Descrição de chapéu Eleições 2018

Brasil terá um capitão na Presidência pela primeira vez

Outro ineditismo é vitória de candidato que sofreu atentado na campanha

São Paulo

Jair Messias Bolsonaro, 63, será a 42ª pessoa a assumir a Presidência desde a Proclamação da República, em 1889. 

O deputado federal pelo PSL (Partido Social Liberal) será ainda o 16º militar a ocupar o cargo, contabilidade que inclui as duas juntas provisórias que comandaram o país por períodos curtos. 

A primeira junta, de 1930, teve dois generais e um almirante. A segunda, de 1969, foi formada por um general, um almirante e um brigadeiro. 

Portanto, entre todos aqueles que estiveram no mais alto posto da República brasileira, 38% eram militares. 

Em meio aos nomes das Forças Armadas que ocuparam a Presidência, a eleição de Bolsonaro representa um fato inédito. É o primeiro capitão reformado a ocupar o cargo.

Desde o marechal Deodoro da Fonseca, em 1889, eram todos oficiais de alta patente, como generais, almirantes e brigadeiros. No Exército, capitão é uma patente de oficial intermediário. 

Em 1988, Bolsonaro se afastou das atividades militares e foi para a reserva —não é considerado um ex-militar. Neste mesmo ano, ele foi eleito vereador no Rio de Janeiro.

O historiador Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor de "Ditadura e Democracia no Brasil", recorda-se de um outro capitão que se notabilizou na história da política brasileira. 

Curiosamente, é Luís Carlos Prestes, um dos expoentes, ao longo do século 20, da esquerda brasileira, ideologia enfaticamente criticada por Bolsonaro.

Prestes, no entanto, jamais se candidatou à Presidência. Depois do fim do Estado Novo, foi eleito senador pelo PCB (Partido Comunista do Brasil), cargo que exerceu entre 1946 e 1948. 

A chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto representa outros ineditismos.

O deputado federal é o primeiro presidente eleito a ter sofrido um atentado ao longo da campanha. No último dia 6 de setembro, ele levou uma facada durante um ato em Juiz de Fora (MG). 

Há 103 anos, em setembro de 1915, um atentado chocou o país. O senador gaúcho Pinheiro Machado foi assassinado com uma punhalada pelas costas em um hotel luxuoso no Rio. Embora muito influente, o político não era candidato à Presidência da República. 

De acordo com Heloisa Starling, professora de história da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o atentado favoreceu a candidatura de Bolsonaro. "Ele saiu de cena [deixou a campanha nas ruas], mas manteve grande visibilidade na mídia. Além disso, usou o fato para não participar dos debates agendados para as semanas seguintes", diz a professora, co-autora de "Brasil: uma Biografia". 

Segundo Starling, o capitão reformado traz consigo outra marca inédita: é o primeiro nome da extrema direita a alcançar o cargo máximo do país.

"Jânio Quadros [janeiro a agosto de 1961] e Fernando Collor [1990-1992] eram profundamente conservadores, mas é uma injustiça compará-los ao Bolsonaro. Nenhum deles incitava a violência, a intolerância", afirma ela. 

Estão de acordo com Starling historiadores como Aarão Reis e Claudia Viscardi, professora de história da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

"Os políticos brasileiros sempre tiveram uma tradição de moderação. Depois da proclamação da República, nunca houve um candidato à Presidência que se apresentasse à população de modo tão extremado", diz o professor Aarão Reis. 

O historiador Jorge Caldeira, por outro lado, prefere não estabelecer gradações no espectro da direita. "O mandato de Bolsonaro é que vai dizer se ele é, de fato, um político de extrema direita", afirma. 

Autor de "101 Brasileiros que fizeram História" e "História da Riqueza no Brasil", Caldeira lembra que o deputado do PSL é apenas o quarto presidente a ser eleito no Brasil sem o incentivo do mandatário em exercício. O presidente Michel Temer não apoiou Jair Bolsonaro.

Antes dele, só conseguiram essa proeza Jânio Quadros, em 1961, Fernando Collor de Mello, em 1989, e Luiz Inácio Lula da Silva, em sua primeira vitória, em 2002. 

Depois de um século, paulista vai passar o cargo para outro.

A posse de Jair Bolsonaro em Brasília em janeiro de 2019 terá uma curiosidade que não se vê há mais um século.

Um paulista passará a faixa presidencial para outro. O atual mandatário, Michel Temer, nasceu na cidade de Tietê, no interior paulista, e Bolsonaro em Glicério, município com apenas 4.800 habitantes, a cerca de 450 km da capital.

Essa transição entre paulistas ocorreu pela última vez em 1902, quando Campos Sales, natural de Campinas, passou o cargo para Rodrigues Alves, nascido em Guaratinguetá.

Depois da infância e da adolescência em cidades paulistas, Bolsonaro fez carreira política no Rio. Elegeu-se deputado federal pelo estado por sete mandatos. 

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