Descrição de chapéu Eleições 2018

No Paraná, disputa ao governo tem aliado renegado

Antes disputado por candidatos, Beto Richa agora é evitado e sofre com desgaste político

Ratinho Junior ao lado do ex-aliado Beto Richa, em foto de agosto de 2016
Ratinho Junior ao lado do ex-aliado Beto Richa, em foto de agosto de 2016 - Divulgação - 29.ago.2016
Estelita Hass Carazzai
Curitiba

Quatro anos atrás, aparecer ao lado do então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), era disputado a braço por candidatos. Com boa aprovação, formou uma ampla aliança com 17 partidos, e foi reeleito em primeiro turno, carregado nos braços de correligionários.

Ao seu lado, estavam os dois principais candidatos ao governo do estado neste ano: Ratinho Júnior (PSD), que foi seu secretário de Desenvolvimento Urbano e lhe prometeu “fidelidade canina”, e Cida Borghetti (PP), então vice-governadora e que afirmou recentemente que estariam “juntos em 2018, pelo bem do Paraná”. Mas nenhum deles gosta de lembrar disso. 

“Para mim, ele nunca pediu coisa errada”, disse Ratinho, em entrevista recente. “Cada um tem que responder pelos seus atos”, comentou Cida, sobre as suspeitas contra seu companheiro de palácio.

O tucano, candidato ao Senado, virou o aliado que ninguém quer por perto. Deixou o governo desgastado por um rigoroso ajuste fiscal e por um protesto de professores reprimido pela polícia, com dezenas de feridos. Na semana passada, foi preso temporariamente em uma investigação de desvios em obras do estado, que se seguiu a outras suspeitas contra membros de seu governo.

Solto por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), ele nega as suspeitas, diz que sua prisão foi uma crueldade e mantém a candidatura.

Beto Richa durante cerimônia de posse como governador do Paraná, ao lado da então vice Cida Borghetti, que agora disputa o governo estadual
Beto Richa durante cerimônia de posse como governador do Paraná, ao lado da então vice Cida Borghetti, que agora disputa o governo estadual - Sandro Nascimento/Alep

Mas, na propaganda de Ratinho e Cida, que passaram os últimos anos no governo Richa, não há menção ao ex-governador. Ambos falam em mudança: a ex-vice do tucano e sua atual companheira de chapa chega a elogiar “o corajoso ajuste fiscal” e promete “fazer mais”, mas o candidato do PSD partiu para o ataque “às obras prometidas pelo último governador e que ficaram no papel”.

“Não tem lógica nem justiça nisso. É pura estratégia eleitoral”, afirmou à Folha o cientista político Emerson Cervi, da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Em sua avaliação, Richa acabou se tornando “uma figura secundária” nas eleições deste ano. Demorou para declarar apoio a algum candidato, e se neutralizou durante as articulações. Acabou isolado, e mesmo a aliança com Cida foi costurada a contragosto.

Ao justificar seu posicionamento recente, Ratinho disse que a crítica “não é contra um governo; é contra o modelo de gestão pública”, e afirmou “não ter compromisso com ninguém”. “Todo mundo tem o direito de defesa; eu não sou juiz para julgar. Mas, se fez bobagem, que seja julgado e vá para a cadeia”, declarou.

A atual governadora, por sua vez, que está coligada com o PSDB, pediu a exclusão da candidatura do tucano ao Senado, dizendo que ele precisa se dedicar à sua defesa. “Os fatos noticiados agora exigiram uma decisão firme, que não me furtei a tomar”, afirmou à Folha.

A decisão desintegrou o grupo ao redor de Richa. Dos oito partidos da coligação, apenas dois votaram contra a exclusão de sua candidatura –embora a decisão não tenha previsão legal, e dificilmente vingue na Justiça.

Ao retomar a campanha depois da prisão, que afirmou ser “um ato de violência com claro viés político”, o ex-governador declarou que “é nessas horas que se conhecem os verdadeiros amigos”.

Richa defende seu legado. Na terça (18), organizou um ato com cerca de cem pessoas, a maioria de prefeitos e ex-prefeitos, que manifestaram solidariedade ao tucano.

“Nunca houve um governo que investisse tantos recursos nos municípios. Sou muito grato”, discursou o prefeito Amin Hannouche (PSDB), de Cornélio Procópio. “Se hoje o Paraná cresce, é por causa deste homem”, afirmou Marcio Wozniack (PSDB), prefeito de Fazenda Rio Grande.

“Não chora, porque tudo o que temos hoje é por causa de ti”, declarou o prefeito Rineu Menoncin (PP), de Matelândia.

Para Cervi, é neste público que Richa deve centrar esforços para tentar garantir uma vaga de senador: o eleitorado de cidades pequenas, que se beneficiaram de obras do governo. O tucano aparecia em segundo lugar nas pesquisas antes da prisão.

A operação que o prendeu teve efeitos por todo o espectro partidário: além de desintegrar o grupo político do ex-governador, atingiu o terceiro colocado na disputa pelo governo, João Arruda (PMDB), que viu seu sogro, o empresário Joel Malucelli, ser preso sob suspeita de participar de fraudes à licitação (ele afirma não ter relação política com Malucelli).

Por isso, a duas semanas da eleição, o assunto virou uma batata-quente: todo mundo tenta jogá-lo no colo de alguém.

“Pode bagunçar todo o xadrez político do Paraná”, analisa Murilo Hidalgo, presidente do instituto Paraná Pesquisas. Mas não se sabe ainda se os efeitos serão vistos a curto ou médio prazo. A prova dos nove, segundo ele, aparecerá nas urnas.

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