Descrição de chapéu Eleições 2018

Em lançamento de autobiografia, Dirceu culpa Justiça pela crise política

Condenado por corrupção, ex-ministro se diz inocente e comenta momentos de atrito com Lula

Luisa Leite
São Paulo

No evento de lançamento de sua autobiografia, nesta terça (4), o ex-ministro José Dirceu fez críticas ao Judiciário e responsabilizou o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela crise política.

“O Supremo derrubou a cláusula de barreira, instituiu a fidelidade partidária absoluta para o Lula não formar maioria no Senado [quando era presidente] e depois foi liberando”, afirmou.

Para o petista, essas mudanças, somadas ao aumento no tempo de rádio e de televisão e no acesso ao fundo partidário a novos partidos, acabaram por criar "legendas de aluguel", causadoras da crise política. “Isso é de responsabilidade do STF e do TSE.”

José Dirceu lança volume de autobiografia
O ex-ministro José Dirceu durante lançamento do primeiro volume de sua autobiografia, no Rio de Janeiro - Luisa Leite/Folhapress

Condenado em segunda instância por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Dirceu lançou o seu primeiro livro de memórias.

Escrita na prisão, enquanto cumpria pena pela condenação no mensalão, a obra narra sua trajetória política desde a juventude até a cassação do mandato de deputado federal, em 2005.

Após o lançamento, realizado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, Dirceu viajará pelo país para divulgar o livro. "Minha ideia é rever amigos, amigas e, como sempre, fazer política”, afirmou o ex-ministro.

Em conversa com jornalistas, Dirceu disse que é inocente e comentou sobre momentos de atrito com o ex-presidente Lula diante das acusações no mensalão, tema abordado no livro.

“Imagina o choque que foi pra mim, que dediquei toda minha vida ao PT, ter que sair do governo naquelas circunstâncias, entregar meu cargo, ser demitido, sem nenhuma orientação sobre como enfrentar a crise. Eu chorei, chorei mesmo."

Também recaiu sobre o Judiciário a culpa pela postergação da reforma da Previdência. “Junto com Polícia Federal e militares, eles fizeram um grupo de pressão dentro da Câmara”, afirmou.

O ex-ministro fez ainda comentários sobre a situação da candidatura de Lula e o cenário eleitoral. Para ele, tirar “um candidato que ganharia a eleição no primeiro turno” implica jogar o Brasil em uma “meia democracia, uma democracia de brincadeira”.

Dirceu disse apoiar a estratégia do partido em não apresentar Fernando Haddad, hoje vice na chapa do ex-presidente, como o candidato substituto de Lula até todos os recursos serem esgotados na Justiça. “Pesquisas indicam que o candidato do Lula tem boas chances de estar no segundo turno. Mas quem decide em definitivo é o Lula”, disse.

Sobre a proposta de governo do PT, caso o partido consiga eleger seu candidato à Presidência, ele comentou sua afirmação de implantar um “programa radical”.

“Quando falo em radicalização, é fazer uma reforma tributária. Não estou falando da Justiça, da reforma política”, disse.

“Agora, o PT tem que dizer com todas as letras o que fará. Que a gente não cometa o mesmo erro de falar uma coisa e fazer outra”, afirmou, em crítica à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff de 2014.

 
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