Com a relevância global das eleições brasileiras e a polarização das opiniões em torno delas, o influente centro de estudos americano Atlantic Council decidiu enviar um time de pesquisadores ao país para acompanhar a circulação de notícias falsas e entender que impacto elas podem ter nas urnas.
Esse será o primeiro pleito brasileiro desde que o fenômeno das notícias falsas —conhecido como "fake news"— passou a ser enxergado no resto do mundo como uma possível ameaça a eleições.
Campanhas de desinformação influenciaram os debates políticos na União Europeia, por exemplo, e as eleições americanas de 2016.
O laboratório digital do Atlantic Council e seu Centro Adrienne Arsht para a América Latina já monitoraram os disputados pleitos da Colômbia e do México, em um projeto que chega agora ao Brasil.
O primeiro passo será, em parceria com grupos locais, treinar jornalistas, membros da sociedade civil e monitores para identificar e entender as notícias falsas. Por exemplo, investigando se uma determinada imagem foi adulterada digitalmente e detectando os grupos que podem amplificar certas mensagens políticas.
No primeiro turno, um pesquisador local ligado ao Atlantic Council vai acompanhar in loco o voto e as campanhas de desinformação.
Já no segundo, em 28 de outubro, o centro de pesquisas deve enviar o seu próprio time para o trabalho, como fez, por exemplo, no México. Essa tarefa será realizada em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas).
"Já existem organizações locais fazendo esse monitoramento, mas queremos contribuir com a perspectiva global da nossa organização, levando o esforço um passo à frente para informar, explicar e expor casos", declarou à Folha Roberta Braga, diretora-associada do Centro para a América Latina do Atlantic Council.
O plano é desnudar as estratégias de quem está disseminando as fake news e campanhas de desinformação, mostrando, por exemplo, que casos são falsos, de onde vieram, quem os amplificou, quem foi afetado e de que maneira.
Os resultados da pesquisa devem ser publicados na página da entidade e encaminhados à imprensa local.
No México, em julho, o Atlantic Council identificou um padrão específico: o uso de bots, nome dado às contas automatizadas que disseminam informações em redes sociais.
Segundo o centro de pesquisa, um grupo de jovens brasileiros estava envolvido no esquema, comprando e vendendo "likes" e "shares" (quando você curte uma publicação no Facebook e a compartilha, por exemplo, contribuindo para a sua popularidade).
Já na Colômbia, que também teve pleito neste ano, o cenário era outro: as "fake news" eram distribuídas pela própria população.
Por ora, diz Braga, o Brasil parece misturar ambas as opções --robôs e humanos polarizados.
Segundo a diretora-associada, é cedo para cravar se algum partido político específico está recorrendo a esse tipo de estratégia de maneira especial.
Correntes de direita e de esquerda podem usar a desinformação de maneiras distintas, com seus próprios objetivos.
Além do Atlantic Council, com sua experiência internacional, as eleições brasileiras serão acompanhadas por diversas entidades locais. A presença de fake news, pois, já instigou a criação de projetos específicos de checagem de informação.
A Folha, por exemplo, recebe notícias pelo aplicativo de celular WhatsApp e confere as informações compartilhadas na internet.
Se o resultado das eleições for comprovadamente influenciado pelas notícias falsas, o pleito pode ser inclusive anulado, afirmou em junho passado o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Fux.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.