Descrição de chapéu Eleições 2018 Debates

Com regra inovadora, debate Folha, UOL e SBT de vices tem como alvo o PT

Para Manuela D'Ávila, Kátia Abreu e Ana Amélia, 'banco de tempo' traz dinamismo e possibilita aprofundar temas

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

O banco de tempo, novidade no debate promovido nesta terça (2), por Folha, UOL e SBT, com candidatas a vice-presidente, deu mais dinamismo e profundidade às discussões dos temas, avaliaram as participantes Manuela D’Ávila (PC do B), vice de Fernando Haddad (PT), Kátia Abreu (PDT), companheira de chapa de Ciro Gomes, e Ana Amélia (PP), vice de Geraldo Alckmin (PSDB).  O PT foi o alvo do encontro. 

Nesse tipo de formato, tradicional na França, cada candidato começa com um saldo de minutos para falar, que vai sendo descontado ao longo do programa até chegar a zero –como em jogos oficiais de xadrez, por exemplo.

Debate Folha, UOL, SBT com candidatas a vice
Debate Folha, UOL, SBT com candidatas a vice-presidente - Roberto Dias/Folhapress

Na ausência do general Antonio Hamilton Mourão (PRTB), vice do candidato mais bem posicionado nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), foi Haddad quem mais apanhou.

Restou a Manuela defender o titular de sua chapa de ataques desferidos pelas adversárias, ali para representar candidatos que sonham em tirar do petista uma vaga no segundo turno. Outra falta masculina: Eduardo Jorge (PV), companheiro de chapa de Marina Silva, que, como Mourão, preteriu o convite.

Quando estourou seu tempo, a pedetista brincou que alguém teria que ceder um pouco de tempo a ela. A comunista revidou: “Vai para o SPC, Kátia”. Um dos bordões de Ciro nestas eleições é prometer limpar o nome de mais de 60 milhões de brasileiros na praça crediária. ​ ​

 

PT sob fogo

Uma das bordoadas mais fortes partiu de Kátia, amiga de Dilma Rousseff (PT) e crítica a seu impeachment, que chama de golpe. Nada que a tenha impedido de alvejar Haddad, que em sua opinião ainda precisa se graduar na política se deseja um dia ser presidente do Brasil.

Mal avaliado enquanto prefeito de São Paulo, o petista deve “terminar o ensino médio” antes de sonhar com voos mais altos. Ele “já está querendo ir para o ensino superior”, mas precisa “repetir de ano para depois pegar a Presidência”, disse a senadora. “Acho que o PT está brincando na beira do abismo.”

Manuela saiu em defesa do seu aliado, dizendo que, “se perder eleição for critério para não governar, nenhuma de nós estaria aqui”. Se Haddad de fato perdeu a reeleição, e no primeiro turno, para João Doria em 2016, também Alckmin e Ciro já tiveram suas derrotas eleitorais.

Kátia rebateu: “Não é um caso de perder ou ganhar, só estou registrando: Haddad poderia ter a melhor das intenções, mas não conseguiu ser um bom prefeito”.

Ana Amélia também caiu em cima do PT, partido que passou anos polarizando com o PSDB de Alckmin. Quando Manuela criticou a aliança que o tucano fechou com o centrão neste ano, a pepista revidou: “O mesmo centrão que apoiou Lula e Dilma, e na época serviu”.

 

#EleNão

As manifestações convocadas por mulheres contra e a favor de Bolsonaro, batizadas de #EleNão e #EleSim, concidiram com a pesquisa do Ibope que deu ao capitão reformado a liderança isolada nesta eleição, pulando de 27% para 31%, enquanto Haddad não foi além dos 21% que já tinha em levantamento anterior e viu sua rejeição galopar de 27% para 38% (a de Bolsonaro é alta, 44%, mas estagnou).

Para Manuela, o retrato do momento não foi capturado pela sondagem. “As ruas nos mostraram que há possibilidade de uma saída democrática”, disse a candidata, que destacou as turbas (mais numerosas) que marcharam contra o presidenciável do PSL, “que trata homens e mulheres diferentes, negros e brancos diferentes”.

Ana Amélia foi questionada se o antipetismo sempre presente em seus discursos a levaria a cogitar um apoio a Bolsonaro no segundo turno. Em abril de 2018, por exemplo, ela bateu boca com a colega de Senado Gleisi Hoffmann (PT), que teria violado a Lei de Segurança Nacional ao dar uma entrevista à rede de TV Al Jazeera —para ela, associada ao Estado Islâmico.

A senadora pepista não negou nem confirmou um endosso a Bolsonaro, preferindo o discurso de praxe para candidatos muito atrás nas pesquisas, de que a eleição é “uma caixinha de surpresa” e que Alckmin tem, sim, chances de passar do primeiro turno.

Kátia foi pela mesma narrativa ao dizer que Ciro vence tanto Bolsonaro quanto Haddad no segundo turno, um mantra que o pedetista vem adotando para convencer o eleitorado que desgosta das duas opções a votar nele nesta reta final das eleições.

Por um lado, disse Kátia, temos o capitão reformado, um sujeito que “já disse que as mães não devem amar seus filhos que são homossexuais, que um filho seu namorar negra seria promiscuidade, que fraquejou e teve filha mulher”. Por outro, “lembranças ruins da denúncia de corrupção” vão persistir e prejudicar os petistas, e mesmo se o partido ganhar o pleito. “O PT precisa aprender que às vezes a gente ganha, mas não leva.”

Lava Jato

Ana Amélia disse temer “pelo futuro” da operação que investiga e já condenou e prendeu políticos de vários partidos, de PT a PSDB (e o dela, o PP, inclusive, um dos mais afetados).

Manuela repetiu o corolário petista de dizer que nunca antes na história deste país um governo (os de Lula e Dilma, no caso) criou tantos mecanismos de combate à corrupção, enquanto outros preferem jogar investigações “para debaixo do tapete”.

“Não há brasileiro hoje que não perceba a motivação política do juiz Sergio Moro”, disse um dia após o magistrado levantar o sigilo da delação de Antonio Palocci, com alto potencial de atingir o PT.

Para Ana Amélia, a oponente só confirmou como a Lava Jato está a perigo, pois defende que Moro age politicamente no processo. O que garante, então, que o PT não dificultaria sua vida se Haddad vencesse? Kátia prospectou um cenário difícil para petistas: “Curitiba não vai dar paz ao PT”.

Impeachment

Com ela de vice, Ciro poderá dormir tranquilo, respondeu Kátia a uma pergunta que considerou “surreal”: se renunciaria em solidariedade ao titular caso ele sofresse um impeachment, ao contrário do que Michel Temer fez com Dilma em 2016.

“Só posso garantir uma coisa, o vice tem papel super importante no que diz respeito à confiança e segurança para um presidente trabalhar. [...] E se eu fosse vice de Dilma, ela não teria sofrido impeachment, isso eu garanto. Jamais moveria um dedo para trabalhar pelo impeachment do presidente.”

“Achei a piada, a pergunta, engraçadíssima”, disse Manuela, que aproveitou a deixa para fustigar Temer. Ao maquinar pela derrocada de Dilma, o emedebista, segundo ela, criou o “ambiente de ódio” no qual o país hoje está atolado.

Política externa

As candidatas foram questionadas sobre como lidar com o governo americano, isso um dia depois de Donald Trump acusar o Brasil de ser um dos países mais difíceis para se manter relações comerciais, uma nação que trataria empresas americanas injustamente.

O país sob guarda de Michel Temer (MDB) amargou um “rebaixamento internacional”, segundo Manuela, que propôs um “resgate do protagonismo” que o Brasil já teve no governo Lula petista.

Para Ana Amélia, se a diplomacia brasileira foi ladeira abaixo, a culpa é justamente das gestões petistas, que escolheram aliados como Cuba, Venezuela e Bolívia, o que “acabou apequenando o protagonismo do Brasil” na política externa.

Já Kátia aproveitou a deixa para comparar Trump, “um falastrão”, alguém que “faz um papel rídículo”, a Bolsonaro, que seria dono de discurso igualmente isolacionista. Segundo a pedetista, o titular de sua chapa “não baterá continência à bandeira americana”.

Previdência

Kátia defendeu que quatro categorias tenham tratamento diferenciado na reforma da Previdência: mulheres, policiais, trabalhadores rurais e professores. Mulheres, por exemplo, acumulam o trabalho fora de casa com tarefas domésticas, então seria injusto cobrar delas um tempo de colaboração igual ao de outras fatias da população.

Manuela sugeriu: em vez de falar sobre mudanças na lei previdenciária, por que não discutir o mercado informal de trabalho? Para a candidata, é a informalidade nas relações trabalhistas que “agravou o déficit da Previdência”. E como “uma das nossas obsessões é a geração de empregos”, assim o desequilíbrio nas contas do governo seria atenuado.

Ana Amélia pediu mais responsabilidade com os gastos da União. Se não mexer na Previdência agora, disse a pepista, vai faltar dinheiro para a aposentadoria das futuras gerações. Logo, a reforma previdenciária seria, sim, vital para o país.

O debate

As candidatas puderam administrar o tempo como bem entenderam. Ou seja, em vez de terem um minuto cravado para responder a pergunta x, possuíam, cada uma, 22 minutos para falar num debate que durou cerca de uma hora e meia, somando as perguntas feitas entre elas e por jornalistas (estas não eram debitadas do banco de tempo). Decidiam, portanto, em que tema preferiam ser mais econômicas ou se alongar.

Segundo Manuela, "foi interessante poder abordar alguns temas com mais tempo do que outros".

"Facilita porque tem temas que a gente pode abordar mais, que o programa tem uma relação maior. Outros são temas que podem ser passados de forma mais veloz", declarou.

Kátia disse que ninguém "dava fé" para o vice e que o formato permite que cada um fale como quer o que acha mais importante em determinadas áreas. "Às vezes eu quero falar mais de educação, mais de saúde, de violência contra a mulher e economizo em outras falas, então eu acho muito interessante. Eu gostei muito." 

Para Ana Amélia, o formato é "muito dinâmico". "Claro que na reta final da campanha você entra mais numa confrontação de ideias tentando expor as incoerências e as contradições dos candidatos e das candidaturas."

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