Os resultados das eleições de 2018 sugerem que as estruturas do sistema político e partidário que operavam desde a redemocratização foram fortemente abaladas.
Os dois partidos que eram protagonistas, PT e PSDB, e que se alternaram no poder desde as eleições de 1994 saíram das urnas extremamente enfraquecidos.
O nome desse cometa é Jair Bolsonaro que preencheu, como nenhum outro candidato, o vazio deixado pelo escândalo do Petrolão e pelas investigações da Lava Jato.
A estratégia eleitoral do capitão reformado, de combate à corrupção e contra “tudo que está aí”, quase conseguiu elegê-lo Presidente da República no primeiro turno.
De passagem, alavancou candidatos em disputas majoritárias (governador e senador) que se identificaram com a sua candidatura na maioria dos principais colégios eleitorais do país, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Políticos tradicionais de vários partidos foram punidos pelas urnas (Eduardo Suplicy, Cristovam Buarque, Dilma Rousseff, Roberto Requião, Edison Lobão, Lindemberg Farias etc.), e os resultados sugerem uma expressiva renovação para os executivos subnacionais e para o Senado, que deve consolidar um Legislativo com perfil mais conservador.
Fica claro que o PSDB foi o grande derrotado. Não foi ao segundo turno das eleições presidenciais e, em vários dos estados, tem disputas muito acirradas —é o caso em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Embora o PT tenha conseguido emplacar seu candidato para o segundo turno, as condições políticas e eleitorais de reversão são baixas.
A nota positiva para o PT foi a manutenção de vários estados no Nordeste (Bahia, Piauí e Ceará), o que sugere que o partido tem chances de continuar vivo.
Em que pese a grande diferença de votos a favor de Bolsonaro, a disputa de um segundo turno com Fernando Haddad tende a levar os dois polos políticos à moderação de suas respectivas narrativas e agendas.
Buscar apoios de forças políticas e eleitores de centro, que ficaram órfãos nesse segundo turno, vai forçar os dois candidatos polares a construir compromissos em busca de maiorias legislativas de um potencial governo de coalizão, para que o novo presidente tenha condições de governar.
O segundo turno, portanto, proporcionará uma grande oportunidade para que os candidatos diminuam tendências a implementar perfis unilaterais e monopolistas de governabilidade, o que levaria o futuro presidente a ignorar as rotinas e procedimentos legislativos típicos do nosso presidencialismo consensualista de coalizão.
A governabilidade futura de um governo Haddad está comprometida em função dos resultados preliminares no Senado e na Câmara dos Deputados.
Já Jair Bolsonaro terá condições mais favoráveis de governar se decidir construir e gerir uma coalizão respeitando a preferência mediana do Congresso que emergir das urnas. Isso porque terá mais facilidade de desfrutar de maioria legislativa.
Entretanto terá que vencer as “tentações” hegemônicas do seu perfil unilateral e decidir governar com o Congresso, em vez de desenvolver canais diretos de comunicação com os eleitores, ignorando o Legislativo, como fizeram Jânio Quadros e Collor.
Carlos Pereira é professor titular FGV/Ebape
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