar a reforma] se perdeu pelo oportunismo de iniciativas no campo judicial, que desviaram, talvez propositadamente, a atenção."

A continuidade de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, é defendida. Sem eles, diz o texto, "nossos níveis de pobreza e de miséria teriam alcançado escala insuportável". O MDB prega, porém, a integração de todos os benefícios em um cadastro único.

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