Engenheiro é apontado como sucessor de Paulo Preto em fraudes na Dersa

Segundo executivos, Pedro da Silva substituiu suspeito de operar para o PSDB

Mario Cesar Carvalho Thais Bilenky
São Paulo

Preso pela Polícia Federal, o engenheiro Pedro da Silva sucedeu Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, na diretoria de engenharia da Dersa não só nos encargos oficiais. Segundo o que a Folha ouviu de executivos de três empreiteiras, ele também fazia operações ilícitas com empresas contratadas pelo governo paulista.

Silva virou alvo da PF em junho sob suspeita de ter recebido recursos desviados da obra do Rodoanel Norte.

Em círculos do PSDB, ele também é apontado como sucessor de Paulo Preto, mas os políticos dizem que não sabiam do tamanho das irregularidades que ele teria cometido, ainda de acordo com pessoas consultadas pela Folha.

O diretor de engenharia da Dersa, Pedro da Silva, em audiência pública da duplicação da Tamoios
O diretor de engenharia da Dersa, Pedro da Silva, em audiência pública da duplicação da Tamoios - Lucas Lacaz Ruiz - 12.ago.11/Folhapress

Silva ocupou o cargo de diretor de engenharia da estatal de obras rodoviárias entre abril de 2010, quando o tucano José Serra governava o estado, e maio deste ano, na gestão Márcio França (PSB).

Esteve na diretoria que cuida de grandes projetos durante todo o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), agora pré-candidato à Presidência.

Alckmin dizia que havia feito uma operação de limpeza na Dersa ao assumir o governo em 2011, mas os dois executivos mais importantes da empresa durante o seu governo foram presos em 21 de junho pela PF, na Operação Pedra no Caminho: o ex-presidente Laurence Casagrande Lourenço e o ex-diretor Pedro da Silva.

Em decisão de sexta (29), a juíza Maria Isabel do Prado, da 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo, decretou, a pedido do Ministério Público, a prisão preventiva de Casagrande e Silva, isto é, por tempo indeterminado.

Casagrande também foi secretário de Transportes do governo do tucano.

As principais suspeitas da PF recaem sobre Silva. Uma auditoria feita pelos policiais concluiu que ele movimentou cerca de R$ 50 milhões em cinco anos por meio de quatro empresas. Três delas, de acordo com a PF, têm características de serem fantasmas, por não possuírem nenhum empregado ou apenas um.

A suspeita da polícia é que esses recursos tenham sido repassados por empresas contratadas para fazer o Rodoanel Norte, como as construtoras OAS e Mendes Júnior.

A PF não encontrou recursos suspeitos nas contas de Casagrande, mas ele foi preso sob acusação de ter assinado contratos que teriam sido superfaturados. Auditoria do TCU diz que prejuízos com o superfaturamento da obra podem chegar a R$ 600 milhões, o que as empresas refutam. Casagrande nega ter cometido irregularidade.

Silva tinha um estilo bastante diferente do de Paulo Preto, segundo os executivos.

Enquanto Paulo Preto era conhecido por ser arrogante, mandão e exibicionista, seu sucessor privilegiava a discrição e dizia ser sobretudo um técnico. As autoridades suíças dizem ter encontrado contas de Paulo Preto com saldo de 35 milhões de francos suíços --o equivalente a R$ 137 milhões na cotação de sexta (29).

A associação dele com Paulo Preto vem do início do Rodoanel Sul, em 2007. Silva era um técnico da Dersa desde junho de 1997 e foi nomeado gerente dessa obra por Paulo Preto. Foi nesse cargo que Silva começou a fazer acertos com empreiteiras, segundo os executivos ouvidos.

Há outra diferença entre os dois: enquanto Paulo Preto dizia ser próximo do tucano Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil no governo de Serra e atual ministro das Relações Exteriores, Silva não citava políticos nas conversas com empreiteiras.

O nome de Silva apareceu ligado a recursos suspeitos na delação do operador financeiro Adir Assad, que diz ter gerado mais de R$ 300 milhões em caixa dois para empreiteiras em obras como o Rodoanel Sul e a reforma da Marginal Tietê, ambas feitas no governo Serra.

Em delação premiada, Assad contou que entregou dinheiro vivo tanto para Paulo Preto quanto para Silva.

Silva também foi citado em delação da Camargo Corrêa --executivos relataram ter pagado para mudar o traçado do Rodoanel Norte e para manter boas relações com a Dersa.

Obras do trecho norte do Rodoanel, na região da rodovia Fernão Dias (Km 82)
Obras do trecho norte do Rodoanel, na região da rodovia Fernão Dias (Km 82) - Danilo Verpa/Folhapress

A Camargo acabou não participando da obra.

Silva é ainda investigado desde maio sob suspeita de ter subtraído documentos sigilosos da Dersa que ajudaram na defesa de Paulo Preto.

Silva nunca recebeu recursos irregulares, afirma defesa

OUTRO LADO

O advogado de Silva, Cassio Cubero, diz que o cliente nunca recebeu recursos desviados de obras públicas.

"O Pedro atendia a todas as empreiteiras, falava com todo mundo, mas nunca foi operador do PSDB nem arrecadador de recursos ilícitos", afirma.

Cubero diz que os R$ 50 milhões citados pela PF podem estar superestimados e que seu cliente cometeu uma única irregularidade: fez confusão patrimonial entre as empresas e os recursos dele.

"Ele trabalhou com gado, leite, shows, remédios. Fez uma confusão patrimonial enorme, mas não cometeu crimes", afirma o advogado.

A assessoria de Geraldo Alckmin disse o seguinte:

"Não é a primeira vez que o repórter se utiliza de fontes em off para chegar a conclusões que lhe satisfaçam. Os fatos indicados não têm nenhuma relação com a verdade e com as investigações conhecidas, soando difamatórias para o governador. A insinuação feita pelo repórter a respeito da participação de Pedro da Silva 'em atividades paralelas, como arrecadar recursos' não consta do inquérito e é uma maneira transversa de atingir o ex-governador sem citar seu nome. Aos fatos:

1. Pedro da Silva é funcionário de carreira do Dersa desde 1997 e jamais manteve qualquer relação com as campanhas do ex-governador Geraldo Alckmin; 2. O ex-governador jamais manteve com ele qualquer relação; 3. Pedro da Silva assumiu a função de diretor de engenharia em abril de 2010. Portanto, nunca foi promovido na gestão do ex-governador Geraldo Alckmin".

Serra e Aloysio negam envolvimento em irregularidades.

A OAS e a Mendes Júnior não quiseram se manifestar.

A Dersa diz que acompanha as investigações e monitora as delações que citaram o seu ex-diretor de engenharia. Após a prisão de Pedro da Silva e outros executivos, a empresa diz ter instaurado uma sindicância para apurar as suspeitas da PF.

A Folha procurou a defesa de Laurence Casagrande, mas seu advogado, Eduardo Carnelós, não ligou de volta.

 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.